Cuidado Paliativo Não é Paliativo
O título dessa postagem pode parecer contraditório…mas não é. Cuidado paliativo não é paliativo! Para resolver esse mistério teríamos que ir à origem das palavras.
Hoje em dia quando queremos dizer que uma coisa é resolvida de maneira precária dizemos que solução foi “paliativa” ou seja, que de fato não se resolveu o problema. Imagine aquela torneira gotejando a noite inteira no banheiro. No milésimo “pleft” você se levanta e munido de uma toalha seca a coloca embaixo do gotejamento. Depois de algum tempo, a toalha encharcada não impedirá que o barulho retorne. Podemos dizer a mesma coisa de maridos que decepcionam profundamente suas esposas e acham que resolverão o problema com uma dúzia de rosas.
Assim, quando se ouve falar pela primeira vez de “cuidados paliativos” reduzimos o conceito ao conhecimento prévio que se tem da palavra “paliativo”. Aliás, os próprios profissionais de saúde reforçam esse entendimento quando dizem que se deve encaminhar os pacientes para cuidados paliativos quando “não existe mais nada a ser feito”. Isso cria a idéia de que “cuidados paliativos” e “medicina paliativa” são atividades de nível “inferior”, “coisa fácil” etc.
Mas e quando nos voltamos à origem das palavras? Paliar vem de “pallium” que quer dizer “manto”. Assim, “palliare” significa “cobrir com um manto”. Na sua origem a palavra fala sobre oferecer abrigo, trazer conforto, minimizar o sofrimento, dividir, ofertar algo que é seu para o outro.
É dessa forma que devemos entender a expressão “paliativo” quando vinculada à noção de cuidado. Não se trata de buscar medidas que “não resolvem” pois paliar nas situações de sofrimento significa buscar as mais apuradas técnicas para fazer com que a dor e o sofrimento possam ser minimizados, para que a qualidade de vida seja colocada em primeiro plano. Ou seja, resolutividade aqui entende-se por controlar os sintomas que sejam desagradáveis.
Mas muitos dirão: “cuidados paliativos não é somente para pessoas desenganadas”?. A resposta é NÃO. Na perspectiva paliativista a morte é vista com muito mais naturaldiade, mas isso não significa que se apresse sua presença ou se busque retardá-la desnecessariamente. Significa dizer que um paciente terá indicações de cuidados paliativos mesmo que ainda tenha perspectiva de cura já que atuar terapeuticamente e cuidar paliativamente não são ações que se excluam mutuamente.
Um paciente pode ser cuidado paliativamente toda a vez que tenha uma doença que na sua evolução possa ser representada como ameaçadora á vida. Na figura abaixo temos o avançar natural de uma doença mais refratária a processos de cura. Lembremos que se os sociólogos que estudam papeis sociais estiverem certos, existe um "papel de se estar doente" que pode variar significativamente no devenir da história, nas diferentes culturas, nas diferentes identidades sociais e individuais. Junto a isso tudo, as possibilidades de se lidar com a doença, obtendo maior ou menor sucesso. Ainda assim, a doença caminha na direção da morte. Quanto menor a possibilidade de cura e/ou controle e, assim, quanto mais vulnerável, melhor seria que o paciente estivesse sob cuidados paliativos para que ele fosse dignamente cuidado e estivesse protegido da obstinação terapêutica e dos tratamentos fúteis.
Fonte: Figura retirada de PIVA, Jefferson Pedro; GARCIA, Pedro Celiny Ramos; LAGO, Patrícia Miranda. Dilemas e dificuldades envolvendo decisões de final de vida e oferta de cuidados paliativos em pediatria. Rev. bras. ter. intensiva, São Paulo, v. 23, n. 1, Mar. 2011
Ah, algo muito importante. Notem que na figura os cuidados paliativos continuam depois que o paciente morre. Ou seja, a família, na perspectiva paliativista, também deve ser objeto de cuidado pois lidar com pessoas em vulnerabilidade extrema nos causa dor, sofrimento e riscos de adioecimento. No fim, existe todo um processo de luto a ser elaborado, por alguns mais facilmente, para outros com extrema dificuldade.
Mas vamos continuar essa conversa. Em breve retornaremos para falar mais sobre os princípios dos cuidados paliativos. Entretanto, queremos enfatizar que CUIDADO PALIATIVO NÃO É PALIATIVO! Pense nisso, discuta com seus amigos. Busque mais informações sobre cuidados paliativos. Faça uma visita ao site da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (AQUI)
Por Sabrina Ferigato
Lindo texto Erasmo!
Aproveito a oportunidade para compartilhar um documentário português sobre cuidados paliativos, parte 1 de 03
Para ver as partes II e III, seguem os endereços:
https://www.youtube.com/watch?v=a8hgxGcDG6M
https://www.youtube.com/watch?v=wdYHp-4nHzA
bjos
Sabrina