Formação em Psicologia para o SUS: Narrativa de Estágio Curricular na Política Nacional de Humanização.
No período de fevereiro a junho de 2014, a partir da ênfase Psicologia e Processos de Promoção e Prevenção à Saúde, realizei estágio curricular do 10º Semestre do Curso de Psicologia junto à equipe de apoiadores institucionais da Política Nacional de Humanização, da Secretaria Municipal de Saúde de Maceió. Minha aproximação com o tema "saúde" se deu ao longo da graduação onde participei de diversas atividades voltadas à tal discussão, como: disciplinas que discutiam o conceito de Clínica Ampliada no Cuidado em Saúde e Políticas Públicas, o que produziu em mim o desejo por uma prática de estágio que valorizasse a Formação para o Sistema Único de Saúde, superando o modelo tradicional baseado no atendimento individual;também participei, como aluna bolsista, de Iniciação Científica discutindo o campo da gestão em saúde e a inserção da Psicologia nesses processos – fortalecendo mais o desejo por práticas que apresentassem outros modos de fazer Psicologia. Deste modo, a PNH entendida enquanto fomento de espaços para discutir os processos de trabalho, de forma a valorizar os envolvidos na Rede de promoção à saúde no SUS (gestores, trabalhadores e usuários) se caracteriza também como espaço de formação inicial. A vivência buscou basear-se e produzir sentidos a partir de um modo de gestão participativa, cogestiva, horizontal e que se propõe favorecer sujeitos cada vez mais autônomos e protagonistas.
Abaixo, uma amostra sistematizada do que foi realizado no estágio.
OBJETIVO GERAL:Vivenciar práticas da Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão do SUS, a partir da integração ensino-serviço, de modo a contribuir com a formação em Psicologia para os serviços da rede de saúde.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Estudar sistematicamente a PNH e a atuação da Psicologia no SUS;
Inserir-se em toda a rede de atenção à saúde do município de Maceió;
Participar de rodas de conversas com gestores, trabalhadores e usuários do SUS;
Exercitar a Clínica Ampliada;
Fomentar espaços de diálogos sobre a Humanização e Políticas de Saúde em Instituições de Ensino Superior (IES).
CAMPO TEMA: Formação em Psicologia para o SUS e operacionalização da PNH na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Maceió, Alagoas.
INTERLOCUTORES Gestores, trabalhadores e usuários do SUS; Movimentos Sociais da Área da Saúde; estudantes e professores dos Curso de Psicologia e áreas afins.
PERCURSOS
Participação em reuniões da equipe de trabalhadores do CAPSad;
Participação nas reuniões de Núcleo da PNH no 7º Distrito Sanitário de Maceió;
Participação no Curso de Formação de Apoiadores da PNH em Alagoas;
Organização do Encontro sobre Clínica Ampliada, comemorativo aos 10 anos da PNH no SUS;
Formação de trabalhadores da saúde de Maceió sobre os princípios e diretrizes da PNH;
Participação na Câmara Técnica da Humanização (CTH) de Alagoas;
Participação na Reunião da Rede Cegonha de Alagoas.
Resultados (ou Efeitos)
A primeira reunião que participei enquanto estagiária pautava a recente decisão da SMS pelo imediato remanejamento de todos Psicólogos que atuavam na atenção básica de saúde para outros serviços da rede. Nesta roda, além dos efeitos para rede de saúde e usuários, os psicólogos conversaram sobre os efeitos negativos que isso os causava. Frustrei-me pois eu, futura psicóloga, não sabia o que fazer para minimizar o sofrimento daquelas pessoas. Problematizando sobre as conversas ocorridas na reunião, perguntei-me por que e para que a urgência em resolver ‘instantaneamente’ os problemas e se isto estava a serviço da garantia de cuidado.
As práticas vividas no estágio me permitiram construir afetos e redes de contatos com muitos serviços e atores de saúde. Mas foram as Rodas de Conversa que me sintonizaram ao cotidiano dos trabalhadores. Estes apontaram que a falta de recursos físicos e materiais, diferenças salariais, etc. interfere no modo de trabalhar, gerando um sentimento de descrença com o SUS. Impressionei-me também com o fato de grande parte das pessoas que conheci, acreditarem no SUS e lutarem diariamente pela melhoria.
Não estava familiarizada com práticas horizontais, onde todos têm voz e vez. Durante a formação, há um discurso de que o graduado é detentor do saber e, de alguma forma, isto produz profissionais que tem dificuldade de conversar quando as relações são menos hierarquizadas. Nesse sentido, caracteriza um processo de formação técnico e normativo, que não permite agregar a plasticidade, a criatividade e a inventividade à atuação.
Considerações finais
O contato com diversos serviços e atores na rede de saúde em Maceió me permitiu compreender que há muitas formas de "produzir SUS", que apesar de o nome ser Sistema Único de Saúde precisamos perceber que as ações não são padronizadas, cada local possui modos de operacionalizar a saúde à seus limites e possibilidades. Enquanto estagiária na equipe de apoio institucional, fui convidada constantemente ao exercício da escuta e facilitar o diálogo no serviço, o que leva a abandonar a concepção de saber hegemônico, pois quem mais conhece as limitações e potências dos locais são as pessoas que ali estão diariamente. É preciso apostar nos vínculos para que cada vez mais pessoas impliquem-se nos processos de transformação em seus ambientes de trabalho e que estes avanços possam ganhar cada vez mais visibilidade. Compreendo que se trata de uma aposta na mudança de cultura e que eu estava contribuindo a ‘plantar sementes’. À medida que a PNH se propõe contagiar os diversos atores da saúde e não ser imposta (verticalmente) pelos gestores, considera-se que não é algo simples, tampouco a se conquistar a curto prazo, mas a ser alcançado em longo prazo. A Roda de Conversa passou a ser mais que um método à medida que tem me provocado refletir sobre as formas de relações.
Por Emilia Alves de Sousa
Que bacana o seu relato trazendo essas percepções/vivências dos modos diferentes de produzir o SUS. E quero destacar uma das suas reflexões que eu achei muito interessante.
"As práticas vividas no estágio me permitiram construir afetos e redes de contatos com muitos serviços e atores de saúde. Mas foram as Rodas de Conversa que me sintonizaram ao cotidiano dos trabalhadores".
Sem dúvida, a roda de conversa é uma potente ferramenta de participação e de construção coletiva.
Estou com um grupo de estagiários do curso de Serviço Social, e o seu post vai ser sugestão de leitura!
Obrigada pelo compartilhamento!
Emília