AUTISMO: Condição humana, inclusão, saúde e cidadania.
Sabe-se que o autismo se caracteriza fundamentalmente pela dificuldade de meninos e meninas para se socializar, de interagir com as demais crianças da sua faixa etária, bem como com pessoas adultas, como se buscassem se isolar dos contextos sociais onde estejam. Comportamento predominantemente agitado, quando solicitadas de forma mais contundente, reage de maneira desconexa, movendo-se sem controle, coordenação e sintonia, além de emitirem sons ou palavras soltas e sem relação com o que se esteja tratando pelas outras pessoas.
Do ponto de vista científico, o autismo é considerado uma perturbação do neurodesenvolvimento em que existe uma disfunção cerebral orgânica subjacente. Durante muito tempo o autismo não foi compreendido, o que levou a diagnósticos equivocados, intervenções duvidosas e a pais frustrados. Preocupados, os pais lutam por melhores opções educativas e intervenções adequadas às necessidades dos seus filhos, levando-os a um constante desafio e fonte de preocupações.
Curioso perceber a reação das pessoas não habituadas com crianças autistas. Não raro, talvez pelo desconhecimento dessa especial condição humana, muitos as rotulem “mal educadas”, “paparicadas pelos pais”, “pirracentas”, até mesmo “insuportáveis”. Pecam por julgar apenas pela aparência, uma vez que os autistas têm características neurológicas deveras diferenciadas das demais, seus cérebros comportam cargas eletromagnéticas acima da média, o que as tornam agitadas por mera questão de metabolismo, dinâmica neurológica cerebral.
É como se recebessem ininterruptas descargas elétricas e diversas reações bioquímicas geradas pelos cerca de 86 bilhões de neurônios que todos hospedamos em condições mais harmônicas dentro do nosso cérebro. O que para a maioria das pessoas apenas ocorre em menor freqüência e desencadeia sinal de desconforto controlável, para os cérebros autistas, estaria, digamos assim, próximos de um curto circuito fisiológico, segundo pesquisas na área das neurociências. Fatores externos, como ruído excessivo, influenciam sobremodo a atividade elétrica cerebral das pessoas em geral, mas para autistas representa impulso suficiente para o desencadeamento dessas descargas bioquímicas e eletromagnéticas com expressivas alterações da atividade cerebral.
Diane Ackerman, em Uma História Natural dos Sentidos, esclarece que a maioria das pessoas pensa na mente localizada na cabeça, mas as últimas descobertas da fisiologia sugerem que a mente não se encontra exatamente no cérebro, mas percorre o corpo em caravanas de hormônios e enzimas, ocupadas em dar sentido às experiências que catalogamos com tato, paladar, olfato, audição e visão. Nesse aspecto, é importante lembrar que os autistas são pessoas potencialmente sensíveis aos excessivos estímulos sonoros externos, em particular aqueles que veiculam sinais de descompensação emocional das pessoas que os cercam.
Na verdade, muitas são as limitações das ciências de saúde e neurociências quanto à produção de conhecimento suficiente para subsidiar os profissionais que atuam nos campos de prática clínica de diagnóstico e tratamento dessas pessoas, por isso, acredita-se que maioria delas esteja fora dos programas de saúde oferecidos pelas políticas públicas de saúde e reabilitação. Uma lacuna que precisa ser eliminada, considerando que os pais, familiares e pessoas significativas dos autistas sofrem sem poder contar com orientações, acompanhamento e avaliação de profissionais especializados.
De causa ainda pouco esclarecida, há estudos que apontam uma origem genética, enquanto outras investigações atribuem causas metabólicas. Em essência, o autismo é muito mais de causa multifatorial, uma vez que sobressaem situações que podem fazer a criança se fechar.
Entre as formas de identificação destacam-se: quando o bebê não fala, mas pode interagir com sorrisos e olhar. A criança que não sorri, não gargalha, não responde quando chamada. A criança maior pode falar, mas não usar isso para se comunicar. Na maioria das crianças, é possível perceber os sinais do autismo.
No Planeta Vida, unidade cadastrada no CNES, agora habilitado na categoria CER II, para as especialidades de Reabilitação Física e Reabilitação Intelectual, através da Portaria nº 1.027, de oito de outubro de 2014, referência na Microrregião 1, Centro Sul Fluminense, temos muitas crianças e adolescentes autistas, com os quais adotamos conduta transdisciplinar para consultas, avaliações e acompanhamentos dessas pessoas, de forma a ampliar a compreensão de cada caso em particular. A participação efetiva da família é essencial. O trabalho da equipe com autistas tem possibilitado expressivos avanços na sua socialização e interação com demais pessoas que circulam na unidade, percebido também com outros usuários e com demais servidores que atuam na unidade.
Eliminando-se gradativamente as barreiras comunicacionais, demais estratégias estimuladoras da socialização serão implantadas, até que se alcance a plena inclusão dessas pessoas no sistema educacional, no sistema de saúde e reabilitação, no mercado de trabalho, na vida em sociedade.
Wiliam César Alves Machado
Secretário Municipal do Idoso e da PcD de Três Rios/RJ
Por Emilia Alves de Sousa
Olá Wiliam,
Muito bom o seu texto.
O autismo é uma doença complexa, que requer a atuação de profissionais especializados, e nem sempre contamos com equipes qualificadas nas unidades de saúde para atendimento.
Trabalho num hospital infantil e não dispomos desse atendimento.
Provocar esse debate, portanto, é muito importante para ampliar as possibilidades.
Emília