Aos 81 anos, a mineira Aurora Ferreira de Melo Breves realizou um sonho antigo: entrar para uma faculdade. Ela fez a prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) no ano passado e foi aprovada no início deste ano para o curso de filosofia da UFU (Universidade Federal de Uberlândia), no Triângulo Mineiro. Atualmente, ela está no segundo período da faculdade.
Apesar da idade, a aposentada conta que não tem dificuldade em acompanhar os professores e os demais colegas. Ela tem aulas todos os dias pela manhã e conta que tem sido muito bem tratada por todos e até mesmo elogiada pelos educadores.
— Um professor me elogiou muito um dia desses. Ele, inclusive escreveu um bilhete na minha prova, dizendo que queria que eu escrevesse também o que eu penso, e não somente o que Aristóteles pensava.
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Segundo Aurora, a paixão pelos estudos começou quando ainda era muito jovem em Ituiutaba, também no Triângulo, onde nasceu e cresceu. Ela sempre foi uma boa aluna, mas o município só tinha ensino gratuito até a 5ª série e sua família não tinha condições financeiras para que ela estudasse fora ou em uma escola particular.
— Eu então comecei a lecionar na fazenda, mas logo parei porque, aos 21 anos, me casei.
Após o casamento vieram os três filhos e, quando eles cresceram, a família se mudou para Uberlândia com o objetivo de que eles pudessem continuar os estudos. Aurora então montou um ateliê de alta costura, enquanto o marido trabalhava como cabeleireiro. Dessa forma, o casal conseguiu educar os filhos e todos se formaram pela UFU: dois em direito e um em economia.
Já no ano de 2010, aos 75 anos, a aposentada conta que passava pela rua quando viu um anúncio de uma escola: "Venha estudar com a gente". Na propaganda, a instituição ressaltava que não importava a idade do aluno e a idosa pensou: Por quê não? Será que como 75 anos eu vou voltar a estudar?
Ela então foi até a escola e, a instituição entrou em contato com o colégio onde ela tinha estudado em Ituiutaba e conseguiu a declaração de conclusão da 5ª série. A partir de então, Aurora decidiu voltar à sala de aula e, entre 2010 e 2014, concluiu o ensino fundamental e médio.
— Eu tirei os dois diplomas sem tomar nenhuma bomba.
Mas, ao terminar os estudos, Aurora não se deu por satisfeita e se inscreveu para o Enem. Ela não fez nenhum curso preparatório para o exame e conta que, uma das preocupações de seus filhos era de que ela se cansasse durante a prova que, geralmente, tem muitas questões. Mas, a aposentada fez a prova tranquila, sendo a primeira de sua turma a terminar. E, às vésperas do Enem 2015, ela dá uma dica aos estudantes:
— Eu quero que os jovens percam o medo do Enem e saibam que não precisam estudar pra morrer porque eles decoram, decoram, decoram, esquentam a cabeça e não aprendem. Eles precisam é entender aquilo que estão estudando.
https://noticias.r7.com/minas-gerais/aos-de-81-anos-mineira-realiza-sonho-de-cursar-faculdade-federal-18102015
Por Raphael Henrique Travia
Eu fiz especialização em Educação de Jovens e Adultos, durante a Unidade Curricular Formação Técnica e Politecnia foi abordada a questão de que volta e meia aparece na mídia algum relato semelhante a esse tendo como manchete de destaque algum idoso que conseguiu entrar na faculdade e ou/ se formar apesar da idade.
Entretanto essas notícias são casos isolados que não refletem uma política pública voltada para o acesso, permanência e êxito dos adultos na EJA reforçando:
A ideia equivocada de que “a escola oferece igualdade de oportunidades para todos e,portanto, cada um vai alcançar aquilo que sua capacidade pessoal permitir” não considera, as diferenças de origem, a visão de mundo de cada um em sua forma de ver, de sentir de conhecer e de agir, (GOMES 2000 p.16 apud GEVAERD; OLIVEIRA, 2009 p. 83).
Referência:
GEVAERD, Esterzinha A.P.; OLIVEIRA, Sidnei Dias de. PROEJA: O Aluno. Florianópolis: Publicação do IF-SC, 2009. 80 p.