O que falta ao SUS para torná-lo um projeto que honre o que a constituição de 1988 visionava

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Destaco aqui um dos relevantes trechos da entrevista sobre o SUS, do Dr. Jairnilson Paim (ISC/UFBA), concedida  ao Blog do CEBES-Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

Pergunta do Blog: O que falta ao SUS para torná-lo um projeto que honre o que a constituição de 1988 visionava?

Jairnilson: Eu acredito que faltam muitos ingredientes. No entanto, acho que poderíamos inicialmente destacar quatro pontos importantes:

1. A questão da falta de financiamento adequado do SUS é um grande problema. Esse financiamento precisa ser capaz de sustentar um sistema de saúde universal, de caráter público, que defenda a integralidade da atenção e do cuidado. Assim sendo, o financiamento é atualmente insuficiente, e uma parte dele é consumido e desviado por mecanismos dentro dos planos privados de saúde e por outros interesses vinculados ao mercado.

2. Um segundo ponto muito importante diz respeito à necessidade de termos no SUS profissionais e trabalhadores da saúde qualificados tecnicamente, de acordo com os princípios do próprio sistema de saúde brasileiro. Precisamos de profissionais trabalhando com a saúde brasileira que tenham formação profissional, técnica e acadêmica dentro das disciplinas relacionadas com a área da saúde. E, com isso, todos os profissionais do setor que almejam trabalhar no SUS, inclusive na parte administrativa do sistema, teriam a obrigação de passar por uma seleção pública, ou por um concurso público.

3. O SUS ainda não conseguiu adquirir uma gerência contínua, sem interrupções, e composta por profissionais que não estejam vinculados aos interesses partidários e que fiquem sujeitos a serem substituídos assim que um novo partido venha ao poder. Portanto, a descontinuidade administrativa representa um problema sério para a conformação do trabalho coletivo na saúde. Além disso, muitas agências, como a ANVISA e a ANS, que foram pensadas no sentido de garantir uma autonomia do setor, passaram a ser objeto de barganha político-partidária, comprometendo a eficiência de seu funcionamento.

4. Precisamos dar maior ênfase à medicina preventiva, à promoção da saúde e à prevenção de doenças e riscos. Portanto, apesar de nossa constituição apontar para a integralidade do cuidado, nós temos um modelo focado na medicalização e prestamos um atendimento muito segmentado e muito mais centrado no médico do que no usuário.