Falando em Suicídio
O suicídio é um tema tabu. Difícil falar sobre ele. Acostumamo-nos a significa-lo como uma coisa a ser escondida. Quando ocorre perto de nós, queremos buscar explicações rápidas e fáceis. Reduzimos tudo a uma causa: “estava sendo traído”; “o patrão o demitiu”, “não tinha Deus no coração”; “o que ela fez foi uma covardia”. Ah, não devemos nos esquecer de juntar as explicações de ordem “psi” que se revestem de caráter científico: “Matou-se porque estava deprimido”. Explicar o suicídio é o nosso “ansiolítico” pois, em parte, nos vemos naquele que comete esse atrevimento contra a vida! Encontrar uma explicação rápida exalta nossa inteligência, nos torna enquanto ser humano "imunes" a cometer o mesmo gesto.
Já estou próximo de completar 51 anos. Nesse tempo contabilizei o suicídio de quatro pessoas próximas a mim. A única coisa que encontrei de relativo padrão nisso tudo foi um rastro de sofrimento onde quem fica acaba fazendo uma espécie de exercício de autoculpabilização alimentado por críticos sempre prontos a apontar dedos acusadores da displicência de pais e filhos.
E por falar em pais e filhos me vem a música de Renato Russo, isso mesmo “Pais e Filhos” onde existe aquele belo refrão: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Lá pelo começo da música ele nos fala de uma garota que vivia num daqueles apartamentos de alto padrão em Brasília e que se jogou da janela do quinto andar. Ato contínuo, ele nos adverte que “nada é fácil de entender”.
Mas quem disse que o homem desanima diante das coisas que não são fáceis de entender? Entre no google e escreva a palavra “suicídio” em português e depois em inglês. Como por milagre o tabu se desvela. Tudo o que é escondido, na verdade, desperta intensa curiosidade que impacta na arte, na literatura e na ciência. Existem milhares e milhares de links para todos os gostos, alguns que exaltam o sadismo de tantos, a busca religiosa e filosófica de outros, o interesse dito científico de alguns.
Mas fique tranquilo leitor. Vou poupa-lo das citações bibliográficas e dos julgamentos morais fáceis. Dia 10 de setembro é o dia mundial de prevenção ao suicídio. Não vou aqui propor receitas com base em manuais que proliferam pela internet. Mas me reservo no direito de invocar a capacidade maravilhosa que Renato Russo tinha de expressar o belo. Ele estava certo: “é preciso amar as pessoas como senão houvesse amanhã”.
Quem cometeu suicídio já partiu. Talvez tenha descoberto o grande segredo dessa vida ou então tenha encontrado no nada um lenitivo para uma dor insuportável. Mas quem chegou à beira do precipício sabe que a volta pode se tornar um caminho infernal, palmilhado por julgamentos morais e exigências impossíveis de cumprir. Nessas horas é necessário radicalizar na arte da escuta e do acolhimento. As pessoas não podem sofrer ainda mais porque regressaram das portas da morte. O nosso desafio é tentar ama-las como se não houvesse amanhã! Isso com certeza estimula todos nós a viver no presente.
Talvez isso nos ajude a romper com essa idiotia coletiva que afirma a necessidade de vivermos em busca do acúmulo de dinheiro para depois gasta-lo todo com as doenças que conquistamos pelo esforço em torno do dinheiro ganho. Talvez não conseguir viver no presente seja mais uma explicação fácil para aquilo que não é fácil de entender!
Por Erasmo Ruiz