A Esquizofrenia em mim e seus duplos sentidos
Por Alessandra Machado Perna
Acadêmica de jornalismo de CEULP/ULBRA. Usuária do CAPS de Palmas – TO.
Foto: Duane Michals
Sou esquizofrênica.
Trago em mim marcas que sinalizam duplos sentidos: vejo o que quero e não quero ver; sinto o que não posso controlar. Tenho um olfato aguçadíssimo e sentimentos à flor da pele. Nessa onda de percepções, procuro dar outro sentido para o mundo e para as pessoas que me cercam.
Quase sempre não sou bem interpretada, talvez pelo fato de as pessoas não terem conhecimento ou não saberem sobre a minha “diferença”. Acredito sempre que elas têm pensamentos prepotentes o que me fazem sentir inferior. Me excluem das relações sociais.
Acredito em Deus, tenho fé na matéria, mas acredito na imortalidade da alma em crenças diversas. Procuro o ecumenismo às vezes para me sentir melhor, para escrever… tenho procurado inspiração.
Não sou orgulhosa, mas tenho orgulho próprio, que são duas coisas distintas, pois ser diferente é ser bacana, é procurar harmonia, é ser invejada… mas, sou pisada pela inferioridade da raça humana.
Não me importo com os rótulos, nem com discriminação.
Tenho autoestima, embora já tenham tentado me destruir em todos os campos da minha vida.
Confesso ser agressiva, mas o meu temperamento é de calma, paz e amor.
Penso na guerra.
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Por Sabrina Ferigato
isso é o que eu chamaria de uma esquizonarrativa! Me lembrou um belo texto de Artaud:
“Quem sou eu?
De onde venho?
Sou Antonin Artaud
e basta que eu o diga
Como só eu o sei dizer
e imediatamente
hão de ver meu corpo
atual,
voar em pedaços
e se juntar
sob dez mil aspectos
diversos.
Um novo corpo
no qual nunca mais
poderão esquecer.Eu, Antonin Artaud, sou meu filho,
meu pai,
minha mãe,
e eu mesmo.
Eu represento Antonin Artaud!
Estou sempre
morto.Mas um vivo morto,
Um morto vivo.
Sou um morto
Sempre vivo.
A tragédia em cena já não me basta.
Quero transportá-la para minha vida.
Eu represento totalmente a minha vida.
Onde as pessoas procuram criar obras
de arte, eu pretendo mostrar o meu
espírito.
Não concebo uma obra de arte
dissociada da vida.
Este Artaud, mas, por falta do que fazer…
Eu, o senhor Antonin Artaud,
nascido em Marseille
no dia 4 de setembro de 1896,
eu sou Satã e eu sou Deus,
e pouco me importa a Virgem Maria."