Parto de Kate Middleton e o parto no Brasil
A Duquesa de Cambridge Kate Middleton pariu. Estão dizendo aí nos jornais que foi parto normal e aproveitando para fazer propaganda do parto normal. Não. Tenho certeza de que não foi parto normal. Nenhuma mulher que ter um parto normal. Não como é aqui no Brasil. Nem adianta vir com este papo de porcentagem dizendo que a OMS recomenda no máximo 15% de cesárea, que no Reino Unido apenas 25% fazem cesárea, que no parto normal a recuperação é mais rápida, blá, blá, blá…
Não queremos parto normal. Queremos parto natural. Queremos ver/sentir o bebê nascer. Queremos escolher a posição para dar a luz. Queremos sentir-nos amadas, amparadas e protegidas durante o parto. Queremos ter liberdade para escolher a posição de parir. Queremos deixar aflorar toda nossa feminilidade, nossa sexualidade, nossos instintos durante o parto.
Será que Kate foi submetida a tricotomia, lavagem intestinal, soro com ocitocina na veia, proibição de acompanhante, abandono em uma maca qualquer junto com inúmeras outras mulheres, falta de privacidade, falta de informação, posições horizontais forçadas com pernas amarradas para cima, fome e sede, episiotomia e manobra de Krisler? Será que foi atendida em um hospital tem que atender dezenas de parturientes em um dia, fazendo tudo em escala industrial e tendo a aceleração do parto como rotina?
Tenho certeza que não. Então o parto de Kate Middleton não foi parto normal. Não sei como foi o parto dela, mas com certeza não foi nada do que é rotina no Brasil nos partos normais. A propaganda que fazem do parto normal no Brasil é enganosa porque na verdade submetem as mulheres a inúmeras violências, mutilam-na e ainda têm coragem de dizer que tudo isto é normal.
Da forma como são feitos os partos normais nos Centros Obstétricos do Brasil, eu quero que os índices de cesáreas continuem altos. Quero que o índice de partos normais diminua ao máximo e que chegue a 0%. Nós não temos que nos preocupar com o índice de cesáreas. Temos que nos preocupar sim com a quantidade de mulheres que são violentadas durante um parto normal. Quando o parto natural for uma realidade, quando a mulher for dignificada em seu ato de parir, o número de cesáreas vai diminuir espontaneamente.
Não queremos parto normal. Queremos parto natural. É muito diferente. Chega de separar o parto em apenas duas categorias: Normal e Cesárea. Temos que ter uma terceira categoria: Natural. Esta sim, deve ter seus índices cada vez mais altos.
Parabéns a Kate Middleton, esta graciosa mamãe que conquistou o mundo com sua delicadeza. Parabéns aos países europeus, nos quais o parto é tratado de forma bem diferente do que é aqui no Brasil. E parabéns a todas as mulheres brasileiras que estão lutando para que o parto no Brasil tenha o mínimo de humanidade.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
ótima chamada à consciência de que o parto está excessivamente medicalizado e codificado conforme a classe social das mulheres.
A redehumanizasus.net divulga inúmeras experiências de parto humanizado no SUS e torna-se referência de uma prática que o pensa como afirmação de vida!