Freud, tabu, laicidade e Charlie Hebdo
Telmo Kiguel
Médico Psiquiatra
Psicoterapeuta
Um novo tabu: como defender o Estado Laico.
Muito foi e ainda será escrito sobre os assassinatos de Paris.
E quem escreve se depara com uma questão complexa, multifacetada, multicausal.
E com inúmeras consequências possíveis e imprevisíveis.
Freud fez algumas afirmações que devem ser lembradas no momento:
Uma das características/objetivos das religiões é normatizar a conduta humana.
A liberdade religiosa, na intimidade e nos templos apropriados, deve ser defendida.
Todo indivíduo é virtualmente inimigo da civilização.
O homem é o lobo do homem.
Aqui no blog debatemos sobre o que foi ou não publicado.
Já nos referimos a pesquisas sobre indicadores de saúde, discriminação, violência, etc. em Estados Laicos (EL).
Este o foco do texto de hoje.
As abordagens, até agora, evitaram a questão de como deve/pode ser feita a defesa da laicidade pelos que a ameaçam.
Tangenciavam a questão se referindo a eles como radicais/fanáticos religiosos.
E o que interessa é se sua ação religiosa pública/política é a favor ou contra o EL.
Vi entrevistas com líderes religiosos islâmicos na França.
Que diziam o óbvio: eram contra assassinatos por atos terroristas.
Jornalistas não perguntaram sobre suas posições em relação ao EL.
Seja em relação a França ou a estados teocráticos árabes.
Os motivos para um líder religioso não tocar no assunto é fácil de imaginar.
Mas e os dos jornalistas de não tocar no assunto como se fosse tabu?
A impressão é que, para alguns religiosos, fanáticos radicais são sempre os outros.
Por acaso os que são contra as liberdades laicas ou a favor da implantação das teocracias agem abertamente?
O desprezo/discriminação pelo EL nunca é frontal/transparente/explícito.
Os inimigos da laicidade se mantém tão invisíveis, dissimulados e indefinidos como os discriminadores.
O que pode determinar que a defesa do mesmo seja, também, de uma forma indireta, sutil, irônica, satírica.
Como as charges da Charlie Hebdo.
Ou como a proibição da construção dos minaretes na Suiça, em 2009.
Ou como disse José G. Temporão, ministro da Saúde, que o planejamento familiar é questão de Saúde Pública e não religiosa (2007).
A impressão é que os inimigos do EL não aceitam oposição às suas ações.
Nem admitem que estão atacando, desprezando, discriminando, afrontando a Constituição do país.
E no caso, os chargistas não tinham o direito de escolher sua forma de defender a Constituição Francesa?
Fonte https://saudepublicada.sul21.com.br/