Entre desmistificações e construções em saúde: uma disciplina pode gerar mudanças.
A Prof.ª Cristina Camelo ministrava uma disciplina aos psicólogos residentes intitulada Psicologia e o SUS na Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto e do Idoso da UFAL. Com vistas a ampliar a discussão para outros temas em saúde, ela convidou o Profº Sérgio Aragaki, consultor da Política Nacional de Humanização e referência para o estado de Alagoas PNH/SUS para que ministrasse algumas aulas durante o período de julho a dezembro de 2014.
Os primeiros contatos e discussões sobre a Política Nacional de Humanização foram essenciais para desmistificar alguns conceitos. Já havia estudado sobre a Política, no entanto, a disciplina foi essencial para o aprofundamento em seus princípios, e, portanto, assim ocorreu também um estudo sobre os princípios do SUS, já que tal Política busca pôr em prática tais princípios no cotidiano dos serviços de saúde.
Uma das primeiras desmistificações e uma das mais essenciais é que a Política de Humanização (PNH) não toma por humano uma referência idealizada do “bom homem” (caridoso, manso, domesticado), mas um ser humano real, encarnado em práticas sociais, portanto, não pretende “humanizar” as pessoas, mas sim os processos de trabalho. É a partir da análise dos problemas e dificuldades que objetiva disparar processos de mudança com a reafirmação e fortalecimento dos princípios do SUS. A política foi criada sem portarias, com o intuito de estar presente no interior de outras políticas.
Também discutimos sobre as diretrizes da PNH como a Clínica Ampliada, Co-gestão, Acolhimento, Valorização do trabalho e do trabalhador, defesa dos direitos do usuário, fomento das grupalidades, coletivos e redes e experiências de um “SUS que dá certo.” Os quais não cabem ser discutidos aqui, mas podemos trocar experiências por meio dos comentários sobre tais diretrizes.
O Profº Sérgio nos apresentou novos espaços de diálogo do SUS, como a Rede Humaniza SUS incluindo-nos na comunidade de Alagoas, o programa do Espasus produzido pela rede TVT. Por meio da rede, pudemos conhecer novas práticas e profissionais e compartilhar as experiências produzidas na residência. Por intermédio do conhecimento da prática de diversos profissionais do Brasil percebemos que os processos de humanização não são generalizáveis, mas são determinados pelas características locais de cada realidade.
Como a própria política objetiva provocar mudanças, não saímos “imunes”, durante as aulas, falávamos de nossos desafios, ideias e propostas sobre a nossa atuação nos cenários de práticas da residência, são eles: Hospital Dia, Cacon (Centro de oncologia) e unidade básica de saúde Evaldo Silva. O nosso olhar sobre o serviço, os profissionais e usuários começou a ser modificado. Um olhar para produzir tensionamentos, incluir os mais diversos setores para enfrentar os problemas. Durante a própria aula o professor utilizava o dispositivo da tríplice inclusão: inclusão de todos os sujeitos, de coletivos e de perturbação. As discussões eram feitas em roda.
No entanto, para mim um dos maiores ensinamentos que pude construir durante a disciplina foi compreender que a humanização não está apenas no serviço, não está lá fora. Está em nossa relação com os sujeitos, portanto, durante as reuniões da residência, as próprias aulas entre outras. A disciplina provocou bastantes mudanças que os residentes de psicologia sugeriram que a mesma entrasse no eixo comum das disciplinas da residência, portanto, todos os residentes de diversas áreas iriam cursar.
Por Maria Luiza Carrilho Sardenberg
Olá Renata,
Seja muito bem-vinda à RHS com mais esta postagem!
Teus relatos são de uma clareza e objetividade que encantam. Trazer à luz o sentido que a PNH confere aos processos de humanização é fundamental e nem sempre bem compreendido.
Continue postando e convide mais gente para fazê-lo pois é uma das maneiras de contagiar mais gente para conhecer as boas práticas do SUS que dá certo.
Iza