Espiritualidade na Educação Popular em Saúde
Sendo a educação em saúde um campo que intermedia o fazer médico com o cotidiano e os valores da população; a partir da d´cada de 70 houve uma transformação de uma forma de fazer a educação em saúde passando de um formato mais autoritário e normatizador, para uma educação popular que apreendesse a integralidade da saúde. Assim, a educação popular (EP) consolidou-se enquanto uma estratégia de reflexão das formas de aplicar o saber científico, bem como de transformar as formas de lidar com o adoecimento e a cura, o biologicismo e o autoritarismo por vezes impostos no cotidiano da saúde. A EP tem como fundamento a busca por uma sociedade mais integral, solidária, justa e que valorize a participação de todos. Desde o seu surgimento, em meados do século XX, sempre houve em sua prática uma forte presença da dimensão religiosa, porém sempre inscrita como algo circunstancial e não enquanto parte fundante do pensamento e práxis pedagógica da EP.
O texto também ressalta a importância da tomada de consciência da luta pela cidadania, da apropriação de cada um na conquista de seus direitos, no entanto, traz a reflexão de que o respeito aos direitos do outro não implique em um distanciamento do mesmo, apontando para o risco de uma “anestesia à interação afetiva”, manifestada pelo sentimento de solidão, apatia e até de rejeição social. Diante desse contexto, defende a “tomada de inconsciência” da sociedade, no que se refere ao aprendizado do acolhimento afetivo e espiritual ao outro para a construção de uma ética social pautada na solidariedade e justiça. Ou seja, defende que a tomada de consciência da cidadania e dos direitos inerentes a ela também deve vir atrelada à tomada de inconsciência marcada pela abertura ao outro, pela intereção amorosa, pelo acolhimento ou outro em toda sua complexidade e inteireza. Para isso, ressalta a importância do reconhecimento e valorização das dimensões intuitiva, sensorial e emocional na prática da EP, a exemplo dos países latino americanos.
O texto, desse modo, pontua a importância da ênfase no conceito de espiritualidade e não de religiosidade no processo de superação das resistências à temática da espiritualidade em saúde, uma vez que a espiritualidade não está, necessariamente, atrelada a uma religião. Também traz a noção de que a centralidade no diálogo, defendida pela EP não contempla apenas a dimensão consciente. As dimensões intuitivas e simbólicas do inconsciente também são contempladas, visto que a religiosidade é um espaço privilegiado de expressão e elaboração da dimensão sensitiva, intuitiva e inconsciente da população. Para isso, propõe o aprendizado do manejo, do equilíbrio entre as dimensões da racionalidade, da emoção e intuição na produção de saúde, o que infelizmente é frequentemente desvalorizado no cotidiano da saúde.