PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DOS VIVOS. DO BOLINHO DE BACALHAU E DA CAMALEÔNICA PNH…

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miguel angelo maia 14/08/2015

 

Saudações companheiros Susistas!

Em primeiro lugar, este post pretende ser comentário de diversos outros importantes e necessários que abriram um debate importante sobre a controversa existência da PNH, sempre camaleônica em suas manifestações e que, na ordem de aparecimento, são:

https://redehumanizasus.net/91613-repudio-ao-fim-da-pnh-enquanto-politica-de-governo
https://redehumanizasus.net/91684-politica-nacional-de-humanizacao-compoe-novo-arranjo-de-apoio-do-ministerio-da-saude-as-regioes-de-saude
https://redehumanizasus.net/91704-sobre-o-fim-da-pnh-enquanto-politica-de-governo
https://redehumanizasus.net/91722-pnh-como-politica-de-governo-fim-ou-mudanca

Pois bem, a necessidade que senti de me estender sobre alguns assuntos neles levantados faz com que opte por um novo post, pois certamente ultrapassaria o tamanho para apenas comentário e, enquanto comentário, acabaria tendo que ser repetido em todos os outros postados.

Manifesto-me, como prometido em comentário no último post citado, não só porque vejo com alegria esta conversa pública que, a meu ver, é formadora e ao mesmo tempo apoiadora dos movimentos pelo SUS que dá certo, independente se muitas vezes pode, no calor excessivo, parecer que é um bate boca entre composições e oposições eivadas de interesses personalísticos. Certamente assim também o é, porque todos nós nela envolvidos somos humanos, demasiadamente humanos, para a nossa glória e desespero. Ninguém aqui é puro anjo ou demônio e, portanto, abdicarei, em meus comentários, de considerar que na frente ou atrás vem gente do mal ou do bem, porque considero que militar pelo SUS, trazendo sua singularidade para a roda, expressando-se ela do jeito que puder e souber se expressar é sempre positivo. Trazer o conflito para a roda, encarná-lo no combate intensivo, na afirmação da diferença, a meu ver, é a alma do princípio democrático.

Democracia é diferença, é cogestão de muitos para muitos, não é fazer para ou por, é fazer com e, para isto, as tensões precisam aparecer com todas as suas cores para que ao final, no combate, surja algum comum provisório. Digo isto porque é assim que encaro o que até aqui tem se apresentado nesta discussão sobre a PNH, que, certamente, se ri de todos nós e passeia e dança viva em meio ao calor dos corpos que, com seu protagonismo, dão sua contribuição para o reencantamento do movimento instituinte que foi, é e deverá ser o SUS.

Para poder falar de cara limpa, sou ex-consultor da PNH porque decidi sair nas últimas investidas que desmontaram ou redirecionaram a PNH, como queiram, e, por ter decidido sair, sem entrar em detalhes, já bem podem ver que não considerei factível minha permanência naquilo que ora denominam a PNH, ou a nova PNH. Como sou avesso a todos os tipos de modelizações, acho que entre a oposição e a composição cabe um mundo de multiplicidades e, assim, não me considero nem compositor nem opositor do atual movimento, como diz Ricardo Teixeira na esteira de Edu Passos e Regina Benevides, também prefiro acompanhar "com atenção os desdobramentos destas mudanças para saber se os princípios construídos nestas experimentações poderão reverberar nas novas configurações da máquina do Estado". Mas isto tem certo limite que já já explicarei.

Parabenizo a Maria de Jesus e os valorosos articuladores de São Paulo por terem publicizado seu repúdio; à Cleusa pela necessária manifestação pública dos moldes em que se deu aquilo que aparece como a PNH compondo o novo arranjo de apoio do MS às regiões de Saúde, post que também parabenizo, assim como o primoroso post do Ricardo Teixeira, que junta todos em um, numa faina de composição da conversa e, de quebra, como se não bastasse, dá sua importante contribuição ao assunto, tentando qualificar a conversa, numa tentativa de tentar trazer um comum de entendimento do que estamos falando, com sua cuidadosa digressão sobre política de governo.

Que belezura ver tantos consultores (muitos ex-consultores PNH) participando da conversa, coisa raríssima por aqui, apesar de sempre desejada e estimulada. Maravilha ver que somos tão diferentes e diversos em nossos entendimentos e, que, acima de tudo, somos vivos na paixão que nos conclama à luta pelo SUS. Mas melhor que tudo isto, ver nossos formadores príncipes, nossos companheiros dos territórios, se manifestarem e, com eles, trazerem a tão importante e diversa dimensão pública da PNH, a única, como vejo, que mais importa. Políticas de governo passam com os governos, política pública permanece, neste sentido, a PNH não só vive, mas fala, tem voz e se diz por si mesma. Obrigado companheiros dos territórios.

Sem desqualificar a importância do que os consultores e ex-consutores trazem para o debate, ao contrário, achando que isto deve continuar para este e outros assuntos, pois é material de formação de todos nós, num trânsito de mão dupla, pois formamos os territórios e eles nos formam com o seu saber, quero, neste post, colocar tudo isto entre parênteses, numa suspensão, para falar com as brilhantes Marias e Raphaéis do Brasil afora, porque, se estiver enganado me digam, acho que o que eles colocam não foi ainda contemplado por nenhum dos materiais postados.

O debate, a meu ver, está tomando um desnecessário tom, digamos, ‘acadêmico’, quando o repúdio, a tristeza, a desolação, o desamparo, a indignação (falo aqui dos sentimentos expressos nos comentários que tenho acompanhado na RHS e no Facebook) e que, por economia, sintetizarei numa única expressão: um sentimento de desfiliação que gera uma sensação de orfandade; uma orfandade de abandono que causa tristeza, por um lado, num sentimento de ter sido violentado no cerne mesmo daquilo que mais que acreditar, vivem e envidam esforços vitais de comprometimento e corresponsabilidade e que, de repente, são simplesmente sentidos como deixados de lado, como de menos importância para as novas estratégias de governo, sejam por quais motivos forem. São, e aqui falo como analista do trabalho, minha expertise, expressão mais que comum de todos os trabalhadores frente a modelos de gestão que não os levam em conta naquilo que sentem e expressam, muito embora os utilizem para suas estratégias.

Vamos lá companheiros, tenhamos ouvidos não surdos, os trabalhadores dos territórios estão repudiando a sensação de serem apenas instrumentos de uso de políticas que se modificam ao bel prazer de gestores, infelizmente personalísiticos, que querem impor sua marca e, para isto, desconsideram o que já existe e é sentido como movimento que dá certo, como um oxigênio no meio da sufocação de um verticalismo solapador da vida, principalmente, da vida afetiva. É a isto que eles chamam fazer sempre o mesmo. O repúdio é ao abuso de suas vidas, de seus esforços, de seu engajamento, de seus afetos. E como não seria assim? Estamos, nós trabalhadores, diria do mundo inteiro, cansados de nos vermos triturados por uma máquina de fazer sempre o mesmo e de termos que começar sempre de novo, porque simplesmente o que funciona e dá certo é desmontado em nome de um projeto melhor. Cansamos deste tipo de messianismo dos infernos.

Leiam com atenção e cuidado o que nossos formadores do território, apoiadores, articuladores, trabalhadores, estão nos dizendo. Pífio, se acharem que a Cleusa os incitou com a sua verdade, porque, se formos ver em Santa Catarina, o Carlos colocou a coisa de outro jeito “mais suave” e, no entanto, como as Marias Josés de São Paulo, os Raphaéis de Santa Catarina sentiram do mesmo jeito.  Prefiro, como analista do trabalho, ler as coisas de outro jeito. Diante do desconforto dos consultores frente a serem obrigados a saírem de movimentos, abandonando aqueles que se engajaram, lutaram e se comprometeram, sentido que faziam a diferença para a sua realidade, como não ver aí uma atmosfera comum de violência institucional que se abateu sobre todos, apoiadores e apoiados, se sabemos que esta relação, ao menos na militância PNH, não se separa?

Raphael está certo em sua sensibilidade política, porque a figura que ele vê no post do Ricardo Teixeira o remete para a sua sensação de realidade: “Um ponto de interrogação é que a figura que você usa para ilustrar este post, transmite uma mensagem como se a PNH estivesse "cortada ao meio" ou "meio apagada"… e existe um ditado que diz uma imagem vale mais que 1000 palavras”.

É este ser forçado a abandonar movimentos, é esta violência contra os vínculos afetivos, que nos faz a todos, consultores envolvidos e companheiros dos territórios, nos sentirmos cortados ao meio e meio apagados. Violência contra a transversalidade, contra a cogestão, contra a inseparabilidade ente clínica e política que nos faz vomitar, e como não fazê-lo, neste impropério teórico talvez, mas sentimento real: A MORTE DA PNH COMO POLÍTICA DE GOVERNO.

Morreu sim a política de governo ali, porque, tenho certeza, enquanto companheiros, os consultores não deixarão de acompanhar e estar de algum jeito nestes movimentos, como pessoas, mas não mais como representantes do MS. Se vive a PNH, portanto, qual foi o corte, qual foi o apagamento, qual foi a sensação de morte?

Por isso Ricardo Teixeira, por mais que considere importantíssimo seu post e a discussão que faz nele, que deve continuar, alerto apenas para que não é essa a discussão em questão.  Ela se torna um falso problema, porque não é saber se a PNH é ou não ainda Política de Governo, se ela está viva ou morta, se o novo arranjo permitirá ou não avanços substanciais o que está no cerne da problemática aberta como repúdio. Neste sentido é que a citação do Edu e Regina é impossível, porque, enquanto trabalhadores, não há esta parada para acompanhar o que se desenrolará, porque temos que lidar com um vácuo, sentido como morte, que nos incita a nos reinventarmos às nossas expensas até que o novo arranjo se decida e, mais uma vez, se abata sobre nós em pleno movimento. Aí, de novo, nosso movimento será forçado a ser interrompido, numa adequação a um melhor sempre imposto, sempre vindo de cima e do qual nunca sabemos bem o que é, porque não participamos destes fantásticos projetos ideados por intelectuais e nos oferecido como panaceias para aquilo que é sempre sofrer imposições do último melhor pensado.

Marias Josés, Raphaéis e Cleusas do Brasil afora (colocando a Cleusa agora como trabalhadora também), estou ouvindo vocês e, como vocês, ainda não vejo respostas colocadas para isto.

Neste ponto, para falar de forma não acadêmica, convidando os que acham que não sabem falar a falar como sabem, em relação ao fim ou não da PNH usarei uma analogia.

No Rio de Janeiro, dentro da comida de boteco, há uma iguaria apreciada: o famoso bolinho de bacalhau. De fato, o modo de fazer o bolinho varia muito, pode-se colocar mais ou menos batata, mais ou menos bacalhau, substituir batata por aipim (mandioca, macaxeira), temperá-lo de muitas maneiras inimagináveis, sem que ele deixe de ser bolinho de Bacalhau. A PNH, como bem salienta o Ricardo, veio o tempo todo rearranjando sua maneira de fazer o bolinho de bacalhau. Ela sempre foi diversa e diversificada, porque partia sempre daquilo que, humilde, aprendia com os territórios. Neste sentido, ela sempre foi camaleônica. De certa forma, podemos dizer que este novo arranjo pode ser entendido como outra maneira de fazer o bolinho de bacalhau. Mas cadê a conversa com o território?

No entanto, por questões várias, passando de financeiras a gosto pessoal, muitas vezes se substitui o bacalhau por merluza, que é outro peixe de sabor parecido. Neste caso, a iguaria continua sendo vendida como bolinho de bacalhau. Os acostumados, os experts em bolinho de bacalhau, podem até gostar do bolinho de merluza, mas sabem e muitas vezes protestam quando tentam passar bolinho de merluza como se fosse de bacalhau.

A quantidade de bacalhau em um bolinho pode variar muito, pode mesmo ser misturada com a merluza, por exemplo, mas ele só será realmente bolinho de bacalhau se houver um mínimo de bacalhau nele.

Nós nos últimos tempos da PNH, em seus velhos arranjos, viemos tentando assegurar um mínimo de bacalhau no bolinho. Para alguns, este mínimo era mínimo demais, quase um fiapo de bacalhau, se fiapo. Para outros, este mínimo era suficiente. Assim, uns ficaram e compraram o bolinho como sendo de bacalhau; outros saíram, porque consideraram que não havia bacalhau suficiente e que seria inútil esperar que, com o tempo, um bolinho de merluza pudesse ser bolinho de bacalhau.

O favor que a Cleusa nos prestou, assim penso, foi o de denunciar que o bolinho de bacalhau estava sofrendo profundas transformações não somente em seus arranjos de fazê-lo, mas em sua substância primeira: o bacalhau.
Nada contra bolinhos de merluza, mas temos que ser honestos e dizer que ele está sendo transformado ou misturado a outras coisas que não é mais bacalhau.

Assim, termino este post, já gigante, apenas para dizer que independente de nossas considerações teóricas a respeito da PNH, da política de governo e outras mais, importantes sem dúvidas, elas neste momento podem soar para os territórios como ‘masturbação mental’ de intelectuais, quando o que eles gritam é outra coisa bem mais perturbadora.

Por que o apoio do MS foi retirado aos seus movimentos em marcha, considerados potentes por eles? Em que o apoio aos serviços e aos territórios singulares poderia atrapalhar ou prejudicar a regionalização pretendida? Por que acabar com aquilo que eles consideram bom em nome de um ótimo futuro e incerto? Por que vínculos afetivos corresponsáveis e cogestivos de quem milita por um SUS que dá certo, de repente, foram desconsiderados e vistos como não mais estratégicos?

Estas questões, não teóricas, mas feridas na carne dos apoiadores dos territórios, eu não vi ninguém responder.

E assim, utilizando o mesmo texto do Edu Passos e da Regina Benevides, destacaria outro ponto brilhantemente colocado:

"Garantir o "caráter constituinte" do SUS, impõe que possamos identificar os problemas contemporâneos que se dão na relação entre Estado e as políticas públicas. É esta relação que queremos problematizar neste momento que o projeto de uma Política Nacional de Humanização retoma o que está na base da reforma da saúde do porte daquela que resultou na criação do SUS”. Problema semelhante ao atual,como vejo.

Penso que é esta relação que a voz da política pública questiona e, mais que questionar, repudia. É esta relação que está sendo sentida como cortada, apagada e, no limite, morta.

Não a subestimemos, não passemos por cima dela, porque, querendo ou não, esta revinculação é necessária para o estabelecimento da confiança. Ela só se faz, a meu ver, com conversa sincera, transparente, jogo aberto e limpo. E conversa, digamos bem, qualificada, sem bate bocas, sem reativismo e contra-reativismo, mas na afirmação das paixões alegres.

Acredito que a RHS tem esta vocação e é espaço aberto para isto, como Máquina Expressiva do SUS, como sempre a nomeei. Enquanto esta máquina democrática/bolinho de bacalhau não for substituída por um bolinho de sardinha enlatada, presto minhas homenagens à RHS e aos seus editores, em quem confio, além de admirar.

É fundamental esta retomada de confiança com os territórios para os futuros trabalhos da SAS/MS, para a nova PNH seja lá como se estruture e se arranje daqui para frente, após ter sido dissolvida pelo coletivo anterior. Porque, não esqueçamos, são estes mesmos protagonistas com os quais terão que contar para efetivar o novo arranjo de apoio descentralizado.

A perspectiva de um novo abriu um fosso nas ações em movimento, deserdou os movimentos daqueles em quem confiavam, criando uma sensação de que seus movimentos já não servem para mais nada. Uma sensação de descaso, desfiliação e de orfandade que, se não cuidarmos agora, certamente aparecerá como obstáculo mais a frente. A marcha das Margaridas estão aí para demonstrar o que pode os violentados.

Há um pensamento, acho que do Jung, que diz: “o lixo que colocamos no sótão da casa tem a estranha mania de aparecer na porta da frente”. Portanto, cuidemos e tratemos do nosso lixo. Não fujamos aos conflitos. Procuremos estar atentos para não dissimulá-los, não por cinismo ou por falsidade, mas porque as questões devem ser respondidas dentro da realidade colocada por aqueles que a formulam, não pela realidade que está em nossas cabeças.

No mais, não me oponho aos projetos do MS, não me oponho a nova PNH, milito pelo SUS e neste momento em que ele sofre profundos ataques, acho que nos dividirmos e nos enfraquecermos não nos potencializa. Mas a militância precisa de certa confiança, porque, ao final e ao cabo, não lutamos por qualquer SUS, não lutamos por qualquer coisa. Não vale tudo, como bem dizia Regina Benevides.

Ou construímos juntos ou juntos nos destruiremos favorecendo os que querem destruir.

Abraços e até breve.

Miguel Maia
 

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20 Comentários

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Por deboraligieri

Querido poeta.

Como sempre, muito pertinentes suas palavras em relação ao debate. Se o SUS é feito por pessoas, (todas) as pessoas envolvidas no atendimento em saúde devem ser ouvidas sobre o assunto. Não sei se não li com a devida atenção, mas me parece que no seu post você sugere uma certa unanimidade em relação às manifestações dos territórios sobre o fim da PNH, trazendo como reforço deste argumento as manifestações da Cleusa, da Maria José e do Raphael que, em todos os comentários, manifesta mais dúvidas e questões importantes para o debate qualificado do que certezas.

Queria trazer também os comentários do Rui e da Eneida, nos posts https://redehumanizasus.net/91613-repudio-ao-fim-da-pnh-enquanto-politica-de-governo e https://redehumanizasus.net/91704-sobre-o-fim-da-pnh-enquanto-politica-de-governo, respectivamente:

"Estranho isso, estamos ocupando a conferência com a pauta da Humanização e da PNH, não sabia que estava sofrendo esse processo de 'readequação'."

"Gostaria de informar no entanto, que a PNH no meu Estado (Mato Grosso), vai bem obrigada, sempre contou com o apoio de quem acreditou nela e continua acreditando, isso inclui, consultores (Maria Elizabeth Mori, Olga Matoso, Simone Eineck, Carlos Gama, e tantos outros que fizeram parte do I Curso de Apoiadores da PNH Tecendo Redes, apoiadores matriciais cito Ana Paula Silva da Costa, representando tantos outros como Mirella etc. No início de julho, aconteceu uma oficina de "Ambiência e suas dimensões no SUS" conduzida com muita competência pela apoiadora Ana Paula. Iremos sentir falta se esse "desmonte absurdo" for mesmo adiante, sim, porque até agora não acredito, e acho que deveria ser repensado."

Na minha visão, não existe unanimidade em nenhum campo – nem no acadêmico, nem nos territórios – sobre o fim ou continuidade da PNH, seja de que forma for.

A certeza que existe é que, sejam quais forem os desdobramentos que estamos todos tentando acompanhar com atenção, o diálogo com a oitiva de todas as vozes, como você bem observou, deve ser feito, e estamos aqui na RHS para isso, para promover o debate.

Grande abraço,

Débora

    Por miguel angelo maia

    Bela Débora

    Muito pertinente sua fala, mas veja que o que você cita vem de locais aonde a readequação real, não inventada pelos que assim se manifestam, ainda não atingiu movimentos que estão a caminho e, que, estranhando o que foi colocado, reafirmam seus movimentos e temem que, se houver desmonte, ele chegue até eles.

    Eu falo sobre materiais postados em locais em que a interferência foi sentida de forma violenta, me restrinjo a este foco e, por isto, começo o post referendando todos os outros e dizendo que quero falar sobre algo que eles questionam e que, a meu ver, carece ainda de resposta, se é que há resposta.

    A PNH vai e irá bem, independente disto, porque o que entendo como PNH não se restringe aos seus arranjos governamentais. Acredito que mesmo em São Paulo e Santa Catarina, que entraram no assunto, deve haver movimentos que continuam sem notarem nada de incomum e para quem este tipo de conversa deve soar como estranhamento.

    Não falo de nenhuma unanimidade e, do jeito que sou, acho que nem falaria, porque toda unanimidade engloba em si uma exclusão das diferenças.

    Apenas analiso uma controvérsia em que percebo, no mínimo espectro de matizes em que está sendo publicizada, que há questões não respondidas.

    Enfim, não me preocupo com a quantidade, nem tomo ela como índice daquilo que poderia importar. Me preocupo, isto sim, com a qualidade das manifestações que se fizeram unicamente naquilo que foi expresso no material publicizado e ao qual, como contexto de análise, me ative.

    Há, no facebook, incontáveis manifestações no mesmo sentido e, por isto, tenho estimulado para que elas venham para esta Máquina Expressiva do SUS, a RHS.

    O que estou querendo não é promover uma bandeira política, mas uma conversa de diferentes matizes sobre um mesmo tema. Falo sobre posts específicos e sobre falas específicas e, se não me engano, circunscrevo publicamente de que plano estou falando e de onde falo, digo, de minha implicação com o que falo.

    Gostaria imensamente que mais vozes do território adentrassem este campo e nos ajudassem a entender o efeito disto que, nem ex-consultores, nem consultores atuais da nova PNH, incluindo aí a valorosa equipe da RHS e a atual gestão da SAS, têm  condições de fazer, sobreimplicados que estamos no processo.

    Cleusas, Raphaéis e Marias Josés se espalham no facebook por fulanos e sicranos de vários nomes, assim como deve existir Eneidas e Ruis em estranhamentos e mesmo  em outros afetos.

    Não pretendo e nunca pretenderei falar em nome de unanimidades porque nem mesmo eu comigo sou unânime. Mas, se queremos algum movimento em comum, temos sim que solicitar a participação de todos, sejam quais forem suas cores e matizes.

    Tenho, na minha função de apoiador, hoje desvinculada formalmente do MS, mas nem por isto menos apoiador, conclamado o quanto posso o que leio nas redes a adentrarem esta rede, na qual as diferenças podem se manifestar e encontrar outras diferenças.

    Acredito que conversar, trocar, tensionar diferenças, com disposição de abertura e acolhimento, é sempre bem vindo e é ainda melhor vindo, ou deveria ser, aqui, na máquina expressiva do SUS.

    Não falo de uma unanimidade, eu falo de sentimentos de pessoas que, sejam em que número for, entendo como caras e valiosas ao movimento instituinte do SUS.

    Eneidas e Ruis não falam de algo diferente do que digo, apenas estranham e desconhecem o que está sendo dito. Eu li atentamente. Não os referendo em meus textos, não por exclusão oportunistas, mas porque, a rigor, eles não compõem o foco explorado, por desconhecimento da questão colocada.

    Eles, assim, ao meu ver, não encarnam algo a ser contraposto como um diferencial no campo explorado, a menos que queiramos que o desconhecimento da questão possa ser alguma forma de valorização dela.

    Que venham os territórios e que se digam, seja como for, este o meu desejo de compor o movimento e não de colocá-lo em análise a favor de algo que diga. 

    Vou bem e bastante atribulado com minhas próprias contradições que me fazem totalmente diverso de mim e do que digo a cada momento.

    "Eu prefiro ser esta metamorfose ambulante do que ter esta velha opinião formada sobre tudo"…

    Enfim, primorosa esta conversa….

    Saudades, muito respeito e bjs.

    Miguel Maia

     

Por Wagner Sousa

Queridos todos e cada um,

Meu nome é Wagner, sou referência em Humanização no município de Itaborai-RJ e estou acompanhando com perplexidade e ar de orfandade essas notícias turbulentas. Há poucos meses atrás nós e os consultores da PNH estávamos firmando uma parceria de intervenção no território…

Os arranjos da PNH sempre serviam com um sustentáculo da nossa ideia de apoio. Neste momento em que tudo anda muito caotizado, não sabemos a quem nos remeter e o que fazer com os arranjos e parcerias antigas de intervenção. 

Ora, a PNH, retirando ou tornando confusa a oferta de apoio aos territórios, fere um princípio básico sempre preconizado na sua metodologia. O apoio e suas diversas frentes (intensivo, integrado, matricial, institucional).

Parabenizo ao Miguel e a sua metáfora, pois acho que ela é capaz de atravessar as esferas federativas e sair da ciranda do MS. É hora de parar e pensar se as bricolagens acadêmicas não estão servindo como a pimenta que embaralha o gosto duvidoso do bolinho de bacalhau. Nós, aqui no território, estamos famintos de apoios institucionais que deem passagem ao vívido da vida, à potência de mudanças, ao fortalecimento de vínculos solidários de saúde. O corpo já não aguenta políticas cartoriais que determinam, adequam, conduzem. Ele vomita na apatia dos trabalhadores, na falta de vontade, no mal atendimento. O corpo não é bobo. A boca pode até comer, mas a alma vomita!!! 

Estamos aqui de longe, esperando o que pode se apresentar como nova possibilidade de apoio. O que pode essa nova PNH? Ainda não sabemos. 

 

 

    Por miguel angelo maia

    Querido e potente Wagner

     

    Estamos vomitando juntos e querendo saber também. Há pecado em querer saber? Querer saber é demais? Silêncio e sofrimento já temos demais em nossos práticas, em nossos corpos trabalhadores. 

    Me solidarizo com este momento difícil de Itaboraí, e como pessoa e militante, aberto a compor com vocês, esperando que componham conosco.

    Nada está fácil, companheiro, neste país de incertezas e de jogos escusos por poderes escusos.  Tudo isto ultrapassa em muito o Governo, a SAS, o MS, estamos todos num barco de indefinições, de jogos sórdidos, de interesses bastante duvidáveis.

    Precisamos compor forças, precisamos estar juntos, precisamos que nossa luta pelo SUS seja maior que tudo isto.

    Me entristeço de não poder apoiá-los neste momento de tantas demandas como representante do MS. Mas sou apoiador como você e o que acontece aí não diz respeito só a vocês, mas a todos nós que militamos no árido campo da Saúde.

    Nos inventemos junto enquanto não sabemos, esperando que o que venhamos a saber realmente nos ajude de alguma maneira.

    Não estaremos sozinhos, a despeito de tudo, se soubermos trocar uns com os outros e soubermos, no bom estilo PNH, fomentarmos experiências que nos fortaleçam.

    Inventemos formas autônomas de mantermos nossa luta coletiva!

    Abraços agradecido.

     

    Miguel Maia

     

Por Raphael Henrique Travia

O que sempre gostei nestes dois anos que acompanho as ações da PNH pela RHS é aquela sensação de ser ouvido e desta forma contribuir para o fortalecimento de uma política pública, e essa política da amizade que nos aproxima fazendo com que a gente sinta que somos velhos conhecidos.

Quando fui na IV Mostra da PNH de Santa Catarina, mês passado eu achava que iria conhecer mais sobre a PNH e sua forma de atuação no território, porque até então a única coisa que eu conhecia era a RHS. 

Hoje após todas as falas que pude ler em diferentes posts que surgiram na RHS sobre esse assunto, chego a conclusão de que o que vi não foi apenas o encerramento das atividades de um consultor em SC ou um novo arranjo local.  

Reforço tua fala Miguel:

…é esta violência contra os vínculos afetivos, que nos faz a todos, consultores envolvidos e companheiros dos territórios, nos sentirmos cortados ao meio e meio apagados. Violência contra a transversalidade, contra a cogestão, contra a inseparabilidade ente clínica e política que nos faz vomitar, e como não fazê-lo, neste impropério teórico talvez, mas sentimento real: A MORTE DA PNH COMO POLÍTICA DE GOVERNO.

Estranhamente percebo não o fim da PNH como política de governo, atrevo-me a dizer o contrário, eu acho que esse foi o vislumbre do começo da PNH como política de governo definida de forma vertical e centralizada, onde uma gestão ou um político personificados mudam o que foi feito por seus antecessores para deixar sua marca… mas se isso é assim, envolvida pela vontade da Máquina do Estado a PNH inverte o principio de humanização que ela mesma sempre buscou dar protagonismo.

Máquinas (inclusive a do Estado) não possuem humanidade e nem vontade própria, máquinas são frias e são programadas segundo a vontade daquele que as controla ou governa. Me lembrei de uma música que trago aqui

 

Concordo com você Débora que devemos promover o debate e gostaria de chamar para esse espaço também o Coordenador ou Coordenadora atual da PNH, (não sei se é o Fábio ainda ou se já mudou), porque apesar de não ter mais vínculo formal com a PNH, sempre leio o Ricardo Teixeira nessa posição e exercício vivo de liderança.

Também chamo ao debate quem mais quiser entrar… Consultores, ex-consultores, profissionais, gestores, usuários, alunos e professores.

E quando falei no primeiro comentário que fiz sobre a hipótese de encaminhar moções de repúdio ao fim da PNH através das Conferências Estaduais e da 15 Conferência Nacional de Saúde é por entender sim que esta discussão não se encerra aqui e que lá é o espaço democrático perfeito para que nossa vontade enquanto sujeitos construtores do SUS seja considerada, afinal não somos obrigados a concordar com todos os novos arranjos do Ministério da Saúde…temos também o direito de dizer se queremos que as coisas que dão certo continuem assim e pronto.

Não gosto de fazer comentário-post  mas acho que dessa vez foi necessário!

Abraço a todos,

Raphael

 

 

 

    Por miguel angelo maia

    Raphael, companheiro

    Fico imensamente gratificado por ter se manifestado, mesmo não afeito a comentário-post, porque o que tentei no meu post não foi falar pelo território, mas falar com o território, estimulando-o a se expressar, independente de debates mais teorizados, já que percebia e sentia algo que não estava sendo considerado e, a sua resposta, assim me parece, confirma minhas suspeitas.

    Penso que seja fundamental que vocês mesmos se digam e guiem essas conversas com suas vozes, sentimentos, percepções e pensamentos, a fim de que estabeleçamos uma conversa que seja conduzida por vocês e não por nós, consultores e ex-consultores. Para isto criei outro post.

    Um não elimina a importância do outro, um não desqualifica o outro, ao contrário, eles se complementam no sentido de tomarem todos os lados da questão como importantes e o melhor é que estivessem em um só. Mas, como analista do trabalho, me parecia que o tom tomado lá desestimula e inibe a voz dos trabalhadores, mas direta, mais vivida no que os afeta cotidianamente.

    Não o conheço pessoalmente, nunca o vi, mas o admiro por suas tiradas geniais, como esta de escrever humanização ao contrário no título, porque é uma imagem do que você percebe após ler todos os posts, leitura que acho necessária a todos.

    Enfim, não escrevi para insuflar ou fomentar o contraditório, mas para que, sem medo de se expressar, pudéssemos celebrar o espírito democrático, ouvindo o território se expressar por si mesmo.

    Obrigado, um prazer tê-lo ativo nesta rede.

    Abs.

    Miguel Maia

    Por miguel angelo maia

    Raphael

    Volto aqui porque não esclareci sobre a coordenação da PNH.

    Não é mais o Fábio Alves. Depois dele, rapidamente, tivemos Karine e Cathana numa função de transição, mas que, ao fim e ao cabo, nua decisão coletiva, foi entregue a coordenação da PNH para a SAS/MS. Hoje, ao que parece, ela está com Elizabeth Vieira, que é a nomeada coordenadora da PNH e da estratégia de apoio.

    Importante aqui afirmar, para o bem de nossa conversa, que estas modificações foram processadas em um situação de legitimidade e de negociação, que acabou não levando a um consenso e, por isto, entendemos ser pertinente que a própria SAS/MS decidisse pela nova coordenação e arranjos da PNH.

    Porém, como você percebeu, a legitimidade não exclui dissensos e, portanto, não houve partilha de sentido para a nova PNH por todos, o que levou alguns a se afastarem de sua condição de representantes ministeriais. Este dissenso e este sentimento quanto ao sentido é o que nos trouxe para o estado atual de formulações que o Ricardo Teixeira, com toda a sua maestria, tenta fazer uma clarificação conceitual para que possamos conversar com uma diretriz comum e entendendo o que realmente falamos.

    Enfim, a despeito do que possa parecer no calor emocional, quem saiu e quem ficou não é do mal ou do bem, e a nova coordenação da PNH, serei justo, sempre tratou a PNH com respeito e afirmou sua importância. Tanto assim é que, como anunciado, no dia 03/09/2015 haverá um encontro de todo o Coletivo Nacional que permaneceu, para traçar os novos planos da PNH dentro das novas estratégias de governo.

    Portanto, para bem do aspecto democrático, devemos nos tratar com o respeito e a consideração devida a quem, mesmo disputando sentidos diferentes, tem uma diretriz mais que comum: a defesa do SUS que dá certo.

    Talvez, a grande confusão até aqui seja a formulação das mortes, mais ligada ao sentimento do vivido, do que propriamente ao de fato ocorrido. Expurguemos pois de nossas conversas esta mal versação, que nos leva a mal entendidos perigosos, que o Ricardo Teixeira tão bem nos indica.

    Portanto, conversemos num tom democrático e não matemos ninguém. Como ouvi uma vez da Beth Mori, citando alguém: "é preciso falar sem matar e ouvir sem morrer".

    Sejamos vivos pois e convidemos nossos companheiros da SAS e da nova PNH para uma conversa construtiva, até porque, se partimos da morte da PNH como Política de Governo, como bem deixa ver o Ricardo em suas falas, já de início os consideramos mortos e mortos, meu amigo, não falam. Talvez por isto, quem sabe, eles tenha preferido não participar das discussões até aqui.

    Esperemos e acreditemos no princípio democrático.

    Abs.

    Miguel Maia

      Por Raphael Henrique Travia

      Oi Miguel,

      Lembro-me que quando o Fábio assumiu a Coordenação da PNH, foi feito um post com seu currículo e um breve histórico apresentando ele a todos nós e isso eu acho que seria legal  porque acredito que uma das funções e razões de existir a RHS é divulgar e nos manter informados sobre as novidades que ocorrem na Política Nacional de Humanização.

      https://redehumanizasus.net/85353-politica-nacional-de-humanizacao-tem-nova-coordenacao-nacional

      É também nesse sentido que chamo a nova coordenadora da PNH para a conversa, como disse no comentário anterior grande parte de tudo o que eu sei sobre a PNH está na RHS… e essa mudança não foi publicizada por aqui ao que eu me lembre.

      Já que o momento é de mudanças, novas realidades e construções não seria uma boa oportunidade da nova coordenadora da PNH se apresentar por aqui?

      Grande abraço!

      Raphael

       

       

       

      Por miguel angelo maia

      Oi Raphael

      Estamos em rede e, portanto, a conversa não é somente entre nós, creio que esta sua proposição está sendo acompanhada pelos editores da RHS e pode ser encaminhada por eles. Não tenho nenhuma governabilidade sobre isto, mas vou escrever daqui para os editores.

      Abs.

      Miguel

Por Marcelo Dias

diante de tanta discussão em tantos lugares, preferi me colocar aqui, onde me senti acolhido. Estava na mesma Mostra que o Raphael, e tive uma sensação bem estranha, de estar excluído. Tanta coisa acontecendo e eu aqui num encontro de humanização sem saber de nada. Por outro lado, toda essa coisa acontecendo em nenhum momento parece ter afetado nosso trabalho até o momento (ainda tô sentindo o gosto do bacalhau como antes, rs).

Algumas questões estão se apresentando pra mim e achei boa a ideia do Raphael no sentido de fazermos uma roda de conversa inclusiva, e não várias rodas de conversa: de gestores, de consultores, de acadêmicos, etc.

Em relação às questões enumerarei algumas:

1) O que muda é a humanização ou a forma de apoiar?

2) Como se deu todo esse processo de mudança? Poderíamos ter acesso a isso como trabalhadores e usuários? E de que forma? Pela RHS parece que isso não está acontecendo.

De qualquer forma, parece que o rei está nu. O rei é humano.

 

    Por miguel angelo maia

    É isto Marcelo, não se trata de uma guerra entre opositores inimigos, mas de uma tentativa de fazer valer o espírito democrático da conversa e da construção comum. Isto é HumanizaSus.

    Vejo em suas ótimas questões o atordoamento e perplexidade em que todos estamos e, neste estado, podemos ser mais reativos que afirmativos.

    Que ótimo que o bolinho de bacalhau por aí está  quente e saboroso! Fico imensamente feliz com isto.

    As perguntas que você faz, penso eu, deveriam ser respondidas pela própria PNH em seu novo arranjo, porque, do contrário, seria a minha interpretação, e interpretações já temos demais nas outras discussões.

    Acho que a proposta de vocês é excelente, criar através da RHS um espaço público de comunhão em que, na boa conversa, possamos discutir este assunto com os territórios.

    O processo de mudança está na RHS em dois posts contraditórios, o da nova composição e o do fim de um ciclo e começo de outro, mas no frigir dos ovos, como você diz e concordo, a coisa não está clara.

    Esperemos que este debate entre amigos ocorra, conforme o convite de vocês.

    Como disse, ninguém aqui é puro anjo ou demônio e isto porque, felizmente, tudo está vivo e a ser jogado, esperemos que numa construção comum e partilhada, aberta à conversa.

    Abração.

    Miguel Maia

      Por deboraligieri

      Miguel, perfeita a sua colocação em resposta aos questionamentos do querido Marcelo Dias. A transformação ou dissolvição da PNH, conforme variam as opiniões e percepções em relação ao momento atual da política, aparecem aqui na rede de acordo com a participação dxs usuárixs. O debate começou com o post da Maria de Jesus, e de lá pra cá já temos muitas conversas em outros 4 posts, incluindo este. A participação de cada pessoa é o que constroi o conteúdo da RHS, que não é um site de notícias institucionais.

      Talvez o que tenha surpreendido (por favor me corrija se eu estiver errada Marcelo) é justamente a sensação de desencaixe entre o que acontece em alguns territórios (e por isso trouxe em um comentário anterior com outras percepções que, assim como a do Marcelo, mostram-se sentindo ainda o sabor do bacalhau) e o que vem sendo manifestado aqui através de consultorxs e ex-consultorxs da PNH.

      Quanto às questões propriamente ditas, penso contigo Marcelo enquanto usuária do SUS:

      1) O que muda é a humanização ou a forma de apoiar? Acho que isso é o que todxs estamos tentando descobrir nessses debates. Talvez essa seja a questão de fundo da pergunta se a PNH se dissolveu ou se transformou.

      2) Como se deu todo esse processo de mudança? Poderíamos ter acesso a isso como trabalhadores e usuários? E de que forma? Cada um dos posts também fala um pouco sobre a percepção de cada um de como se deu esse processo, mas talvez a atual coordenação do apoio/PNH pudesse também pontuar mais esclarecimentos além daqueles tratados no post Política Nacional de Humanização compõe novo arranjo de apoio do Ministério da Saúde às regiões de saúde. E cada umx de nós pode também sugerir de que forma teremos acesso (acho que já estamos tendo através dos posts aqui na RHS) a todas as questões que envolvem essa mudança, seja lá como estiver caracterizada/definida.

      Abraços,

      Débora

    Por CLEUSA PAVAN

    oi Marcelo,

    suas perguntas me reconectam com algo que escrevi em outro lugar (nestes post sobre o assunto) e que foi tb na forma de perguntas:

    'Há uma pergunta que se repete em todas as rodas de conversa de que participo: “mas o MS não vai dizer uma palavra sequer, oficialmente, sobre o que aconteceu com a PNH?

    Por que será que esta gestão desconsidera os inumeráveis apoiadores  da PNH que formamos neste país inteiro, que estão nos serviços, nas secretarias estaduais e municipais de saúde, que consideravam a institucionalidade federal, que tínhamos enquanto política de governo, uma companhia ainda muito importante para enfrentarem a dureza da conjuntura local e nacional da saúde e que, portanto, merecem considerações informativas, ao menos, já que jamais seriam convidados a palpitar se queriam ou não o desmonte ocorrido?

    eu também, como muitos dos apoiadores que se manifestam com perguntas como as suas, nunca vi uma relação tão desconectada com os territórios como esta! Desde 2003, é a 1ª vez que vejo acontecer. 

    Sobre sua 1ª pergunta, o que é possível dizer, por termos vivido a apresentação do novo Apoio SAS/MS e participado de algumas reuniões sobre o assunto, na ocasião, é que os nossos companheiros que permaneceram no MS, após o desmonte daquela institucionalidade da PNH, permaneceram enquanto APOIADORES MS:  GENERALISTAS EM SUS, ESPECIALISTAS EM TERRITÓRIO e responsáveis por um certo número de RAS. Foi dado um prazo para o encerramento das atividade de apoio da PNH aos territórios: final de julho. 

    Se isso mudou, depois do que os Post dispararam aqui, quem poderá esclarecer para o Movimento Humanizasus, é a gestão SAS do MS. Soubemos que foi marcada uma reunião dos que permaneceram para o dia 3 de setembro e talvez, depois dela, haja um posicionamento oficial esclarecedor. Os territórios esperam uma palavra sobre o assunto.

    Sobre a 2ª questão, penso que disse o que pude dizer, e vivi, no meu post e nos comentários aos demais.

    gde abço e seguimos na conversa.

      Por Marcelo Dias

      obrigado por ter levado em conta meus questionamentos, assim como o fizeram a Débora e Miguel.

      Mas confesso que como você, minha curiosidade ainda não está saciada. Já sei como os apoiadores que permaneceram serão chamados, mas ainda estou querendo entender como se chegou a tudo isso. Quais foram as argumentações para tais mudanças. Elas se deram a partir dos gestores? Da academia?

      Não sou apoiador da PNH, mas sou um apoiador (matricial) em meu território. Um apoiador em saúde mental. Mas há tempos venho percebendo que a partir do momento em que nos aproximamos dos coletivos de uma forma horizontalizada e com escuta, muitas demandas chegam até nós. Acolhê-las não é levar em conta somente aquilo para o qual você está nomeado. Logo, não posso ser somente um apoiador em saúde mental. Sou também um apoiador em humanização, atento para os processos de trabalho, atenção, gestão e educação.

      Me pergunto: estaria o apoio da PNH também se limitando em seu campo de ação?

      Se a resposta for afirmativa, é possível que o novo arranjo possa estar falando disso.

      Mas são suposições, minha curiosidade continua.

       

       

      Por miguel angelo maia

      Oi Marcelo

      Legal esta conversa ganhando vida por aqui e, pouco a pouco, os territórios trazendo sua própria voz.

      Estamos, ao que parece, todos ainda não saciados em nossa não só curiosidade, mas também necessidade de entendimento de algo importante para nós e que, você acertada e brilhantemente, em poucas palavras, define como sendo a função de um apoiador em humanização.

      Veja bem, após decidir sair da consultoria, voltei para meu território, no caso o RJ, trabalhando em um hospital universitário público e nele, como você, também me considerando um apoiador em humanização. Portanto, fico na mesma apreensão que você, tentando entender como isto nos afetará.

      As mudanças se deram em razão de um realinhamento estratégico da SAS em função das novas prioridades do MS e, portanto, elas são legítimas, não esqueçamos, propostas por quem não só pode, mas tem a função de fazê-lo.

      Agora, se você está perguntando para além disto, ou seja, como a SAS chegou à conclusão da necessidade deste novo realinhamento e baseada em que chegou a este novo desenho que está só começando ainda a propor, não saberia dizer.

      Entendemos, principalmente aqueles que saíram, que o apoio PNH estava sim se restringindo, e muito, principalmente em relação à diversidade de demandas que os territórios nos apontam e que não acreditamos que um projeto único, focado na regionalização, vá conseguir dar conta. Aliás, são estes movimentos que demonstram repudio, quando interrompido o apoio, e perplexidade diante do fato, porque aonde estão o apoio continua, esperando que possa continuar.

      Podemos ter entendido errado e, por isto, evito responder sobre aquilo que não sei e, como você, apenas posso responder com minhas próprias suposições.

      Também aguardo respostas, também anseio entender.

      Abs.

       

       

       

Por Cristine Nobre Leite

A conversa vai continuar e acompanheiro os desdobramentos.
Parabéns pelo texto Miguel.
Fico aqui pensando… Ouvi tanto falar da PNH e foi tão citada em Conferências de Saúde que participei…(PNH como política sim!!)
Há olhos que não querem fechar porque o sono não chegou e o Sonho não acabou.
Abração,
Cristine

    Por miguel angelo maia

    Olá Cristine

    Beleza estética pura este seu breve comentário. É a poesia presente, apesar de tudo, na vida daqueles que labutam e querem e constroem, em cogestão, sentido para o que fazem.

    Sim, a conversa tem que continuar e conosco acompanhando, porque também nossas vozes não querem calar e a última palavra nunca será dita, graças a vida que pulsa e ao vivo que baila neste pulsar, ainda que se equilibrando na corda bamba de tantos perigos, sobretudo o de despencar numa atitude de resignação ao intolerável e morrer matando-se nesta atitude.

    O sonho não acabou e a realidade atual é sempre um dado transitório, jamais concluído. Como vivos, construímos um mundo para poder habitar e, jamais, habitamos um único mundo, principalmente um que seja imposto e construído para nós e não com nós. Nós de redes vivas.

    Somos sempre com, redes porque aprendemos mais que ruídos, aprendemos a fazer deles a palavra. A palavra, esta pá que lavra caminhos entre expressividades tão diversas, tão múltiplas, o que afinal chamamos política.

    Sigamos…

    Abs.

     

Por Colegiado Gestor do HILP

O nosso grupo tem acompanhado as discussões em torno das mudanças/transformações da PNH, com muita preocupação.

Aqui no estado do Piauí, desde a criação da PNH, em 2003, os territórios de saúde tem recebido um potente apoio por meio dos consultores e de outros sujeitos envolvidos com  o HumanizaSUS,  que tem sido disparador de mudanças no modo de pensar, de produzir e de gerir as práticas de saúde.  Historicamente, o nosso estado tem um modelo de gestão e cuidado em saúde fragmentado, verticalizado, autoritário, sem um acolhimento qualificado, com acesso difícil e muita precariedade nos serviços.

Com a oferta do apoio institucional e dos dispositivos/diretrizes,  e outras tecnologias  ofertadas pela PNH, foi possível superar dificuldades e limites na nossa saúde pública, buscando romper com esse modelo nocivo de fazer saúde. Nesse percurso de 12 anos da política, foi  Implantado o acolhimento com classificação de risco nas principais unidades de saúde do nosso estado, da atenção básica aos hospitais de alta complexidade, facilitando o acesso, melhorando as relações profissionais/cliente, aumentando o protagonismos dos usuários e trabalhadores. Estamos investindo na gestão colegiada, fortalecendo os espaços coletivos, democratizando as tomadas de decisões nos processos de trabalho, conectando e fortalecendo as redes de produção de saúde. Entretanto, ainda há muito o que alterar na direção do aprimoramento do SUS, e o apoio da PNH ainda é  imprescindível na garantia dos avanços necessários.

Deparar com esses comentários de desmonte da institucionalidade da PNH,  e do encerramento das atividades de apoio nos territórios, tem afetado o nosso coletivo, até porque, não temos o real entendimento do que vai acontecer a partir dessas mudanças na PNH.

A provocação do Marcelo Dias sobre a abertura de um espaço público, para que os usuários e os trabalhadores que estão nos territórios possam ser informados e se manifestar sobre o assunto  é muito bem vinda. O tema é relevante e a discussão deve ser ampliada. Afinal,  queremos saber com clareza o que está acontecendo, que novo apoio será posto para os territórios. Esperamos esta ação da gestão da SAS do MS.

AbraSUS a tod@s e seguimos no debate!

    Por miguel angelo maia

    Olá Companheiros do Piauí

    Muito bem vindos para esta conversa!

    Fico feliz em saber da existência deste Colegiado Gestor e afirmo que pelo que percebo no meu próprio território, o RJ, e aquilo que percebia, quando ainda consultor da PNH, in loco ou na troca com os outros consultores, a situação histórica da saúde no Piauí não difere em nada daquela encontrada por todo o território nacional, do qual a PNH teve alguma notícia ou no qual teve atuação. Graus diferentes de articulação coletiva para o enfrentamento desta situação é o que têm diversificado os territórios, com êxitos e não tão êxitos em suas ações, mas sempre em movimento.

    Como você mesmo reconhece, a PNH sempre atuou através do apoio ao enfrentamento deste "modelo nocivo de fazer saúde", apoiando movimentos existentes nos territórios, fosse através de serviços específicos, fosse através de Secretarias Municipais e/ou Estaduais, fosse através de movimentos sociais, sempre buscando no limite, como vocês bem o sabem, fortalecer a rede SUS, partindo de onde já havia movimento, das experiências desenvolvidas e na interlocução direta  com elas, buscando ampliar a capacidade de agir, através  da função apoio, uma vez que não se propunha a fazer por, mas fazer com.

    Nesta  experiência de troca, a PNH foi enriquecendo seu cabedal teórico/metodológico, na medida em que apoiava e era apoiada, formava e era formada nesta interlocução.

    Há sim uma nova composição em andamento (https://redehumanizasus.net/91684-politica-nacional-de-humanizacao-compoe-novo-arranjo-de-apoio-do-ministerio-da-saude-as-regioes-de-saude) que provocou um dissenso no antigo Coletivo Nacional, com entendimentos diversos, um deles publicizado (https://redehumanizasus.net/91704-sobre-o-fim-da-pnh-enquanto-politica-de-governo) que por fim, levaram à dissolução do antigo Coletivo Nacional e a entrega da Coordenação da PNH à SAS/MS.

    O que não há, ao que parece, ainda para ninguém que na rede tem se manifestado através de vários posteres, é a clareza do que vai ser feito com movimentos como os do Piauí, já que em outros estados, São Paulo e Santa Carina que se manifestaram na RHS, consultores tiveram que se retirar de ações em movimento, gerando protestos, como podemos ver nesta rica discussão democrática através da RHS (https://redehumanizasus.net/91613-repudio-ao-fim-da-pnh-enquanto-politica-de-governo).

    Acho que a proposta do Raphael, endossada pelo Marcelo e agora por vocês deixa claro que há um profundo desejo de esclarecimento da situação que, a meu ver, faz necessária a abertura de um espaço público de discussão desta situação. Ampliar o debate é preciso…

    Por motivos óbvios, acho que isto só pode ser feito pela nova PNH, pois, fora dela, ficaríamos apenas em conjecturas, suposições que, como sabemos, criam  ruídos e dissensos e em nada favorecem a composição e a criação e manutenção dos coletivos existentes.

    Aguardemos pois…

    Abs.

    Miguel Maia