Diário de campo de uma psicóloga dos seus tempos capsianos
Por Ângela Marques
Essa foi a estrofe que me saiu quando saí do CAPS no qual trabalhava.
Há 5 meses saí de lá. Trabalhei lá por 9 meses e estagiei por 1 ano. A partir da minha experiência nesse CAPS enveredei, talvez definitivamente, para o campo da Saúde Mental.
O estágio (e interesse pela SM) me direcionou a confeccionar uma monografia no tema, a participar de um projeto extensionista (que era o EnCena, do qual hoje sou colaboradora) e a participar de um projeto de pesquisa que analisava os processos de cuidado subjacentes à articulação da Saúde Mental e Atenção Básica. O ano de estágio foi um ano de muitas descobertas e quando me surgiu a oportunidade de trabalhar nesse CAPS onde havia estagiado, pensei no quão afortunada eu era por aquilo. Fiquei feliz também por constar que a proposta foi sustentada por minha postura enquanto estagiária. Assim, quando comecei a trabalhar, senti-me extremamente confortável e alegre em poder manter vínculos os quais eu realmente não queria desfazer, mas que com o correr das águas talvez não fosse possível manter. Com isso, abandonei minha ideia de mudar de estado e comecei a ser funcionária do referido CAPS.
E esse foi o primeiro impacto: a transição de estagiária para funcionária. Nunca tive uma maneira muito impetuosa de agir ou me impor e é claro que não seria dessa forma que eu faria com que as pessoas (colegas, usuários, estagiários) me vissem em minha nova função. Por vezes foi difícil contornar situações e relações, inclusive em meio a uma equipe que já estava – há um certo tempo – inflamada e cansada.
E dessa forma fui trabalhando dia após dia, como uma formiga solitária que não queria virar uma eu-quipe, mas que também não abaixava a cabeça frente a ritos e regras já tão ferrenhamente cristalizados. Na maioria das vezes eu tecia comentários em reuniões técnico-administrativas que eram rebatados por outros comentários do tipo: “você não sabe de nada, está aqui há muito pouco tempo”. É claro que isso me desanimava um bocado e talvez é o peso causado pelo acúmulo de desânimo que nos adoece. Mas para o cansaço, há o descanso e para desânimo, há a luta. Eis, para mim, a noção de guerrilha e militância. E fiquei contente por sacar que enquanto eu estivesse promovendo incômodos, indagações e ou polêmicas, estaria sendo útil à proposta para a qual quis contribuir: a de tentar promover essa atenção de que tanto se fala.
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Por Sabrina Ferigato
Seu depoimento me deslocou para meu passado e para meu primeiro encontro com o CAPS, também como estagiária. Talvez o grande impacto não tenha sido provocado pelo encontro com a instituição, mas pelo encontro efetivo com a loucura, a loucura de todos nós…
Sua postura é aquilo que dá mais potencia à presença dos estagiários em serviço: incomodar, provocar desconforto, questionar…
Todo e qualquer movimento de abertura das instituições são bem vindos, e vc descreve um deles!
Adoro esses posts do ENCENA!
bjos
Sabrina