A invisibilidade dos negros é indesejável. A dos racistas é paralisante.
Telmo Kiguel
Médico psiquiatra
Psicoterapeuta
Prezado professor Douglas Belchior
Sou seu leitor e temos objetivos em comum: o enfrentamento das Condutas Discriminatórias (CD). (1)
No seu blog está clara a preocupação, também, com o machismo e a homofobia.
No seu texto “Para os presidenciáveis, os negros não existem” encontrei muitos trechos fundamentais para um bom debate. (2)
https://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/10/03/4026/
Bom debate é o que ocorre entre os que estão ativamente empenhados em enfrentar os discriminadores.
Inicio com sua muito procedente preocupação com a invisibilidade do negro. (3)
Na condição de médico psiquiatra tenho um enfoque complementar ao seu.
Diante de um agente causador de sofrimento humano temos a obrigação de descobrir/definir o mesmo.
Lá no nosso blog (1) enfatizamos como o discriminador é mantido, confortavelmente, invisível. (3)
E o desinteresse em definir, deixar a descoberto, o racista torna quase impossivel prevenir a sua ação. (4)
É por isso, no nosso entendimento, que as “declarações racistas proliferam” porque o seu agente não é reconhecido.
Mas,de qualquer maneira, o que fazer para o negro deixar de ser invisível?
Propugnamos que lute para que a ciência defina o seu inimigo: o racista invisível. (5)
Durante este movimento, que seria um avanço no combate ao racismo, o negro e o racista se tornarão visíveis.
Vejamos o trecho em que você aborda indiretamente a questão acima onde o negro ficou visível:
“Pergunto aos mais velhos: qual foi a última vez ou o último período em que o debate sobre racismo foi tão presente e evidente no Brasil? Talvez no auge do debate sobre cotas raciais há uns 10 anos? No centenário da abolição, em 1988? Na transição do trabalho escravo para o trabalho livre no final do século 19?”
Daí decorre a ideia que há dois tipos de debate/divulgação na imprensa.
Ao primeiro podemos chamar de ocorrência conservadora.
Quando o negro é vítima de algum tipo de CD do tipo “racismo no futebol”. (6)
Segue-se uma revolta, a repercussão na imprensa, a tentativa de indiciamento, etc…
E o segundo tipo é o desejado e descrito nos exemplos da sua frase acima.
O racista só pode ser enfrentado, pelo negro e por suas lideranças, porque foi reconhecido.
Esta é uma ocorrência progressista por enfrentar a estrutura construída pelos racistas.
E o que tenho proposto não é nenhum enfrentamento físico ou parlamentar.
A proposta é que, assim como propuseram à Ciência Jurídica que criminalizasse a CD.
Sugiro que proponham tornar visível o discriminador antes dele agir de forma criminosa. (4)
Reivindicando que a Medicina e a Psicologia definam a CD.
Sabemos que o discriminador age e causa sofrimento mesmo antes de ser definido como criminoso.
E para terminar, a sua referência ao “racismo estrutural e institucionalizado”.
Quem estrutura e institucionaliza o racismo?
São pessoas, racistas que agem livremente por não serem conhecidas, definidas, caracterizadas como tal.
Creio que enfrentar o racista, definido, é um bom caminho para enfrentar a questão racial no Brasil.
1 – https://saudepublicada.sul21.com.br/category/discriminacao/
4 – https://saudepublicada.sul21.com.br/2014/09/26/educacao-e-criminalizacao-nao-previnem-discriminacao/
4 – https://saudepublicada.sul21.com.br/2014/04/05/progressos-na-inibicao-da-conduta-discriminatoria-2/
5 – https://saudepublicada.sul21.com.br/2014/06/27/o-antissemita-seria-um-doente-e-o-racista/
5 – https://saudepublicada.sul21.com.br/2014/08/12/racista-uma-definicao-que-compete-a-saude-mental/
6 – https://saudepublicada.sul21.com.br/2014/03/13/violencia-e-racismo-no-futebol/
Fonte: https://saudepublicada.sul21.com.br/
Publicado em: 17/10/2014