Não temos previsão de avançar no combate ao racismo.
Telmo Kiguel
Médico psiquiatra
Psicoterapeuta
Prezado Professor Hélio Santos
A sua bela explanação tem muito valor pela sua legítima e nobre preocupação pelo não avanço no combate ao racismo.
(Vejam em https://www.youtube.com/watch?v=BOVGrYcY7cw&feature=youtu.be ).
Aliás, essa percepção é a mesma que já expusemos em vários posts aqui no blog.
A criminalização das condutas discriminatórias e os avanços nas políticas públicas a favor dos grupos discriminados não conseguem ter efeito de prevenção.
Existem três tipos de prevenção: primária, secundária e terciaria.
Quando falamos em prevenção, estamos nos referindo àquela que se antecipa a instalação do preconceito, a primária.
Só teremos avanços verdadeiros e consistentes no combate ao racismo quando consigamos preveni-lo primariamente.
E a prevenção em saúde só é possível quando se consegue conhecer, definir, entender o funcionamento do agente causador do sofrimento humano.
No caso da conduta discriminatória racista, o sofrimento infringido no discriminado é mental, sendo a ação somente verbal.
E quando a ação, além de verbal, é também física, teremos sofrimento mental e físico.
Em medicina, sabe-se que o causador de sofrimento mental e/ou físico pode levar o outro ao suicídio.
Sabe-se, também, que essa conduta não será modificada somente pela educação, pois esta corresponderia à prevenção secundária.
Ao menos, não pela educação formal, rotineira, às quais estamos acostumados em todas as sociedades contemporâneas.
Seria, mais ou menos, como dizer a um drogado que ele não deve se drogar.
Se ela evitasse esse sofrimento, países com melhores indicadores de educação do que os nossos não teriam a ocorrência de condutas discriminatórias.
Inclusive em escalas crescentes.
E, aqui, no Brasil, não teríamos manifestações discriminatórias originadas de pessoas com educação formal avançada/completa.
Quanto a sua interessante hipótese de que crianças nascidas numa ilha, na qual os educadores seriam “instrutores especiais, tais como judeus, ciganos, índios, negros, orientais” e que, em conseqüência, essas mesmas crianças não poderiam ser pessoas discriminadoras, leva-nos a concluir que educadores, de diferentes etnias e não discriminadores, não formariam filhos discriminadores.
Porém, constata-se que filhos de casamento “misto” (branco/negro; religioso x não religioso; ocidental/oriental) não ficam imunes de serem discriminadores.
A sua afirmação de que “ninguém nasce racista” é muito pertinente para um bom debate.
Nossa ideia é que, obviamente, o ser humano nasce psicobiologicamente imaturo e sem idéias pré-concebidas.
As primeiras ideias ou conceitos – adequados ou não – são formados em casa e não nas escolas.
E, se não amadurecer em casa para a aceitação/reconhecimento do outro diferente/diverso dele, poderá tornar-se um discriminador.
Um adequado amadurecimento mental de pais/educadores/sociedade, nessa ordem, certamente, pode ajudar a prevenir a formação de discriminadores.
Quanto a sua afirmação que o racismo é a instituição mais antiga do Brasil, caberia salientar o seguinte:
Caso consideremos a imagem da Primeira Missa como uma desconsideração com a religião dos índios, podemos entender aquele ato como uma imposição colonialista e discriminatória.
E, talvez, a conduta discriminatória mais antiga conhecida no Brasil!
Reproduzido do blog Saúde Publica(da) ou não
Data 18/06/2014
Por Marcelo Dias
poderíamos considerar a educação, não nos modelos tradicionais, mas num modelo construtivista, emancipatório, como uma atuação simultaneamente primária e secundária? O que você acha?
Abraço, Marcelo.