PERFIS E PRÁTICAS DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE MENTAL EM DOIS HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS DE GRANDE PORTE

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Na rede de atenção psicossocial brasileira, os profissionais de saúde são atores importantes no processo de transformação das políticas públicas em saúde mental entre os diversos serviços. Na realidade do hospital psiquiátrico, entende-se a necessidade de ampliar o debate em torno do atual contexto de práticas desenvolvidas. O estudo objetivou analisar o processo de reforma psiquiátrica e a política de saúde mental no Estado do Rio Grande do Norte (RN) a partir dos perfis e práticas dos profissionais de nível superior em dois hospitais psiquiátricos. Pesquisa transversal e descritiva, com dados quantitativos e qualitativos, realizada em dois hospitais psiquiátricos do RN. O universo da população alvo foi de 95 profissionais, considerando-se a margem de erro de 8%, taxa de não resposta e os critérios de inclusão: possuir vínculo efetivo com a instituição por meio de aprovação em concurso público por, no mínimo, seis meses, sendo servidor estadual ou municipal; possuir uma carga horária semanal mínima de 20 horas no serviço; participar diretamente de atendimento e/ou atividades com pacientes e familiares. A amostra final foi de 60 profissionais. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário de perguntas fechadas e semiabertas sobre o perfil socioeconômico, as políticas, as práticas e a formação em saúde mental. Tabularam-se os dados quantitativos no software estatístico SPSS e para análise utilizou-se estatística simples e bivariada, do tipo qui-quadrado, adotando-se o nível de significância valor p<0,05. Para análise dos dados utilizou-se a análise de conteúdo de Bardin. Os achados qualitativos obtidos com as questões semiabertas no Analyse Lexicale par Contexte d'un Ensemble de Segment de Texte (ALCESTE) foram agrupados em quatro eixos temáticos: Atuação profissional em saúde mental; Formação em saúde mental; Cenários da reforma psiquiátrica e o hospital psiquiátrico; Políticas e práticas em saúde mental: desafios para profissionais no hospital. O perfil dos profissionais revelou a maioria do sexo feminino (89,7%), enfermeiras (36,7%), faixa etária de 50-59 anos (42,9%), carga horária de 40 horas semanais (52,4%), tempo de conclusão da graduação de seis a 15 anos (57%) e 21,4% mencionaram ter especialização em saúde mental. Sobre as práticas desenvolvidas, no atendimento individual encontrou-se associação entre quem não constrói ou faz parcialmente o projeto terapêutico associado a quem realiza cuidados de observação e anotação. No atendimento familiar, obteve-se cuidado de consulta na crise; e, no atendimento de grupo a recreação. Na análise dos eixos temáticos observou-se que apesar de mudanças identificadas nos perfis e práticas dos profissionais de nível superior nos serviços de atenção à saúde mental, com a implementação de novas políticas públicas para a área, os achados sugerem a confluência de assimetrias e divergências na atuação das equipes nos hospitais psiquiátricos, à dificuldades na gestão do serviços, as reinternações frequentes, reduzido quantitativo de serviços e equipamentos disponíveis, à alta demanda de usuários, desarticulação da rede de atenção psicossocial, e a própria escassez de recursos humanos qualificados para compor esses serviços. Assim, os cenários evidenciados circunscrevem, em parte, o descompasso político e ideológico atual do processo de reforma psiquiátrica nacional que nega o papel da assistência realizada no ambiente hospitalar, embora não tenha avançando o suficiente com a criação de novos serviços que justifiquem a extinção total dessa instituição.
Descritores: Serviços de Saúde Mental; Recursos Humanos; Educação; Enfermagem; Saúde Mental.