PNH inclui indígenas na discussão sobre ambiência e humanização do parto

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No dia 09 de julho, a PNH em parceria com o QualiSUS – Redes realizou em Dourados – MS um encontro entre apoiadores, representantes de dois hospitais de referência da região e representantes da população indígena. A atividade faz parte da Formação de Apoiadores em Ambiência, para arquitetos e engenheiros que vem sendo realizada desde o início do ano para 60 profissionais de todo o Brasil. Esses trabalhadores são organizados em Unidades de Produção (UP), e cada uma delas tem que realizar um evento para fortalecer os projetos de intervenção nos servios enquanto projetos cogeridos de ambiência.

A atividade no dia 09 foi da UP Kaiwá, que agrega os arquitetos e engenheiros da região centro – oeste do Brasil e a programação contou com relatos da população indígena ( em sua própria língua)  dos serviços de referência para esta população, o Hospital da Missão e o Hospital Universitário e também dos apoiadores do Ministério da Saúde. A atividade foi transmitida pela Rede HumanizaSUS e pode ser assistida na íntegra aqui:

 


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A programação foi iniciada com uma dança indígena, realizada por membros das  etnias Guarani, Terena e Kaiwá que interagiram com os deais participantes, seguida da apresentação sobre a  assistência no Hospital Indígena da Missão.

 
O indígena Sílvio Ortiz, que é  enfermeiro e  intérprete do Hospital Universitário falou da necessidade de se consultar os indígenas para as questões que fazem referência à sua saúde. Ele também traduziu as falas de sete mulheres indígenas parteiras, sendo uma delas agente de saúde indígena, que apresentaram sua avaliação sobre a saúde na região. Elas reclamaram que a  estrutura que tinham para partos na aldeia foi violada, com a perda de sua autonomia, e que as gestantes se sentem invadidas, por exemplo, quando há  vários residentes na sala de parto .
A realidade na região é complexa, pois o Hospital da Missão não atende casos graves, mas é o mais próximo da aldeia, e por isso as indígenas reivindicam que o atendimento só aconteça lá e não no Hospital Universitário – daí solicitaram  que o Ministério da Saúde dê estrutura para este Hospital, filantrópico. A apoiadora da Rede Cegonha na região Gilmara Santos alertou que o que se quer garantir é que a gestante indígena de alto risco chegue ao HU e que as de baixo risco sejam atendidas com qualidade no Hospital da Missão, que atualmente tem defasagem de profissionais e estrutura deficitária, conforme dados apresentados no evento. 
Foidiscutida a necessidade de se resgatar as relações e não só se preocupar com a tecnologia, pois as agentes de saúde indígena, por exemplo,  orientam as gestantes a fazerem o pré-natal e que na hora do parto, procurem as parteiras para “arrumar a barriga”, com massagens para posicionar o bebê para o parto normal, evitando a cesárea. Logo, é fundamental ouvir as mulheres sobre como é fazer o parto, como melhorar o HU, o Hospital da Missão e resgatar o papel das parteiras. A apoiadora da PNH Cátia Paranhos lembrou a importância de se juntar os saberes médicos e também o das parteiras e convidou a que participem do Fórum Perinatal na região.
A arquiteta e Formadora do curso de Apoiadores em Ambiência na Saúde Mônica Salgado se surpreendeu com a distância que existe entre o usuário e os serviços. Segundo ela, a atividade foi importante para iniciar o diálogo entre a comunidade indígena e os hospitais. “Haverá um Plano de Intervenção no Hospital Universitário e lançamos uma semente para que haja um trabalho extra-curso, quem sabe também no Hospital da Missão”, disse ela, fazendo referência ao trabalho esperado do apoiador em formação Paulo Figueiredo. 
Após a reunião, ficou acertado que as lideranças indígenas acompanhem o andamento dos projetos, e que se fortaleça a discussão no Hospital Universitário, trazendo indígenas, trabalhadores e gestores para a discussão. No dia 26 de julho acontecerá a primeira reunião do Colegiado Gestor da Rede Cegonha em Dourados – MS. De 26 a 28 de agosto, haverá oficina de pré-natal para agentes de saúde indígena.

A reserva indígena se encontra a cinco Km da cidade de Dourados, e é dividida em  duas aldeias JAGUAPIRÚ e BORORÓ, onde residem cerca de 14 000 indígenas com 3 500 hectares de terras.

Entenda a proposta das UPs
A realização de um evento em cada Unidade de Produção tem o objetivo de fortalecer os projetos de intervenção, enquanto projetos cogeridos de ambiência. Para a assessora da coordenação nacional da PNH para a Frente de Ambiência, esses eventos em cada UP são estratégicos. “ Eles possibilitam fazer  rodas que juntem atores importantes nos processos de intervenção, apresentar os apoiadores em formação aos coletivos do Apoio Integrado do Ministério da Saúde, que já estão nos estados e dar mais capilaridade para os coletivos de ambiência (transversalizar a PNH com outros dispositivos que cada serviço exigem para melhorar a saúde do trabalhador, a interação entre os trabalhadores,  e entre usuários, profissionais e gestores tríplice inclusão).

A próxima UP a se encontrar é a que agrega todos os estados da região norte do Brasil. Dias  25 e 26 de julho, a UP Açai com Tapioca vai discutir em Tabatinga- AM, juntamente com os demais apoiadores do Ministério da Saúde na região  a adaptação de um Centro de Parto Normal para as necessidades das mulheres indígenas. Ainda em julho, outras duas Unidades de Produção se reúnem: em Fortaleza – CE a UP Nordeste 2 ( Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte, Piauí e Ceará) e em Belo Horizonte – MG a UP Café com Leite ( Minas Gerais e São Paulo). Em agosto, estão agendados os eventos das demais UPs: no Rio de Janeiro – RJ, a UP Cariocas, em Aracaju – SE a UP Asa Branca ( Pernambuco, Bahia, Sergipe, Maranhão), em Porto Alegre – RS a UP Deretendo a Geada, com os três estados da região sul do país e em Brasília – DF se reunirá a UP Ministério da Saúde, que agrega arquitetos e engenheiros do órgão. O encerramento da Formação de Arquitetos e Engenheiros em Ambiência na Saúde  está previsto para os dias 20 e 21 de agosto em Brasília – DF.