2ª Participação do APD na Semana Nacional de Humanização – “Roda dos Saberes”.
“Que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito?” Foi com esta frase do Poeta Fernando Pessoa que Priscila Tamis de Andrade iniciou a Roda de Saberes do APD nesta sexta-feira, dia 11 de Abril.
O APD – Programa Acompanhante Comunitário de Saúde da Pessoa com Deficiência – é um programa da Secretaria Municipal de Saúde, que teve início em maio de 2010, desenvolvido em parceria com a Associação Saúde da Família, que visa assistir pessoas com deficiência intelectual em situação de fragilidade e vulnerabilidade social.
A “Roda de Saberes”, nasce da necessidade de sair da “fazeção” e refletir sobre o trabalho. Foi criada em 2010 e posteriormente seus componentes a deram o nome atual, inspirados na experiência do “Clube dos Saberes”, da clínica francesa de La Borde.
Com o termo “Roda” quer se representar a dimensão estética da democratização e da abertura a que se propõem as “Rodas de Saberes”, entendendo que os saberes são plurais, múltiplos. Ao aplicar esses conceitos pretende-se tencionar e convidar os profissionais a incorporá-los em seus processos cotidianos de trabalho.
A “Roda de Saberes” almeja diferenciar-se por levar em conta a dimensão existencial (AYRES, 2011) dos profissionais, necessária para a práxis em saúde, especialmente em um Programa que se propõe a estar e “fazer com” seus usuários. (SÃO PAULO, 2012).
Em nossa segunda participação na Semana Nacional de Humanização, convidamos para conversar algum muito especial. Priscila é Psicologa de formação Mestre pela USP, foi componente do Programa APD e atualmente atua na Secretaria de Cultura da Cidade de São Paulo.
Ela nos trouxe reflexões muito intensas do seu mestrado que estão impregnadas da PNH, de Biopolitica, da vida na cidade e da vivencia no trabalho do APD.
Embasada na PNH e em Fabio Araujo (2006) Priscila nos convidou a romper “com a psicologia da clínica Klinos, que se debruça sobre o outro do alto de sua verdade, voltada para a sobrevalorização da intimidade psicológica e preceitos universalistas. Afirmo a clínica enquanto Kliname, voltada para os desvios, o que emerge de proliferações da diferença e de comprometimento ético com as políticas públicas. O que cria a experiência do desvio é sempre um esbarrão, um tropeço, o surgimento de uma nova paisagem, um novo olhar. […] A força está na postura ética, estética e política que aprendemos a imbuir em todas nossas ações, ideologias e micropolíticas.”
“Encontros irremediavelmente produtores de saúdes e subjetividades. Saúde que não é só cura ou ausência de doenças, mas produção e afirmação de vida e diferenças. Subjetividades que são constantemente as possibilidades de diferir-se, a invenção e criação de si, do mundo, de mundos no mundo.” – Ela nos diz…
Sobre a vivencia do trabalho do APD, Priscila trata da clínica que se faz na cidade: becos, ruas, metrôs, trens, ônibus, praças e avenidas… e considerando as condições de transporte, reflete como isso afeta nos atendimentos dos profissionais. Considera, ainda, as varias dimensões das pessoas que trabalham no APD: mãe, profissional, filha, estudante, amiga, dona de casa, irmã, amante, etc.
“Uma aposta com o indivíduo e seus familiares ou cuidadores, uma afirmação de que não há naturalidades, e sim construções cotidianas que fazem do impossível possível. Como acompanhante, empresto desejo e coragem e o outro me devolve ousadias. Desta forma, ocupando os espaços, convivendo com os modos diversos de existência, criando novas políticas e resistências…”
Em seguida o grupo foi fazendo a palavra, os afetos e as ideias circularem, referentes a como todas aquelas intensas reflexões nos provocaram.
Muitos Acompanhantes se colocaram, mesmo sendo sua primeira participação no espaço! Houve um movimento coletivo de “desnaturalização” do cotidiano de cada um presente, do trabalho e de questões sociais.
Criticou-se a patologização de problemas sociais.
A angustia que foi mobilizada a principio por tantas provocações foi se transformando em questionamento, em reflexão, em subjetividade, em troca, em recurso…
Agradecemos a presença de todos, especialmente a da Priscila.
Novamente ficou o convite para os presentes para que levem as suas equipes esta maneira igualitária de conversar e trabalhar.
E assim se deu nossa segunda participação e o encerramento da Semana Nacional de Humanização.
GT Roda de Saberes:
Felipe Gargantini Cardarelli
Daniela Gama
Kelly Pereira
Luana Espindola
Elisa Araujo
Tennielle Aguiar
Priscila Mitie Yasutaki
Luana Silva
Kleber Soares
Carolina CA
Por Cláudia Matthes
seu post.
grande abraço
Peju