Toxicomania – Uma Doença do Consumo

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O problema do uso indevido de drogas assume proporções cada vez mais preocupantes neste início de século XXI. Em nível internacional, movimenta uma indústria que gira bilhões de dólares anuais, controla exércitos e anula a possibilidade de democracia em países. Em nível nacional, e local, financia o crime organizado, além de fazer com que o Estado seja obrigado a dirigir volumosos investimentos às áreas de saúde, previdência e segurança. Em nível micro, a toxicomania, assim como o alcoolismo, anula o sujeito, quando não lhe rouba a vida.
O fato é que a toxicomania, enquanto problema de saúde pública, denuncia uma doença comum à sociedade como um todo: o consumismo. Como classificar o alcoolismo e a toxicomania senão como doenças do consumo? Por vezes, diz-se do dependente de drogas que é uma pessoa mal adaptada à sociedade. Mas, quando olhamos com cuidado, vemos uma pessoa perfeitamente adaptada ao imperativo “Consuma!” (CONTE, 2003).
Fizemos a opção por um mundo que depende do consumo. Esta alternativa de sociedade não é sustentável de nenhum ponto de vista: social, ecológico, econômico ou individual. Mas agimos como seres perfeitamente adaptados a este modelo. Consumimos, sem nenhum tipo de crítica, quase tudo: de novelas a salgadinhos; de fast foods à música ruim; de sexo a drogas.
E o que são toxicomania e alcoolismo senão problemas ligados à impossibilidade de fazer um consumo mais crítico e consciente? No último Fórum Social Mundial ocorrido em Porto Alegre, o Lama Padma Santem, em conferência conjunta com Fritjof Capra e Leonardo Boff, disse: “Se cada um de nós fizesse somente aquilo que sabe ser certo, nós caminharíamos todas as manhãs, comeríamos apenas carnes brancas e saladas, leríamos mais e veríamos menos televisão. Mas, bem… Todos sabemos o poder do chocolate!”.
A toxicomania e o alcoolismo denunciam um problema que é comum a todos nós, mas com uma dramaticidade que salta aos olhos. A forma como todos dependemos de substâncias, de objetos e de outros tipos de produtos muito pouco saudáveis, e a dificuldade que temos em abrir mão disto, faz com que possamos, pelo menos de leve, ter uma idéia de porque é tão difícil ao toxicômano o abandono da droga de sua preferência. O alcoolista e o toxicômano são, em escala gritante, espelhos para todos nós, e para nossa impossibilidade de decidir com plena liberdade o que faremos de nossas vidas.

 

REFERÊNCIAS

CONTE Marta. A clínica psicanalítica com toxicômanos: o "corte & costura" no enquadre institucional. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003.