Comentário sobre duas frases do editorial “Racismo no Futebol” do dia 13/03/2014 do jornal Zero Hora de Porto Alegre – RS.
Telmo Kiguel
Médico Psiquiatra
Psicoterapeuta
” Não é possível que esses indivíduos continuem achando normal e aceitável chamar alguém de macaco ou se referir a um grupo de pessoas por macacada”.
Inicialmente fiquei positivamente surpreso.
Não importando se a utilização da palavra “normal” decorreu de uma opinião consciente/deliberada ou da intuição do editorialista.
Posteriormente ficarei satisfeito.
Se a partir de agora a ZH terá esse o entendimentoa respeito da conduta discriminatória racista.
Se a intenção do editorialista foi de usar a frase no sentido que nós médicos usamos só nos resta elogiar.
Em Medicina quando se diz que alguem não é normal precisamos no mínimo fazer uma avaliação para definir ou especificar a que estamos nos referindo.
Exemplos:
A anormalidade seria um sintoma ou sinal de algo que não funciona bem? Eventual, antigo, repetitivo?
Seria uma característica (física ou mental) de alguem?
Seria uma doença passageira ou definitiva ou crônica?
Não importa a qual dêsses três exemplos ele estaria se referindo.
Seria um progresso se a sociedade se interessasse em investigar/descobrir quais são as características pessoais de um racista.
“Racismo se combate com justiça”.
Sabe-se que a conduta racista se pune com justiça pois é um crime.
Mas isto não exclui, também, que se possa prevenir esta conduta criminosa?
E se o racista da primeira frase argumentar que não considerava a sua conduta anormal?
Baseado que a sociedade como um todo e, em especial, a Medicina e a Psicologia não definem como anormal esta conduta.
E agora, contrariando o que sempre aprendemos, neste caso, pode-se dizer que a natureza deu um salto.
A Ciência Jurídica se apropriou do estudo dessa conduta/comportamento.
E a definiu como crime.
Certamente as pessoas que convivem muito tempo com um racista não se surpreendem quando ele acaba condenado.
Isto significa que a conduta criminosa poderia ser evitada.
Já que presença/conhecimento de idéias/pensamentos racistas existem muito antes da conduta ocorrer.
Espera-se que a Medicina e a Psicologia também se apropriem desse estudo para que se possa prevenir esta conduta.
E não só punir/condenar.
Com prevenção, sempre, muitos sofrimentos são evitados.
Reproduzido do blog Saúde Publica(da) ou não.