Uma anatomia da destruição
Primeiramente, eu diria, minha história é mais extensa do que eu poderia descrever aqui. Sempre haverá uma brecha, um espaço vazio para mais algumas palavras. Lembro-me bem da minha infância, na verdade eu me lembro do meu primeiro dia de vida, achava que isso não era possível até ver um programa de televisão sobre memórias e traumas.
Nascer é um trauma.
Aos quinze minha vida já estava bagunçada o suficientemente para eu perceber que estava sendo devorado pelo mal do século. Minha família passava por problemas financeiros, perda de entes queridos e meu mundo estava sendo atordoado por relações amorosas que quando se é jovem parecem um verdadeiro inferno.
O primeiro psiquiatra que fui era com toda certeza mais louco do que eu. Ele parecia querer me provocar e me deu na época o meu primeiro antipsicótico junto com outro remédio para dormir. O resultado foi: o antipsicótico não fazia efeito e o para dormir me dava alucinações.
O segundo psiquiatra era um homem mais estranho ainda. Obcecado por Don Quixote, o consultório dele era basicamente o livro encenado, aquilo já me incomodava demais, e me incomodava mais ainda os atrasos frequentes nas consultas e o riso irônico que ele sempre carregava em sua boca.
O diagnóstico dele para mim foi interessante: bipolar.
O remédio obviamente foi o depakote, quase um padrão na psiquiatria moderna para os transtornos de humor.
Meu temperamento só piorava, eu não conhecia mais o prazer. Ficava entre a calma e a ira. Mas nunca feliz.