Sobre sanitaristas, identidades e saúde pública: o que eu vou ser quando crescer?

Olá Allan,

A tua frase não combina com a bela reflexão que faz logo em seguida. E lembrar da formulação de Ricardo Teixeira sobre o sanitarista como um "artesão de redes" é muito legal. Você levanta aqui uma conversa interessante demais.

Oi amigo querido!

Se Ricardo Teixeira trás, esse belo e complexo, conceito do sanitarista "artesão de redes", que ja um conceito subjetivo, podemos complicá-lo ainda mais.
Uma vez numa aula com Tikanory ele refletia sobre o conceito de rede. A rede como a sinergia entre desiguais.

Sinergia: Quando se tem a associação concomitante de vários dispositivos executores de determinadas funções que contribuem para uma ação coordenada, ou seja o somatório de esforços em prol do mesmo fim, tem-se sinergia.

A rede nesse sentido, não é algo instrumental, à parte do serviço, da produção de cuidado, mas um estado de fluxo de ações, que funciona ou não.

Como é ser um profissional artesão de redes nesse sentido? Com certeza não algo que será definido, palpável, descritível. Altamente subjetivo terá diferentes configurações de acordo com a subjetividade, com seu território, com seus rizomas, de cada formado. 

E mais, terá diferentes desdobramentos de acordo com as inserções desses diferentes atores.

Com uma difícil tarefa de tecer a sinergia nos processos de cuidado de saúde, não vejo o futuro do sanitarista como obscuro, mas um clarão. Iluminado por diversas possibilidades, pela dialética eterna da construção de um Sistema(rede), que por sua própria definição estará sempre em movimento.

Um abraço!!

Iza, obrigado!

A minha intenção foi de fazer um "desabafo" sempre próximo da experiência da dúvida e da incerteza, sempre próximo das minhas dúvidas e incertezas. Por isso, não quis afirmar nada (rs). 

Inclusive, pensar o papel do sanitarista, da saúde, da saúde pública e do SUS frente a sociedade de risco. (já que o risco é complexo, multifacetado, assim como, a produção de saúde)

Bia, lembro de um discurso do nosso ministro em Fortaleza no congresso da Rede Unida, justamente, sobre a rede. A rede se dobra, desdobra, se rasgar ela pode ser costurada, em movimento intenso e extenso de multiplicidades da rede. Acho que o sanitarista é um des-dobrador. 

Não só o sanitarista, mas, todos os profissionais de saúde que fazem da rede a sua prática profissional. 

Boas conversas!!! 

Meu caro allang, não se aperreie não, essa dúvida só passa mesmo é de um lado pra outro do discernimento. Você já é!

Allan querido.

Seu texto (uma preciosidade!) me lembrou das palavras da Professora da UERJ Heliana de Barros Conde em palestra sobre Foucault e análise institucional, ao definir que intervenção institucional seria estar entre as instituições para analisar as implicações (não para legitimar o modo ser, mas para transformar) – estando dentro das instituições – na tentativa de provocar a experiência do abalo do presente, através da transversalização, que seria um rizoma a partir das diferenças.

Uma das consequências, segundo ela, dessa transformação das instituições, seria a transformação das pessoas implicadas com elas, pois não é possível que o indivíduo participe de um processo de transição externa sem ser afetado por ela.

Suas reflexões me fizeram pensar justamente sobre o caminho contrário: como este pensar sobre o que é ser (em si) um sanitarista te impulsiona para a sua transformação, e como essa transição interna pode também ser uma espécie de semente de transformação do próprio modo de ser do sistema público de saúde. 

Leio no seu texto não apenas uma tentativa de análise das implicações em ser um sanitarista, mas também a busca por um resultado que não se esgote em sua satisfação com os conhecimentos adquiridos, mas que se expanda na melhoria da saúde para todas as pessoas. Ou seja, me parece que você não quer apenas saber as condições de desenvolvimento da saúde coletiva, você quer promover e melhorar essas condições. E apesar de não haver uma resposta certa para as dúvidas, o caminho que você escolhe é: estar entre o SUS.

E o que seria o SUS senão uma política de transformação da realidade através da promoção da saúde de um conjunto heterogêneo de pessoas – todos nós brasileiros – desenvolvida justamente pelas pessoas que integram o sistema: usuários, trabalhadores e gestores do SUS? O SUS somos nós que estamos dentro dele, e que nos relacionamos através dele, em condições de igualdade a partir de nossas diferenças.

Assim pensando, o que me vem à cabeça como profissional do Direito que sou, é que os princípios e diretrizes constitucionais do SUS também passam por entre esse ser sanitarista que busca a saúde integral, universal, igualitária, gratuita, e com participação da comunidade (da qual cada um de nós também faz parte).

Pensando assim, vejo então (e vejo você) o sanitarista como um sujeito ético-estético-político-jurídico!

Abraços,

Débora