ESTIMULAÇÃO PRECOCE, MICROCEFALIA, SERVIÇOS DE REABILITAÇÃO E CUIDADO DOMICILIAR.

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Define-se estimulação precoce como o conjunto de serviços prestados às crianças entre zero e cinco anos de idade, em que os principais objetivos são: promover a saúde e o bem-estar da criança, impulsionar a emergência de competências; minimizar os atrasos no desenvolvimento; remediar as incapacidades existentes ou emergentes; impedir a deterioração funcional e promover a adaptação parental e o funcionamento global da família. Visa prevenir ou minimizar as limitações físicas, sensoriais, cognitivas, emocionais das crianças com fatores de risco biológico ou ambiental, considerando a família componente de importância fundamental para o sucesso na intervenção.

A atual epidemia do Zika Vírus e sua relação com aumento da incidência da microcefalia, no Brasil, incitam gestores públicos atuantes nas três esferas de governo para a análise da capacidade instalada dos Centros Especializados de Reabilitação, no sentido de implementar a estimulação precoce em crianças nascidas com essa malformação congênita. Nesse caso específico, a intervenção precoce deve ser intensificada entre zero e três anos, visando diagnosticar possíveis comprometimentos sensório-motores que requeiram intervenções terapêuticas das equipes de reabilitação, além de subsidiar o norteamento do programa de orientação para cuidadores domiciliares.

A intervenção precoce em crianças com microcefalia, como processo interdisciplinar oferecido nos Centros Especializados de Reabilitação, deve ser realizada em sessões conjuntas que possibilitem a troca de ideias para identificação das limitações e necessidades de cada criança. Através da qual o fisioterapeuta possa traçar seu programa de intervenção articulado com a perspectiva do terapeuta ocupacional, ambos sugerindo medidas de orientação para que sejam adotadas pelos cuidadores domiciliares, visando ampliar a coordenação motora para futuros ganhos funcionais e equilíbrio postural. A protetização, por sua vez, através de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção, deve partir de consenso entre eles e o médico fisiatra, de forma a favorecer ganhos funcionais das crianças.

Da mesma forma, cabe aos fonoaudiólogos investigar/identificar déficits auditivos, adotando procedimentos terapêuticos através de estímulos sensoriais que possam minimizá-los, até o momento propício para a protetização, de acordo com parecer do otorrinolaringologista. Concomitantemente, todos os profissionais da equipe oferecem suporte para membros da família, desde aspectos próprios da rede de apoio social, prestado pelo profissional de serviço social, às questões de alimentação e dietas, devidamente orientadas pela nutrição.

Comprometimentos da acuidade visual são detectados pelas equipes e avaliadas suas consequências na evolução dos seus programas terapêuticos, cabendo ao oftalmologista a prescrição da mais adequada protetização em cada caso específico. Na mesma sintonia, indicativos de deficiência intelectual devem ser considerados por toda equipe, pois podem requer adequações das suas estratégias terapêuticas. 

Compete aos enfermeiros especial orientação aos cuidadores domiciliares, através de sistemática demonstração da importância do cuidado com o corpo, como instrumento de estimulação da pele nos procedimentos de higienização e banho. Enfatizando como a temperatura da água, a exposição as correntes de ar, os movimentos cariciosos das mãos do cuidador na pele da criança, podem influenciar no seu conforto, relaxamento e sensação de bem-estar. Como se trata de crianças muito sensíveis, e preciso demostrar aos seus familiares o poder do toque como medida terapêutica de enfermagem, a ser realizada em casa.

Avaliação de acessibilidade na ambiência domiciliar contribui sobremodo para que membros das equipes de reabilitação possam traçar planejamentos de cuidados compatíveis com as realidades habitacionais de cada família. Apenas conhecendo as formas como as pessoas se organizam em casa para as rotinas do dia a dia, pode-se sugerir a inclusão de procedimentos de cuidados focados na continuidade do tratamento de longo prazo para crianças com microcefalia.

Ademais, é importante enfatizar que diante do diagnóstico da microcefalia, muitos são os desafios a serem enfrentados pelos membros do núcleo familiar. Os de ordem emocional, geralmente, minimizados através do regular atendimento de psicologia, prestado aos pais e entes familiares mais próximos, que apresentem sinais de descompensação. Há quem não consiga superar e abandone o núcleo familiar, sem refletir que nada acontece por acaso e que, cedo ou tarde, o preço lhe será cobrado, de acordo com a Lei do Retorno.

Wiliam Machado