Ainda a SEMANA NACIONAL em praça pública: reflexões proposições sobre Redução de Danos
Uma das três rodas de conversa do dia 11 de abril – encerramento das atividades da Semana em Sampa, na pça Julio Prestes, em sintonia com o Programa “Braços Abertos” da SMS-SP -, foi sobre a Redução de Danos como Estratégia de Cuidado em Saúde.
Foi sensacional em diferentes sentidos.
Tófoli (Unesp/Campinas), Tiago Calil (movimento É de Lei) e Tadeu de Paula (PNH) fizeram falas complementares, riquíssimas em termos de aportes históricos, conceituais, ético-políticos, estratégicos e desmistificadores da ideologia do caráter epidêmico do uso do crack, do usuário do crack como zumbi, dos diferentes modos de se lidar com a questão do uso de substâncias psicoativas, dos interesses escusos do mercado com a política de internação compulsória.
Além disso, foi de grande valia, principalmente para trabalhadores e gestores de saúde que lá estavam, a concisa e elucidadora fala do Tadeu, marcando a contribuição da PNH na construção e sustentação da estratégia de Redução de Danos para o cuidado em saúde pública.
Tadeu começa afirmando que o tema da redução de danos, e um evento RD em praça pública, é a devolução da rua para todos nós que a perdemos porque a rua foi privatizada. “Atender na rua é trazer a dimensão política da Clínica”. A RD traz uma mudança paradigmática porque , na rua, ouvimos muitas histórias, lidamos com territórios existenciais e completamente singulares demandando o cuidado em rede na sua radicalidade extrema.
Diferentemente da condução dos casos em CAPSs, cuja lógica muitas vezes é a da homogeinização do cuidado, na rua passamos a olhar o território em rede de maneira inapelável. Passamos a lidar com o usuário que, muitas vezes, não quer parar de se drogar, mas quer cuidar de outras questões de saúde que o afligem e que precisam ser contempladas na rede de cuidados.
Outra questão importante ressaltada por ele foi a respeito da política de repressão que, sabemos, se aplica de modos diferentes para as diferentes classes sociais, mas cuja diferença torna-se acachapante para aqueles que produzem cuidados em saúde na rua. A Política repressiva é só para alguns, não é para todos!!! Quem se droga em seus apartamentos, festas, etc, não é submetido à força bruta como são os usuários que estão nas ruas.
Na contramão do proibicionismo, que opera uma lógica binária: ou se é contra ou se é a favor, a Redução de Danos se pergunta como viver em sociedade com as drogas. Fazer a política de RD não é se colocar a favor das drogas, mas olhar para o agenciamento do sujeito com as drogas e daí co-construir um percurso com ele na rede.
Neste ponto, importante frisar, entra a pergunta necessária e capciosa: com que noção de respeito ao cidadão e a seus usos e/ou abusos estamos lidando?
“A idéia do respeito, às vezes, é liberal demais! Se o desejo do sujeito é o de morte a gente intervém, porém, não de modo autoritário. Temos condição de co-construir desejos” e, para tanto, o redutor de danos tem que lidar com territórios existenciais. Só por aí é possível incluir radicalmente a diferença.
Nesta roda tivemos, por exemplo, o depoimento de um usuário de crack que fumava 20 pedras por dia e que, com o “Braços Abertos”, passou a fumar 3 pedras a cada 3 dias. “A redução de danos é tão importante que nem o usuário sabe disso. A amizade entre o médico e a gente é que foi muito importante. Parabéns ao RD”.
Esta foi a última roda de conversa do dia, da qual saímos com a sensação de termos “fechado” a Semana com chave de ouro: circulação da palavra, consistência da conversa nas três rodas, acolhimento dos emergentes, aprendizagem em coletivo, desejo de experimentar novamente tais encontros e de produzir uma sistematização da oferta da PNH em relação à Redução de Danos como estratégia de cuidado em saúde.
Sabemos que, em 2003, a PNH, na pessoa da Regina Benevides, participou da construção da “Política de Atenção ao Usuário de Álcool e Outras Drogas” do MS onde a Redução de Danos é formulada como estratégica.
Cabe-nos, agora, ofertar, de maneira mais sistematizada, os dispositivos de cuidado que vimos produzindo nestes últimos tempos e que são ferramentas importantíssimas para quem está nas ruas, nos CAPS AD, nos CAPS em geral, na Rede de Atenção à Saúde, tentando transformá-la em Rede de Produção de Saúde Coletiva.
Mãos à obra ampliando nossas "Cartilhas", co-construindo a publicização de novos dispositivos!!!
Assita também o vídeo !! Fonte: TVT
Por Tadeu de Paula Souza
É isso aí Cleusita! Reinventar o público e revisitar nossas ofertas. A RD é uma importante diretriz que devemos assumir na PNH. A rua como espaço de reencantamento do concreto se coloca como urgência para as políticas públicas e a PNH. A Semana Nacional de Humanização trouxe o tema das ruas para o centro das pautas. Essas ruas que se entrecruzam no ambiente virtual das infovias amplificam a dimensão de contágio do HumanizaSUS. Parabéns a todos e é hora de renovar nossas diretrizes!