“Transformando Mentes” – Diagnóstico de Saúde Mental na USF Riacho do Sangue.

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INTRODUÇÃO

Esta intervenção foi realizada durante o Internato de Saúde Coletiva do Curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Foi desenvolvida pelas doutorandas Nathália G. H. B. de Freitas e Priscila Portela Alves, do 9º período, sob coordenação da professora Ana Tania Lopes Sampaio, tutoria da professora Lyane Ramalho Cortez, preceptoria da médica Olivia Maria N. Carlos, enfermeira Aline B. B. L. Cocentino e dentista Carolina C. Martins. Foi empreendido na Unidade de Saúde da Família Riacho do Sangue, no município de Macaíba – Grande Natal/Rio Grande do Norte (RN).
Ao longo das vivências realizadas na área observou-se a necessidade de intervir na saúde mental, uma vez que a unidade não possuía um diagnóstico preciso da demanda, deixando muitos pacientes sem acompanhamento longitudinal pela equipe. Desde a territorialização diagnosticou-se situações de risco (desemprego, drogadição, por exemplo), viu-se também muitos usuários que que necessitam de avaliação da saúde mental e que não estavam inseridos na unidade de saúde, o que foi confirmado com a Sala de Situação que revelou um indicador de saúde mental falho já que não havia dados sobre essa linha do cuidado. O desenvolvimento do Plano terapêutico singular e a experiência da roda de Co-gestão reafirmaram tal cenário de desconhecimento da saúde mental naquela área.  Além disso, a visita ao Caps mostrou uma falta de articulação entre este e a atenção básica.
Sendo assim, a saúde mental foi escolhida como tema para a intervenção tendo como objetivo geral a realização de um levantamento sobre a situação da saúde mental na Unidade de Saúde da Família Riacho do Sangue, englobando todas as microáreas. Com os seguintes objetivos específicos: criar planilha com os dados dos pacientes que necessitam de avaliação ou que já são acompanhados, a fim de organizar essa demanda na USF e realizar mapeamento; realizar capacitação em saúde mental para todos os profissionais da USF; e implantação do grupo terapêutico.

 

METODOLOGIA
 

A execução do projeto teve como ponto de partida o levantamento dos dados, por meio de consulta aos prontuários com a ajuda das agentes comunitárias de saúde. Em seguida, foi elaborada uma planilha com esses dados (nome, idade, prontuário, diagnóstico, medicação em uso e seguimento pelo Caps) e criada uma ficha de saúde mental para aprofundamento desses dados pela equipe, além de uma carteira de agendamento de consultas.

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Foi feita a análise dos dados, obtendo-se a porcentagem de pacientes na área adscrita e por microárea, estratificação por faixa etária, sexo, diagnósticos mais prevalentes, medicamentos mais utilizados e o acompanhamento em saúde mental. Realizou-se o mapeamento das microáreas destacando pacientes com transtornos mentais, abuso de álcool e drogadição.

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A capacitação dos profissionais se deu em dois momentos. Primeiramente houve uma roda de conversa com o psiquiatra do NASF para discutir com a equipe a situação dos pacientes da unidade e o papel de cada profissional nesse contexto. Num segundo momento, o professor de psiquiatria da UFRN Walter Barbalho Soares, realizou uma capacitação com o tema “Saúde mental e Atenção básica”. Por fim, houve o primeiro encontro do Grupo Comunitário de Saúde Mental realizado na USF para informar aos usuários do cadastramento, do agendamento das consultas e da importância do tema (através de dinâmicas).

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RESULTADOS/ CONCLUSÕES
 

Através da análise dos dados foi possível obter um número de 69 pacientes com algum transtorno mental/ álcool/ drogas ilícitas equivalendo a 2,3%) dos pacientes da USF, sendo 36 mulheres (52,8%) e 33 homens (47,8%). Na estratificação por microáreas tem-se:
• Riacho do Sangue: 24 pacientes (3,4%)
• Tabatinga e Lagoa do Boi : 22 pacientes (3,7%)
• Jundiaí e Peri-peri: 14 pacientes (3,4%)
• Eldorado e Quilombo : 9 pacientes (1,4%)
A faixa etária de 30 a 49 anos teve o maior número de pacientes (n=25); os medicamentos mais utilizados foram diazepam, bromazepam, haloperidol e clorpromazina; em relação aos principais diagnósticos, 27% não constam nos prontuários, seguido por abuso de álcool (14%) e transtorno misto de ansiedade e depressão (10%); e, no que diz respeito ao acompanhamento em saúde mental, NASF responde por 32% dos atendimentos, enquanto a USF apenas 20% e 48% dos pacientes permanecem “descobertos”.

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A partir da apropriação desses dados foi possível fazer o diagnóstico da saúde mental em Riacho do Sangue, ferramenta indispensável à implementação de estratégias que possam trazer resolutividade à essa linha do cuidado. Por sua proximidade com famílias e comunidades, as equipes da atenção básica são um recurso estratégico para o enfrentamento de agravos vinculados ao uso abusivo de álcool, drogas e diversas formas de sofrimento psíquico e devem ter esse tema como prioridade em suas ações.
Todos os objetivos propostos foram alcançados e espera-se que o trabalho realizado não seja pontual, mas apenas o início de uma grande transformação da saúde mental nesse município.