Psicologia Biodinâmica e Prática Corporal como instrumentos de humanização na área de Saúde Mental da Atenção Primária à Saúde

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O uso da psicoterapia com massagem e do grupo corporal são o foco deste trabalho realizado com pacientes com sofrimento mental em uma Unidade de Saúde da Família na cidade de São Paulo. O corpo e seus modos de viver também se configura pelo registro corporal das histórias de vida de cada pessoa. O toque e a associação livre de idéias e movimentos incentiva o autoconhecimento e a potência de vida que há em cada ser humano.

Sendo psicóloga de referência para seis equipes de Saúde da Família, a experiência de utilizar massagem unido à psicoterapia veio através da formação em Psicologia Biodinâmica (www.ibpb.com.br) e por observar que muito das queixas de sofrimento no corpo (pressão alta, dores de cabeça e no corpo, insônia etc.) estavam ligados a quadros psicossomáticos relacionados a demandas sociais e a histórias de vida difíceis (violências diversas, violações de direitos básicos, perdas etc.). Não ter a percepção de que o sofrimento no corpo estava ligado ao sofrimento emocional prolongado e não cuidado fazia com que as pessoas demandassem muito por consultas médicas, remédios, exames como via de aliviar a dor e encontrar uma solução externa e, às vezes, imediata para seus problemas. O toque pode ter registros diversos no corpo a depender da história de cada um: de cuidado, carinho, invasão, agressão etc., e a massagem vem para ressignificar o toque e ajudar a pessoa a se conhecer e reescrever sua história através da leitura que começa a fazer de seu corpo e da conexão deste corpo com as experiências vividas. Além desta intervenção mais individual, é possível propor atividades grupais com o mesmo propósito e que alterna autoconsciência e autoconhecimento corporal e a partir do outro através de atividades em duplas e coletivas. E é isto que vem sendo feito como uma das frentes de ação do trabalho da psicologia nesta UBS/ESF.

Sendo uma experiência de âmbito local, a proposta foi acolhida pela gerência e profissionais de saúde como algo inovador e, conforme as pessoas melhoravam de seus sintomas e os médicos percebiam uma diminuição de demanda clínica e, em alguns casos, também medicamentosa, este tipo de intervenção não tradicional da psicologia foi fazendo mais sentido para as equipes. O mesmo vem ocorrendo com os pacientes que têm passado por esta experiência. Uma maca para massagem foi doada e um colchonete disponibilizado. O profissional psicólogo comprou travesseiros, almofadas e cobertor. Em relação ao processo, inicia-se com avaliação da queixa inicial e coleta da história de vida do paciente, identificando outras queixas possíveis e latentes. Oferece a possibilidade da massagem como técnica e do grupo, caso a pessoa queira. Há diferença entre usar a maca e o colchonete; este pode mobilizar mais e coloca terapeuta e paciente mais próximos e uma leitura da história do paciente é necessária para que não seja invasivo e mobilizador demais. Não se quebram defesas e se faz amizade com as resistências respeitando os limites e ritmo do paciente. Orienta-o a deixar o corpo se expressar da forma que quiser, seja através de lembranças, imagens, sonhos, choro, riso, grito ou expressões de raiva. Utiliza-se o método da parteira, em que o terapeuta apoia o paciente em seu processo, mas sabendo que o processo é do paciente, que é ativo, na realidade. No grupo, são atividades que envolvem conhecimentos de outras práticas corporais (yoga, bioenergética) e teoria Winnicottiana (Psicanálise) e que remete a pessoa para si e para a relação com o outro e com o mundo, promovendo mais autoconfiança, autocuidado, autonomia e a ajuda a se fortalecer para mudar sua realidade interna e externa.

Como novidades, temos que a articulação de psicoterapia com massagem já é algo que tira a clínica psicológica de seu eixo tradicional; há certo estranhamento em alguns pacientes e mesmo em colegas de trabalho; há mudança de eixo de uma psicologia focada na psicopatologia para uma focada na potencialidade para a vida; as pessoas passam a encontrar recursos próprios para uma auto mudança e passam a ver o medicamento como um subsídio necessário em certos momentos, mas não aquilo que irá resolver seus problemas. Tem havido diminuição no uso de remédios;o registro de prontuário tem auxiliado na conduta dos colegas, profissionais de saúde para uma outra forma de escuta e conduta em saúde mental; oferecer um trabalho consistente e de qualidade em saúde mental no serviço público, dando acesso a um tipo de serviço ainda bastante elitista.

Os desafios são superados com muito estudo, muito trabalho, educação permanente e um trabalho em equipe integrado e bem articulado, em que o conhecimento de cada profissional é valorizado pelo outro, porque se sabe que o foco deve ser sempre cuidar da melhor forma possível o paciente que nos procura.