COMUNICAÇÃO COM SURDOS NO BRASIL: O (des)compasso entre prática e discurso.
Embora estejamos no terceiro milênio, vivendo em país signatário da Convenção das Nações Unidas sobre Direitos da Pessoa com Deficiência (PcD), inclusive tendo-a sancionada através de Decreto presidencial, a comunidade surda brasileira ainda amarga absoluta exclusão do direito à comunicação e informações de relevante interesse para toda a população. Basta que paremos para observar que as emissoras de TV não se predispõem oferecer janela para tradução simultânea, para a Língua de Sinais Brasileira – Libras, de modo que os surdos também possam se beneficiar, interessar, e se manter informados do que é fundamental para todos.
Mesmo que as programações televisivas apresentem recursos de legenda, deve-se refletir sobre sua pouca importância e praticidade para os surdos, pois, mesmo alfabetizados não seguem a mesma lógica de elaboração das suas ideias e compreensão da linguagem escrita, como os ouvintes. A maneira de organizar seus pensamentos e a forma como se expressam é focada em sinais, símbolos e movimentos faciais/corporais, não baseada na organização e funcionamento lexical dos ouvintes.
Há muito que a comunidade surda se sente inferiorizada, por isso, vive reclusa em seu gueto, como mecanismo de defesa para preservar sua cultura e visão do mundo. Pesquisador da saúde, reabilitação e inclusão social da PcD, tive oportunidades de orientar pesquisas de mestrado que abordaram a temática comunicação com surdos, desde o que os próprios pensam em relação à comunicação com profissionais de saúde, aos conteúdos de ensino e formas de aprender a se comunicar com surdos na graduação.
Quanto ao atendimento nas redes de serviços públicos de saúde da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e cidades do interior, eles manifestaram descontentamento e frustração por não conseguir que as equipes os atendessem em suas necessidades, prestando-lhes cuidados compatíveis com seus quadros de doença. Deficitárias também estão as abordagens desenvolvidas nos Cursos de Graduação dos profissionais de saúde, bem como superficiais nos cursos de formação de magistério e especializações em “educação inclusiva”.
Não havendo preparo nos cursos de formação profissional, o que se pode ver são improvisações através do uso de fracassadas estratégias alternativas de comunicação para com surdos, como se fossem eles que tivessem dever de se adequar aos nossos improvisos. Inversão de valores imposta pela maioria ouvinte, que traz em si marcas do preconceito, discriminação, exclusão, e se estende aos demais setores da sociedade, como praga, erva daninha.
Maioria ouvinte sem consciência cidadã, incapazes de atitudes e comportamentos sociais voltados para aceitação da diversidade, considerando que todos somos essencialmente diferentes, singulares, pois manifestamos de diversas formas a condição humana que nos habita.
Como disse o filósofo Aristóteles, todo ser humano é um universo. Nessa perspectiva, quem perde é a sociedade, por continuar alienada quanto ao rico universo de significados do surdo, sobre a vida, o mundo, a ciência, a tecnologia, a comunicação. Tesouro a ser desvendado pela maioria ouvinte, a partir do momento em que as barreiras do preconceito sejam eliminadas, que passemos a viver em condições de igualdade.
Wiliam Machado
Por Emilia Alves de Sousa
Oi William,
Excelete a sua postagem trazendo essa reflexão sobre a comunicação com os surdos. A exclusão do surdo vai muito além da comunicação midiática. Ela começa na educação. Penso que as escolas, a começar pelo ensino fundamental, deveriam ter a disciplina de Libras na sua grade curricular. É importante que todos aprendam e saibam se comunicar com a pessoa surda para facilitar a comunicação e vitar constrangimentos desnecessários. Recentemente estava no balcão de uma lanchonete, quando chega um jovem surdo pedindo um suco de caju, e a atendente não o entendeu. Depois de várias tentativas frustadas, ele teve que escrever na mão o seu pedido. Foi constrangedor para o jovem e para quem estava ao lado observando a cena. No contexto atual, não cabe mais esse tipo de exclusão.
AbraSUS!
Emília