REDE SAMPA – Saúde Mental Paulistana – Famílias e o Sistema Único de Saúde
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Narrativas do curso sobre atendimento familiar na REDE SAMPA
Famílias e o Sistema Único de Saúde ( terceira aula – 17/04/2014 )
Na esteira do combate às naturalizações dos conceitos no campo da saúde caminha a produção dos documentos do SUS, base para as aulas/encontros da Rede Sampa.
Nenhuma narrativa é inocente, neutra. Todo discurso carrega implícita ou explicitamente os agenciamentos que o compõem e, especialmente no caso do objeto família, ainda encontramos todo tipo de idealizações a obscurecer o olhar sobre o campo de nossas práticas de cuidado. Uma delas é, sem dúvida, a velha fórmula da configuração burguesa de família.
Mas, será que o exame das configurações contemporâneas não apontaria para uma resistência a este tipo de enquadre? A família nuclear ainda estaria presente no imaginário dos trabalhadores de saúde?
O conceito de família trazido pelos Cadernos de Atenção Básica – Saúde Mental ( Ministério da Saúde, número 34, capítulo 5, 2013 ) instrumentaliza a nossa prática de forma a resistir à referida naturalização:
"Família é um sistema aberto e interconectado com outras estruturas sociais e outros sistemas que compõem a sociedade, constituído por um grupo de pessoas que compartilham uma relação de cuidado (proteção, alimentação, socialização), estabelecem vínculos afetivos, de convivência, de parentesco consanguíneo ou não, condicionados pelos valores socioeconômicos e culturais predominantes em um dado contexto geográfico, histórico e cultural." ( p. 63 )
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_34_saude_mental.pdf
Tendo chegado a esta perspectiva de singulares formas de viver, nosso grupo relata vários encontros com as famílias que nos procuram no HSPM pelos mais variados motivos. Os relatos vão confirmando a cartografia das famílias apontada na definição e caminhamos juntos para o pedaço mais potente do trabalho: que fazer? e de que maneira?
Os modos de fazer também são singulares, vemos isto claramente nos relatos deste grupo, mas podem se alinhar com dispositivos de cuidado potencializadores de uma certa ética do encontro com o outro. Como o diálogo, escuta e acolhimento aberto às diferenças a partir do reconhecimento de cada família que temos à nossa frente; invenção de dispositivos que possam diminuir as tensões destes encontros no cotidiano dos trabalhadores de saúde, como por exemplo, investir numa "economia libidinal" em ambientes de trabalho excessivamente estressantes como o PS; buscar produzir encontros, como reuniões de organização coletiva do trabalho; trabalhar com dispositivos grupais; conectar-se com a produção e alimentação de políticas públicas. E, o mais importante a meu ver, participar ativamente dos espaços virtuais e presenciais de composição da vida presente.
Por deboraligieri
Iza querida.
Suas reflexões desta aula sobre família na Rede Sampa me fizeram perceber que, da mesma forma que se tenta padronizar os comportamentos sociais e qualificá-los de forma binária em normais e anormais, também as relações sociais acabam sofrendo essa mesma violência padronizante. Apesar da clara existência de múltiplas formas de constituição familiar, fato perceptível de maneira bem simples ao caminharmos pelas ruas, há uma proposta no Congresso que insiste em se chamar de "Estatuto da Família" definindo que família seria apenas aquela constituída por homem e mulher, e pelxs filhxs dessa união. Esta, na verdade, é uma tentativa de reinventar a realidade, de legitimar através da lei uma situação que não acompanha sua realidade social, e de violentar todas as formas da constituição familiar que não obedeçam a este padrão, qualificando-as como anormais. Proposta infeliz, que todas as pessoas que defendem o direito à dignidade humana devem combater, manifestando publicamente seu repúdio a esse estatuto, como forma de mostrar aos legisladores que a realidade não se curva às suas preferências ideológico-religiosas, tampouco nós, seus eleitores. Uma das formas de manifestar esse repúdio é assinar o manifesto do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo contra esse indignificante projeto de lei pelo link: https://www.crpsp.org.br/emdefesadafamilia/#a
Beijos,
Débora