Impressões sobre o uso de fitoterapia na Atenção Primária
A medicamentalização da saúde é um assunto constante. Esse processo traz diversos problemas, como o aumento dos gastos com saúde, efeitos colaterais aos pacientes e surgimento de microrganismos multirresistentes, além de exigir a organização de uma estrutura para estimular a adesão dos pacientes ao tratamento.
Dentre esses pontos percebe-se um conflito: por um lado há uma demanda dos usuários por medicamentos na esperança de que está nos remédios a solução de suas aflições e por outro há a baixa adesão às recomendações, uma vez que a distribuição dos remédios ao longo do dia tende a ser confusa e o uso da medicação pode ser algo novo para os usuários.
Uma alternativa para minimizar esse problema é o uso de fitoterápicos para o tratamento de determinadas enfermidades. Durante toda história da humanidade as plantas tiveram um papel central na saúde e mesmo hoje diversos remédios são criados pelo isolamento de substâncias de plantas.
Remédios fitoterápicos, em muitos casos, são mais aceitos pela população do que remédios alopáticos aumentando a adesão, pois esses já fazem parte de sua cultura e são utilizados por diversas gerações, sem que haja perda na eficácia do tratamento conforme comprovado por estudos científicos.
O Ministério da Saúde já homologou diversas plantas que podem ser adquiridas pelos municípios e oferecidas à população substituindo ou complementando tratamentos alopáticos. Algumas empresas já estão realizando o plantio e processamento dessas plantas fornecendo a medicação nas posologias corretas.
Além do fornecimento por grandes empresas, projetos de cultivo local estão sendo implementados visando à integração da comunidade ao sistema de saúde além de ser uma forma geração de renda.
Nesses projetos a comunidade realiza o plantio conforme normas internacionais, como o uso de adubo orgânico e controle do solo, e revende os produtos para laboratórios locais que fazem a análise e o processamento das plantas para que essas sejam disponibilizadas nas farmácias das UBSs da região.
Para a produção, a supervisão do cultivo, desenvolvimento e distribuição do produto é importante, pois o uso de plantas de forma indiscriminada e baseada estritamente no conhecimento popular pode expor a população a formulações de baixa qualidade, contaminadas ou degradadas pelo armazenamento incorreto.
O fortalecimento da pesquisa, uso e produção de fitoterapia, unindo o conhecimento popular às técnicas científicas pode trazer um enorme ganho aos usuários.
Sou aluno do 3 ano do curso de medicina pela FMUSP (Faculdade de Medicina – USP) e estou participando do projeto de extensão acadêmica “MANEJO, PREVENÇÃO E CONTROLE DAS DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS: UMA ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO À SAÚDE E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NO CONTEXTO AMAZÔNICO” – PROEXT/2011. Este projeto é do departamento de Moléstias Infecciosas da FMUSP com supervisão local do Dr Frederico Galante, médico da família de Alter do Chão, Santarém-PA.
Nesse projeto tive contato pela primeira vez com o uso de fitoterapia por médicos do sistema de saúde e com os projetos de cultivo local.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
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Sou do coletivo de editores/curadores da rede e membro do Fórum sobre a Medicalização da Educação e da Sociedade. Você já deve ter se deparado com a grande militância que temos feito, via fórum também, em torno da questão da medicalização da vida.
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Iza Sardenberg