I Ateliê de Autoformação do Centro de Saúde do Amarante: “Acolhimento Humanescente no SUS”

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Esta intervenção foi realizada durante o Internato de Saúde Coletiva do Curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, desenvolvida pelos doutorandos Caroline Maria Rêgo Trindade de Medeiros, Gesiel Alves de Medeiros e Kleyton César de Lima Moraes do 9º período, realizada no Centro de Saúde do Amarante em São Gonçalo do Amarante – Grande Natal/Rio Grande do Norte (RN), coordenado pela professora Dra. Ana Tânia Lopes Sampaio, sob a tutoria da mesma, preceptoria da médica Verônica Barreto Ferreira e da Enfermeira Ana Tereza Amorim.

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INTRODUÇÃO

O internato em Saúde Coletiva da UFRN é composto por sete semanas de atividades em Unidades Básicas de Saúde e vivências apresentadas em grupo sobre a comunidade e a inserção da saúde nesta. Nesse período fizemos diagnósticos de comunidade, lidando diariamente com a realidade dos usuários do SUS da comunidade do bairro do Amarante, da cidade de São Gonçalo do Amarante, zona metropolitana de Natal/RN, e acompanhando suas dificuldades de acesso à saúde, sempre reforçando os princípios do SUS em nossos conceitos. Na roda de co-gestão, uma das vivências experimentadas por nós, os atores da comunidade presentes na conversa levantaram a problemática do acolhimento como sendo uma demanda interessante e cabível de intervir.

Em Freire (1996), compreendemos que todo sujeito é um ser inacabado, da fenomenologia biológica de Maturana e Varela (2007, 1997), que defendem a singularidade de cada ser no ato de conhecer, devido sua intransferível natureza auto-organizadora, a do pensamento sistêmico de Morin (2007), compreendemos a formação humana do profissional da saúde na sua multidimensionalidade física, biológica, cultural, social, espiritual e psíquica. Para realizar um acolhimento humanescente o ator envolvido nas práticas de saúde precisa antes de tudo humanescer-se, interiorizar-se, olhar para dentro de si, e foi neste enfoque que foi desenvolvida a intervenção. A partir desses pressupostos, as atividades foram desenvolvidas numa Pedagogia Vivencial que emerge de uma visão pedagógica reflexiva, na afetividade, na ludicidade, na criatividade e na consciência da necessidade de completar-se.

METODOLOGIA
A intervenção realizada no dia 11 de outubro do ano de 2013, na Capela Nossa Senhora da Assunção às 8 horas e 30 minutos, com uma excelente representatividade do corpo de funcionários do Centro de Saúde do Amarante, teve como tema o ‘Acolhimento’ no, e foi desenvolvida em cinco momentos principais.
• 1º momento: Acolhimento humanescente, neste primeiro momento os participantes foram acolhidos de forma humanescente em ambiente preparado cuidadosamente, sala arejada e com boa iluminação natural, lençóis coloridos espalhados pela sala, aroma de incenso e musica de fundo. No centro da sala um lençol que lembrava o céu com sol lua e estrelas e com depósitos plásticos cheios de variadas miniaturas (pessoas, plantas, objetos pessoais, casas, carros etc). Ao adentrarem o ambiente eram recebidos com abraços afetuosos, recebiam um coração de cartolina e uma caneta e sentavam em tapetes ao redor do lençol no centro da sala.

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• 2º momento: Momento de Individuação – Após vivenciarem o acolhimento, os presentes foram convidados a sentarem nos tapetes organizados em círculo ao redor da sala e a fecharem os olhos, iniciando uma viagem interior de resgate autobiográfico (autoconectividade) e inspirado por um fundo musical de acalento que estimulava o processo imaginativo. Em seguida cada participante escreveu no coração de cartolina, que receberam ao ser acolhido, o que achavam de si próprio. Os participantes, em suma, fizeram uma regressão histórica de suas vidas, vendo-se como sujeitos existenciais, cidadãos e profissionais da saúde. Esse processo oportunizou o extravasamento de emoções contidas e a exteriorização de conflitos internos e de sentimentos.

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• 3º momento: Comunicação corporal e respiração – após o segundo momento, os participantes foram convidados a iniciaram uma caminhada pelo local, conduzidos por uma experiencialidade sensorial corporal de exercícios bioenergéticos que objetivavam o encontro consciente com sua corporeidade, e assim relacionar-se com os demais presentes utilizando-se dos sentidos corpo humano com exceção da fala. Nesse momento os participantes vivenciaram grande emoção. Em seguida todos os presentes foram convidados a realizar exercícios de energização, eliminando as energias negativas e absorvendo as positivas.

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• 4º momento: Vivência projetiva. Nesta fase da vivência os participantes foram orientados a reconectar-se consigo mesmo, ainda movidos pela memória imaginativa na vivência da individuação, e se dirigirem aos depósitos plásticos escolhendo as miniaturas apropriadas para projeção, através da ‘construção de quadros’ e modelagem, do cenário que contemplasse uma unidade básica de saúde com suas demandas, funcionalidades e peculiaridades, idealizada por eles, ou seja, eles montaram um cenário que respondeu a seguinte pergunta: "como seria o acolhimento em uma unidade básica de saúde que almejavam encontrar quando buscassem uma?" Essa vivência possibilitou o reconhecer-se como ser humano, cidadão e profissional no espaço da vida e do trabalho em saúde, permitiu fluir a criatividade e a ludicidade a partir de uma reflexividade histórica expressa pelos cenários construídos com as miniaturas expressas de forma projetiva.

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• 5º momento: Exposição dialogada, após uma breve pausa para um lanche, encerrando a vivência, deu-se uma exposição dialogada sobre as experiencialidades vivenciadas enfocando principalmente a importância desta vivência para a prática contínua de um acolhimento humanescente no âmbito do SUS.

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CONCLUSÃO
A formação humana pode fluir com amorosidade e eticidade, beleza e autonomia intelectual e democrática se houver ações criativas e reflexivas de cada profissional de forma especial e singular.

Como resultado selecionamos alguns depoimentos de participantes do ateliê:

“A intervenção foi um sucesso, foram emanadas energias positivas, provando a importância desses momentos de reflexão interior. Nós, cuidadores, precisamos olhar pra dentro de nós mesmos, aprendermos a nos conhecer, para assim sabermos acolher bem o nosso próximo. A UBS do Amarante agradece de coração. Tenho certeza de que momentos como esse se repetirão e nos ajudarão a sermos cada vez melhores no cuidado prestado aos nossos usuários do SUS. Obrigada por não deixar morrer em nós esse desejo de sermos cada vez mais humanescentes.”
“A vivência, foi de grande valia, pois o tema escolhido: ‘acolhimento’ foi bastante falado na reunião com a comunidade. O ambiente criado pelos doutorandos, o modo como foi abordado o tema, ‘nos conhecendo e nos colocando no lugar do outro’ é o meio mais eficaz de tratar melhor o outro”.
“A intervenção executada pelos doutorandos foi algo inovador e que deveria servir de exemplo para outras equipes, visto que para se ter um atendimento satisfatório deve-se partir de um bom acolhimento, sempre com uma visão humanescente”.
“Foi um momento único e especial, pois deu a cada um a oportunidade de expressar os seus sentimentos mais profundos e ocultos aos olhos dos companheiros de trabalho”.
“Achei ótimo! Muito construtivo” Senti uma paz muito grande, Deus lá. Foi Maravilhoso!”.
“Foi surpreendente! Precisávamos desse contato, sem ser só o profissional. É uma família. Precisamos entender o outro, parar para pensar que o outro tem problemas”.
“Achei maravilhoso! Senti uma paz! União, harmonia. Um encontro com Deus! Saí aliviada, transmitiu uma energia muito boa”.
“O trabalho dos meninos foi ótimo! Muito bom! Muito importante para nossa UBS”.
“Achei muito importante! Melhorou a relação com a equipe. Acho que a gente estava precisando, até em função do que a população estava pedindo. Que intervenções como essa continuem por aqui”.

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REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, Mirian. (coord.) Cotidiano das Escolas Entre Violências. Brasília: UNESCO, Observatório de Violência, Ministério da Educação, 2006.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Educação, ludicidade e prevenção das neuroses futuras: uma proposta pedagógica a partir da Biossíntese. In: LUCKESI, Cipriano Carlos (org.) Ludopedagogia – Ensaios 1: Educação e Ludicidade. Salvador: Gepel, 2000
< https://redehumanizasus.net/12280-atelie-de-autoformacao-humanescente>