Censo da população em situação de rua da cidade de São Paulo, 2015 – SMADS e FIPE
A maior parte da população em situação de rua na capital paulista é formada por migrantes, de acordo com o Censo da População de Rua divulgado pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social da prefeitura. Os migrantes correspondem a 71% do total de pessoas que vivem na rua e a 73,4% do total das pessoas abrigadas nos centros de acolhimento da cidade. A maior participação é de pessoas procedentes da própria Região Sudeste e também do Nordeste.
O censo já havia sido divulgado no ano passado, mas o perfil socioeconômico da população em situação de rua foi apresentado quarta-feira (20/04/2016) pela prefeitura. No total, a cidade tem 15.905 pessoas na rua, sendo 8.570 nos centros de acolhimento e 7.335 em vias e espaços públicos.
De acordo com a pesquisa, a presença de imigrantes vivendo em situação de rua – 7% acolhidos e 1% na rua – é um fato social relativamente recente na cidade. “Esses estrangeiros são oriundos principalmente de países africanos que, chegando à cidade, procuram os serviços da rede de assistência social”, informa o documento.
Apesar de constituírem um grupo relativamente pequeno, o censo verificou uma tendência de crescimento em futuro próximo, com a intensificação do fluxo de refugiados para a capital, procedentes de países que passam por dificuldades econômicas e conflitos de natureza política, étnica e religiosa.
Segundo a pesquisa, a maioria dessa população, tanto dos acolhidos quanto daqueles que vivem na rua, é do sexo masculino, representando 88%. A faixa etária média é de 43 anos entre os acolhidos e de 41 anos entre os que estão na rua. Com relação à cor declarada, 69,7% dos acolhidos e 72,1% dos que estão na rua se consideram “não brancos”, ou seja, são pretos, pardos, amarelos ou indígenas.
O nível de escolaridade é baixo, com um percentual de analfabetos de 9,6% entre os que vivem na rua e de 7,1% entre os acolhidos. A proporção daqueles que completaram o ensino fundamental também é reduzida: pouco mais de 15% nos dois grupos e, dos que concluíram o ensino médio, 20,9% de acolhidos nos centros e 16,6% de quem está na rua.
Mais da metade da população em situação de rua já passaram por internação em alguma instituição, destacando-se o sistema prisional e as clínicas de recuperação de dependência de drogas e álcool, mostra a pesquisa. Entre os acolhidos, 30,5% passaram por clínicas de recuperação, 27,5% pelo sistema prisional e 11% por instituições psiquiátricas. Pela Fundação Casa passaram 10%. Com relação àqueles localizados nas ruas, 40% já passaram pelo sistema prisional, 32,8% por clínicas de recuperação de dependência e 12% pela Fundação Casa.
Saúde
Os problemas mais citados durante a coleta de dados foram de saúde bucal (27,5% dos acolhidos e 34,5% dos que estão na rua), sequela de acidentes (26% dos acolhidos e 26,7% dos que vivem na rua), HIV (3,3% dos acolhidos e 4,5% da rua) e tuberculose (3,9% dos acolhidos e 4,5% dos que estão na rua).
Sobre o uso de substâncias psicoativas, o levantamento constatou que a mais utilizada é o álcool: 44,6% entre acolhidos e 70,1% entre os de rua. Com relação às drogas ilícitas, 52,5% dos que estão na rua e 28,7% dos acolhidos confirmaram o uso de alguma dessas substâncias.
Segundo a prefeitura, além da análise do estado de saúde dessa população, o estudo fez um levantamento sobre a utilização dos equipamentos públicos de saúde. Os dados revelaram que os serviços de atenção básica, como postos de saúde, unidades básicas de saúde e AMAs foram utilizados pela maioria dos acolhidos e dos que vivem na rua, com índices de 71,3% e 57,6% respectivamente.
Violência
A população em situação de rua sofre ainda com a violência em diversas formas, desde agressão verbal até tentativas de homicídio. Tanto os acolhidos quanto os moradores de rua foram vítimas das seguintes formas de violência: agressão verbal como xingamento, ofensa e humilhação (55% e 70% respectivamente), roubo ou furto (59% e 64%), agressão física (38% e 50%), tentativa de homicídio com facada ou tiro (16% e 24%), remoção forçada (25% e 38%) e violência sexual (4% e 6%).
Os praticantes das agressões são, em grande parte, as próprias pessoas que pernoitam nas ruas, os agentes de segurança pública (polícias Civil e Militar e Guarda Civil Metropolitana), os agentes de segurança privada e pedestres.
Fonte: Agência Brasil
Clique nos links abaixo para ter acesso aos relatórios:
Censo da População em Situação de Rua na Municipalidade de São Paulo – 2015
Relatório completo do Censo da População em Situação de Rua – 2015
Relatório final da pesquisa amostral do perfil socioeconômico – 2015
Por Emilia Alves de Sousa
Oi Débora,
Muito interessante a pesquisa trazendo dados importantes sobre a situação das pessoas que moram na rua. Conhecer como vivem esses cidadãos, e os problemas de saúde que enfrentam, é necessário para a criação de políticas de atenção para a melhoria da qualidade de vida delas e da população como um todo.
Os dados levantados impressionam e acendem um alerta para a vulneralidade de saúde das nossas ruas. Dois dados na pesquisa me chamaram mais a atenção: O primeiro é quanto ao sexo das pessoas que moram na rua, 88% masculino. Se considerarmos que a maioria da população é do sexo feminino, o que é que está acontecendo com os homens? Por que eles saem mais de casa do que as mulheres? Sabemos que o homem ainda é visto como o provedor do lar, e muitos saem em busca de emprego, não conseguem e terminam ficando na rua por falta de condições de retorno. Mas não é só isto. Existem os problemas culturais, o preconceito que ainda é forte contra as mulheres e que podem influenciar a sua conduta. Seria importante uma análise nesse sentido. Afinal, ninguém deixa o seu lar simplesmente pelo prazer de morar na rua.
O outro dado é com relação a procedência das pessoas. Sempre foi dito que a maioria dos moradores de rua de naturalidade brasileira é constituída de nordestinos, e a pesquisa mostra que não, é do sudeste, o que reforça o preconceito em relação ao nordeste, ao atribuir, a priori, que tudo de ruim sai desta região.
Me chamou a atenção também a questão da violência sofrida pela população em situação de rua. “Tanto os acolhidos quanto os moradores de rua foram vítimas das seguintes formas de violência: agressão verbal como xingamento, ofensa e humilhação (55% e 70% respectivamente), roubo ou furto (59% e 64%), agressão física (38% e 50%), tentativa de homicídio com facada ou tiro (16% e 24%), remoção forçada (25% e 38%) e violência sexual (4% e 6%)”. E entre os agressores estão os agentes de segurança pública (polícias Civil e Militar e Guarda Civil Metropolitana), os agentes de segurança privada, dos quais se espera proteção e não violência. Lamentável!
Valeu Débora pela publicação!
Bjs!