Mídia e publicidade influenciam nos transtornos mentais
A psicanalista Jan Abram é membro da Sociedade Britânica de Psicanálise e professora do Instituto de Psicanálise de Londres.
Conferencista sênior da University College de Londres e a maior referência mundial da obra do pediatra e psicanalista infantil Donald Winnicott,
Eis a entrevista que concedeu ao Jornal da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre.
SPPA | A sra. poderia nos falar um pouco sobre sua trajetória como analista e como uma pensadora da psicanálise?
Jan Abram – Eu me interessei pela psicanálise quando fiz um curso de Drama e Movimento na Terapia, após ter trabalhado em teatro na educação. O trabalho de Freud inspirou e me ajudou a dar sentido a minha atividade em um hospital psiquiátrico. Posteriormente, me interessei pelo trabalho de R. D. Laing, pioneiro da antipsiquiatria no Reino Unido. “Pacientes” se tornaram “pessoas” que poderiam ser tratadas em comunidades terapêuticas psicanalíticas. Então eu “descobri Winnicott”. Sua maneira de elaborar o trabalho de Freud fazia intensa ressonância com minha experiência anterior de te- atro-na-educação, o drama e o movimento na terapia – especialmente nos conceitos de ilusão e do brincar.Winnicott aprofunda as teorias de Freud e, junto com a indispensável experiência de análise pessoal, são cruciais na minha maneira de pensar.
SPPA | Que temas ou questões da psicanálise têm lhe interessado atualmente?
Jan Abram – Existem dois principais temas que atualmente me in- teressam: o paternal e a pesquisa psicanalítica. Estou escrevendo sobre o “Pai como um objeto total” no desenvolvimento psíquico primitivo. Este artigo analisa os últimos trabalhos de Winnicott em suas noções de pai que, no meu ponto de vista, está relacionado com a noção de função paternal. Minha proposta estende este úl- timo conceito. Minha outra área de interesse está associada com o trabalho do “Grupo de Paris” – um grupo de trabalho que pesquisa sobre a especificidade do tratamento psicanalítico hoje. No meu trabalho recente, procuro mostrar como a escuta interanalítica ins- tiga uma reflexão única de trauma desmentido pela dupla analítica.
SPPA | A sra. concorda que nas últimas décadas está acontecendo uma maior incidência de transtornos mentais graves, tais como: distúrbios psicossomáticos, transtornos alimentares e adições? Se for esse o caso, a que atribui essa maior incidência?
Jan Abram – Uma resposta curta seria: é a “publicidade” e a mídia. Winnicott criticava muito a publicidade e dizia que toda a publicidade constituía um brutal impacto sobre a psique. Com os graus extremos de riqueza e pobreza no mundo, que são acentuados pela mídia, no meu ponto de vista, o bem-estar da mente humana é afetado negativamente. Todos nós, aonde quer que vamos, somos bombardeados com publicidade e isso nos afeta de maneira tanto óbvia quanto subliminar. As pessoas imaturas são especialmente vulneráveis a este tipo de sedução. Acredito que Winnicott estava certo e que talvez esta seja uma das principais razões para uma maior incidência de certas doenças mentais.