A vida é como um jogo de vídeo game, você passou de fase!

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Após AVC raríssimo, médico perde movimentos e conta história em livro
Ortopedista teve que readaptar rotina e aprender a viver com a deficiência.
'Quarto 65' traz detalhes da vida do uberlandense dentro e fora do hospital.

Ele trabalhava como médico ortopedista e tinha uma rotina normal até que aos 33 anos se tornou paciente. Foi o que aconteceu com o uberlandense Guilherme Pinheiro de Freitas que sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) raríssimo e perdeu os movimentos dos dois lados do corpo. A partir de então, a vida dele começou a se passar dentro de um hospital, no "Quarto 65" e foi nesse mesmo lugar que veio a ideia de escrever um livro, que será lançado em agosto.

Segundo o médico, foi tudo repentinamente. “Veio como uma forte dor de cabeça e eu não conseguia mais me sustentar em pé. Lembro que ouvia e percebia tudo até chegar no hospital”, relembrou. Freitas passou 18 dias internados em Uberlândia, sendo 14 em coma. Depois, foi para Goiânia onde ficou por mais dois meses num hospital.

Antes do ocorrido, o mineiro atuava em Uberlândia como ortopedista e traumatologista sub especializado em cirurgia do quadril. O AVC dele foi proveniente de uma trombose cerebral e o fez perder a fala e os movimentos centrais.

Freitas confessou que a passagem dele pelo hospital foi difícil e que, apesar das mínimas chances de sobrevivência, ele venceu e renasceu. “Estava acostumado a ‘residir’ do outro lado como médico e pude viver e conviver com os vícios de conduta e a frieza de todos ao meu redor. Senti na pele como é ser um paciente e o pior foi que eu não tinha como reclamar”, afirmou.

"Apesar das mínimas chances de sobreviver, eu estou aqui. A despeito da quantidade de opiniões de que eu ficaria numa cama, fiquei muito bem"
Guilherme Pinheiro de Freitas, médico

O médico relatou que, por incrível que possa parecer, o momento mais difícil de tudo que ele viveu foi quando teve alta e pode voltar para casa. “Até então, não havia me deparado com esse mundo sem acessibilidade e não foi fácil me adaptar”, confessou.

Hoje, depois de dois anos de reabilitação e – com 35 anos de idade – conseguiu voltar a se comunicar bem, mandar emails, andar alguns metros e comer normalmente. A superação, além de devolver sorrisos, ainda foi estampada em 128 páginas do livro.

“Meu padrinho é ortopedista no Rio de Janeiro e por saber que meu caso era muito raro me incentivou a contar essa história. Durante uma visita ele me deu a ideia e até o título. Apesar das mínimas chances de sobreviver, eu estou aqui. A despeito da quantidade de opiniões de que eu ficaria numa cama fiquei muito bem”, ressaltou.

Antes e depois
Antes do AVC, Freitas conta que era uma pessoa, mas hoje é outra. Ele costuma dizer que a dádiva da vida é poder reescrever os passos. “Mudei muito. O Guilherme de agora é muito mais evoluído. Hoje dou valor em pequenos gestos e consigo enxergar as bondades antes de qualquer coisa. É preciso muito amor e dedicação para ultrapassar os obstáculos que são impostos pela vida”, disse.

O momento que mais o marcou em toda essa história “recente” foi quando ele começou a sair de casa. “Parecia que o carinho da minha família e dos meus amigos para comigo havia aumentado. Esse imenso afeto fez com que as minhas dificuldades fossem amenizadas”, afirmou.

Livro será lançado no dia 12 de agosto, em Uberlândia; renda será doada 

Quarto 65
A obra "Quarto 65" será lançada no dia 12 de agosto, às 19h, na Câmara Municipal de Uberlândia. No livro, publicado pela Assis Editora, Freitas fala do AVC raríssimo que sofreu, no qual 0,001% dos pacientes ficam bons. Toda a renda arrecadada com as vendas será doada.

O livro conta em detalhes sórdidos tudo o que o uberlandense passou e pensou. Conta também como ele via as coisas e a vida e como essa visão mudou depois do ocorrido. Segundo o autor, a edição é mais que uma simples história de vida. “O Quarto 65 conta como podemos e devemos ajudar ao próximo”, completou.

Esta é a primeira obras do uberlandense, mas ele já garantiu que muitas outras virão. Foram nove meses de produção até chegar o material final. “Não pense que algo foi tirado de você. A vida é como um jogo de vídeo game, você passou de fase”, concluiu.

https://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noticia/2015/08/apos-avc-rarissimo-medico-perde-movimentos-e-conta-historia-em-livro.html