O Público na Saúde Pública: A produção do (bem) comum
O 13º Congresso Paulista de Saúde Pública surpreendeu pela diversidade de atividades, palestras, rodas temáticas, intervenções culturais, sobre um tema que nos é caro, a produção do (bem) comum: os bens da natureza, a vida, os modos de viver, a defesa da vida de qualquer um, a disputa pela vida que queremos, a saúde que necessitamos, o SUS, a multidão nas ruas…
No vídeo, Paulo Capucci (presidente da APSP), e Peter Pelbart, que realizou a conferência de abertura:
“O poder tomou de assalto a vida !O corpo, os afetos foram expropriados, medicalizados, sequestrados de sua potência de vida.”
(Peter Pelbart)
Sua fala retoma o texto apresentado no III Seminário Internacional A Educação Medicalizada, que a editora/cuidadora Maria Luiza trancreveu na RHS!
(revisite este texto no link: https://redehumanizasus.net/63611-viver-nao-e-sobreviver-para-alem-da-vida-aprisionada-peter-pal-pelbart-primeira-parte)
No primeiro dia do Congresso, o coordenador da RHS, nosso querido Ricardo Teixeira, médico sanitarista da FMUSP, acalorou o debate iniciado pelo Peter na abertura, apresentando As dimensões da produção do comum.
Dessas, abordou a dimensão ontológica ou vital da Produção do Comum, a partir de Spinoza e o “guia” Deleuze. A teoria da individualidade em Spinoza e mais, o que chamou de uma agonística das causas singulares, fazendo interface com o levante da multidão de junho de 2013.
Fala mais, Ricardo…
Outros momentos que proporcionaram conexões, reflexões acerca da discussão sobre público e privado, sobre o que produzimos de (Bem) comum, sobre o Estado, os serviços, as dimensões do púbico…
Com destaque, Emerson Mehry foi aplaudido, ao falar sobre O que produzimos de (Bem) comum. Os sinais que vem da rua, da gestão sobre o viver como tecnologia de poder, da “ânsia” de se fazer gestão da vida do outro na saúde e do problema que isso incorre.
Intercedeu pela afirmação das diferenças de “todos” na produção da existência, em Políticas de Existências :
“O bem comum se afirma nas diferenças.”
Ou o SUS se alimenta das multidões ou será consumido. A multidão interroga a saúde pública! Ele diz que a saúde coletiva, hoje, não tem “sopros de multidão” como nos movimentos da década de 70 e 80 (1979, o nascimento da Biopolítica).Merhy, a partir de acúmulos da Saúde Mental, retoma que “a explosão da vida se dá muito nas condições precárias de vida”, nas estruturas “moleculares dos encontros” e que o SUS só se realiza, quando há uma “conexão com a vida do outro”.
“Como afirmar que a vida de qualquer um vale a pena?”
Enquanto não afirmarmos isso, que a vida de qualquer um vale a pena, não construiremos o SUS. A produção de coletivos desejantes é instituinte, é produtor de mais vida! Por isso, apostar em mais liberdade às equipes para produzir e afirmar que a vida de qualquer um vale a pena, afirmar a vida do outro! Uma política de “amizade” na produção de vida. Radicaliza na afirmação de que a vida de qualquer um vale a pena, seja “de um ninguém, até mesmo de um não humano” (citando o UNO, em Negri, o RIO +20, as pessoas que vivem nas ruas). “O nomadismo que o capitalismo faz é aquele em que não se tem para onde voltar.” É preciso disputar os modos de produzir a existência , pois segundo Mehry, “as dinâmicas capitalistas disputa as máquinas desejantes, criando mecanismos de gestão da vida do outro pelas conexões cotidianas”. Biopoder. Controle pela produção de subjetividade em captura. Incluir nesta disputa, o tema da desigualdade, da interdição da vida do outro, da biomedicalização da vida…
“Que tipo de vida permite produzir liberdade, os afetos que pedem passagem nos corpos coletivos”.
Fala mais Mehry:
Gastão Wagner, sempre uma presença afetiva e política importante, inicia sua fala Impasse na política pública: o SUS e seus trabalhadores, com a questão:
“Por que não conseguimos ainda fazer uma politica para os trabalhadores de saúde? De cargos e carreiras, do interesse dos trabalhadores de saúde? O SUS como um trabalho humano intensivo!”
Retoma o junho de 2013, o levante da multidão e a demofobia, o medo do movimento do povo. Segue aqui, um pouco mais…
Luis Castiel trouxe o tema da Longevidade: O futuro é grande!
Uma apresentação criativa, inserindo questões sobre os discursos utilizados nos serviços de saúde, na mídia, brincando com as afirmações dos discursos de risco…
“A evitação do risco é um conto moral”, “contos morais”.
Quanto tempo temos? A abordagem da vida a partir de uma visão tanatofóbica, na perseguição de uma vida longa, apresentando alguns autores “imortalistas”…
Gustavo Nunes, coordenador da Política Nacional de Humanização, e Roseni Pinheiro, partilharam mesa temática.
Gustavo lembra que o que é bom, certo e ético está em disputa. Que habita nesta disputa, aquilo que deve ser defendido, conservado. Assim, o que é técnico e político em oposição, polarização, serve para sustentar o autoritarismo, as relações verticais, sendo um exercício de autoridade como forma de poder, assim como o corporativismo. Afirma a necessidade de inclusão do usuário cada vez mais, nas discussões da saúde, pois ele tem potência de apontar lacunas institucionais.
“Produzir publico é disputar a sociedade. O sentido do trabalho e o próprio destino desta sociedade.” Ele refere a necessidade de despolarização dos problemas, através do exercício de coletivos e aumento da transversalidade.”
Falou de uma agonística, em operararmos essa disputa que não só coloquem os sujeitos em relação, mas incluam a perturbação, os conflitos, como analisadores. Rodas com espaços para a criação de problemas, pois essa é “a maneira de dar visibilidade para aquilo que não tem sido podido ser dito”. Dar voz àqueles vulneráveis, voz da diferença em si. Assim, a necessidade de criação de coletivos, espaços co-gestão coletiva, visibilidade das diversas formas de viver, das divergências…
Instigou a participação da platéia (na foto, o blogueiro da RHS, Evaldo), ao citar como potentes frentes, as Assembléias, os Fóruns de usuários, para criar espaços para desmontar a ideia que os problemas do SUS se resolvem com pactos entre gestores, portarias, podendo se resolver ai, mas não só. Ou seja, produção de espaços de participação, parcerias dos movimentos sociais, ultrapassando as fronteiras do instituído.
Roseni Pinheiro sinalizou que, pensar o cuidado como publico é alargar o que temos como capacidade de parar para pensar no que está fazendo, incluindo o serviço de saúde na discussão da produção de conhecimento. Acreditar na transformação do cotidiano pelo pensamento. No cotidiano dos serviços temos o que precisamos para produzir o comum. “O público é produção do comum”. “O público como comum. O público como comum e político. De bens compartilháveis. Abertura de possíveis, de conhecimentos, ações… Cita o filme Hanna Arendt, pela capacidade de “perdoar aquela ação”. Criar novos padrões de institucionalidade. De saberes nômades. Avançando na molecularidade, enfrentando e disputando o sentido da vida. Valores éticos, políticos e humanísticos, de sentimentos compartilháveis. Para ela, os valores a serem defendidos: a responsabilidade, visibilidade, o cultivo de presença/pertencimento público. “Qual a aldeia de que faço parte? De que maneira esses valores, métodos de ação, participação, criando outra institucionalidade, criamos o bem comum. O público como um encontro. O bem sendo aquilo que conseguimos compartilhar. O cumprimento do legado do direito humano à saúde. Genial é cultivar sentimentos do comum, reciprocidade, não por ser semelhante, isso é desafiador! Como a gente incluir o diferente? Ainda que fale diferente de nós…”
Além desses, outros momentos possibilitaram conexões e produções de sentidos, a partir de encontros, intervenções culturais incluindo o saber popular, apresentações divertidas dos palhaços e o dia-a-dia do "Brasileiro", e também na Tenda Paulo Freire (https://redehumanizasus.net/65758-tenda-paulo-freire-para-mudar-o-mundo-o-amor-de-todo-mundo-evoe).
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Veja aqui os ANAIS do Congresso! https://redehumanizasus.net/65706-anais-do-13-congresso-paulista-de-saude-publica-edicao-de-setembro-de-2013
Na página da APSP, no FB, você encontra mais imagens, vídeos: https://www.facebook.com/pages/Associa%C3%A7%C3%A3o-Paulista-de-Sa%C3%BAde-P%C3%BAblica-APSP/207809012566253?fref=ts
Por Emilia Alves de Sousa
Querida Luciane,
Fantástico o teu post trazendo a fala dessas estrelas maiores, como o Peter Pelbart, o Emerson Mehry, o Gastão Wagner, e outros não menos importantes, debatendo temas tão relevantes como a produção do bem comum, a biopotência… na construção do SUS.
Destaco aqui uma das falas do Emerson Mehry: " O SUS só se realiza, quando há uma “conexão com a vida do outro”. Maravilha!
Obrigada pelo compartilhamento dos vídeos!
Beijão!
Emília