QUEM VAI FICAR COM PAPAI/MAMÃE?
Fim de ano e muitos são os preparativos para as Festas. A ansiedade começa a se manifestar nas pessoas bastante precocemente, envolvendo todos numa avalanche de ideias e sugestões, raramente viáveis para idosos componentes dos núcleos familiares. Todos são chamados a opinar, exceto os idosos mais dependentes, que apenas presenciam as conversas dos adultos dominantes, esses despreocupados com possíveis ansiedades dos mais frágeis quanto ao que está por vir.
Após muitos ajustes no roteiro para conciliar preferências diversas, maioria satisfeita ou procurando não se confrontar com o consenso, raros são os que consultam os mais idosos, dependentes funcionais, acerca do que gostariam de fazer, onde gostariam de passar as festas, a quem visitar, entre outras questões seminais para aqueles que já estão prestes a nos deixar, partir, mudar de plano existencial.
Já sem autocontrole até mesmo da memória recente, os idosos da família, como num piscar de olhos, quando se dão conta, estão presentes no vórtice festeiro, como peixes fora d’água. Existem famílias que os abandonam em instituições de longa permanência para idosos, através de rituais da mais árdua covardia, apenas informando que logo voltam para lhes buscar, que nem precisam desfazer as bagagens com seus objetos de uso pessoal. Uma curta estadia que pode se transformar em longo martírio para quem essa destinação tenha endereçado.
Mesmo que o idoso fique em casa com familiares nos festejos, há que se considerar que as refeições muito condimentadas não são indicadas para eles e o preparo do trivial simples dificilmente compõe cardápio dessas ocasiões. Nesse ritmo, os idosos acabam desnutridos e desidratados, caso não tenha quem se disponha a preparar algo de acordo com as necessidades nutricionais e fisiológicas dos mais velhos e debilitados.
A inobservância desses preceitos é expressão egoísta da sociedade ocidental, na qual para com os idosos faltam empatia, respeito, reverência, gratidão, pelo que significam nas bases morais que sustentam sagrados pilares da família. Muitos estão condicionados ao imediatismo e limitados às ilusões das aparências sociais, fazendo de tudo para se mostrar presentes nas mais inusitadas situações, quase sempre inadequadas aos mais velhos.
Assim, assumem aquele inadiável compromisso de participar da queima de fogos da passagem de ano na praia, entre multidões nas ruas, praças, de desfilar nos salões das festas oferecidas pelas empresas, instituições políticas e religiosas, e tudo mais que começa tarde e não tem hora para terminar. Evidente que existem idosos com saúde física, mental e disposição suficiente para saírem ilesos dessas maratonas, mas, são exceções, que não devem servir de parâmetro para a maioria.
Definitivamente, não devem servir de exemplos comparativos para a Dona Maria de tal e o Sr. José das quantas, que preferem ambientes serenos, tranquilos, menos sonoros, e alimentação regrada, como de costume. Da mesma forma, milhares que sequer manifestam seus desejos, por absoluta perda de referência pessoal e comprometimento da memória recente. Nesses casos, a sensibilidade dos adultos dominantes deveria tender ao que melhor corresponda ao bem estar dos idosos dependentes, afinal, tudo indica que terão outras oportunidades para seguir apenas as convenções sociais momentâneas.
Curioso observar que não importa o número de filhos carnais que o idoso possa ter, considerando-se que tudo converge para que apenas uns, seja em que cenário familiar que se analise, se prontifiquem assumir a responsabilidade ética de acompanhar, prestar cuidados, providenciar recursos materiais e pessoais para suprir as necessidades do ente familiar idoso.
Pais e mães, agora idosos, que as rotinas da vida dedicada ao cuidado dos filhos se encarregaram de lhes levar ao desgaste físico e mental, associados aos sintomas de doenças crônicas não transmissíveis, diabetes, hipertensão arterial sistêmica, artrites e diabetes da vida, além de vitimados pela síndrome demencial que os tornam frágeis e dependentes como crianças. O simbolismo subjacente nessa roda do tempo é determinante para o nosso futuro. Pense nisso!!!
Wiliam Machado
Secretário Municipal do Idoso e da Pessoa com Deficiência de Três Rios/RJ