Humanização e Reforma Psiquiátrica: A radicalidade de ética em defesa da vida

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   Política de Humanização e Reforma Psiquiátrica encontram-se na radicalidade ética em defesa da vida. Experiências de cuidado em saúde mental na lógica da clínica antimanicomial nos dizem sobre a humanização do cuidado e da gestão do SUS ao derrubar muros, buscar a liberdade, a defesa dos direitos dos sujeitos com sofrimento psíquico ou mental, enfim, ao transformar relações e modos de existir, desestabilizando fronteiras de saberes, territórios de poder e modos instituídos de constituição de processos de trabalho em saúde.
   As diretrizes, no caso da Política Nacional de Humanização(PNH), expressam o “método da tríplice inclusão” e apontam no sentido da: clínica ampliada; cogestão; valorização do trabalho e da saúde dos trabalhadores; acolhimento; defesa dos direitos dos usuários; ambiência; fomento das grupalidades, coletivos e redes; construção da memória do SUS que dá certo (BRASIL, 2008).
    A saúde mental evidencia o ponto de radicalidade de uma política de saúde que é a busca da autonomia e do exercício do protagonismo dos sujeitos. Humanizar, nesta concepção, implica na prática clínica comprometida com a invenção de humanidades: algo que a saúde mental conhece de perto na prática efetiva de desconstrução de muros. Nessa perspectiva, a partir do princípio referente à inseparabilidade entre clínica e política, entre produção de saúde e produção de sujeitos, encontram-se PNH e luta antimanicomial.

     A Política de Humanização em clínica antimanicomial tem como algumas perspectivas: a valorização da palavra do louco, a produção artística/cultural, expressão criativa e criadora de outra inscrição da experiência da loucura, o retorno do exílio manicomial e a consequente (re)aprendizagem de tornar-se habitante de uma cidade, a inserção dos sujeitos nos dispositivos de cuidado não especializados, particularmente na atenção básica e, por fim, a expressão da palavra do cidadão, por meio da atuação do movimento social. Humanizando o tratamento, ao inverter a resposta totalitária da internação, muitas vezes imposta aos sujeitos, pelo convite e consentimento ao tratamento.
     A Reforma Psiquiátrica humanizou e transformou a clínica e o processo de trabalho voltado para o cuidado dos usuários, reinscreveu o sofrimento dando-lhe justa significação: uma contingência na experiência humana. A loucura e drogadição são experiências eminentemente humanas. A loucura – tanto aquela expressa pela estrutura psicótica quanto a adição às drogas, não retira dos sujeitos sua humanidade, nem pode subtraí-los de sua cidadania. Primeiro corte estabelecido pela luta antimanicomial para invenção de uma política efetivamente comprometida com o sofrimento humano e com a defesa da vida.
    A humanização na saúde mental, precisa ir além da abolição das práticas que violam direitos, desrespeitam a cidadania; faz-se necessário ir ao ponto de raiz da humanização: o reconhecimento do outro como ser igual a mim – em direitos e, radicalmente distinto, em sua subjetividade.

 

     Texto elaborado para a disciplina de Introdução à Psicologia da Saúde, ministrada pelo Profº Msc. Douglas Casaroto, no Curso de Psicologia da Faculdade Integrada de Santa Maria – FISMA.