No Dia do Médico, profissionais celebram o cuidado humanizado
No fim do século 19, o pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973) surpreende com a tela Ciência e Caridade, que mostra uma mulher numa condição de saúde agravada pela tuberculose. No quadro, o progresso da ciência é representado pela maneira ética, profissional, responsável e carregada de afeto com que o médico presta o atendimento. A obra, destacada no livro As Belas Artes da Medicina (publicado em 2003 com o apoio do Conselho Federal de Medicina), é uma referência do resgate do cuidado humanizado, que faz o médico ver cada paciente sem se limitar à doença. Neste domingo (18), no Dia do Médico, é essa humanização que desponta como o legado de uma profissão marcada por devoção.
“Fazemos medicina baseada no olhar”, diz o pneumologista Paulo Barreto Campello de Melo, referindo-se à importância de a comunidade médica não se restringir a avanços da ciência no momento em que está diante de uma pessoa que precisa de cuidados. Idealizador do programa Arte na Medicina, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (UPE), Paulo aposta na arte como um remédio valioso para humanizar o tratamento. A dor, a angústia e a incerteza são aliviadas pela música, pintura e recursos audiovisuais. As atividades acontecem no Castelinho, como é conhecido o prédio onde funciona a Escolinha de Iniciação Musical e Artes, que fica no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), ligada à UPE.
“Os pacientes que participam do programa aceitam melhor o tratamento e relatam menos dores. Nada é mais gratificante do que vê-los com um sorriso no olhar e um brilho no sorriso”, filosofa Paulo, que também é baterista e repassa os ensinamentos musicais a pacientes como Fábio da Silva, 17 anos, em tratamento para leucemia no Huoc. Entre sessões de quimio e radioterapia, ele aprendeu a tocar bateria. “Fico mais relaxado e disposto quando venho para o Castelinho”, conta Fábio.
No Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a humanização ganha espaço no Programa Mais, que dá apoio à reabilitação dos pacientes. “Como resultado, está a redução do estresse geralmente vivenciado pelas pessoas internadas”, diz a médica intensivista Cláudia Ângela Vilela, uma das colaboradoras do programa, que oferece aulas de pintura, atividades musicais e cênicas, contação de histórias, oficina de artesanato e artes plásticas.
A jovem Ana Cleide da Silva, 22, é uma das pacientes que apresentam resultados terapêuticos desde que começou a participar das atividades de música e pintura. Com a ajuda do artista plástico Edu Lima, ela pinta quadros e, dessa maneira, aumenta a autoestima. “Foi assim que Ana passou a ter uma melhor perspectiva sobre a vida”, diz Cláudia.
A assistência humanizada também reina no Instituto SOS Mão Criança, idealizado pelos médicos Rui Ferreira e Mauri Cortez. Durante mutirões de saúde realizados ao longo de sete anos, eles já conseguiram operar mais de duas mil crianças de baixa renda com malformações congênitas nas mãos. “É muito gratificante ver que podemos conseguir resolver problemas que angustiam essas crianças e suas famílias”, diz Mauri Cortez.
O trabalho social de prevenção à cegueira e reabilitação visual realizado há 29 anos pela Fundação Altino Ventura (FAV) é mais um pautado na humanização. “A partir do momento em que facilitamos o acesso das pessoas de baixa renda serviços especializados, estamos interessados em oferecer a melhor forma de cuidado a esses pacientes”, diz a oftalmologista Liana Ventura, presidente da FAV. A instituição oferece tratamento na capital e no interior do Estado por meio de consultórios móveis. “Mesmo diante dos avanços tecnológicos, não podemos esquecer a magia dentro do consultório. É a forma que temos de humanizar o atendimento”, finaliza Liana.
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