Acompanhantes: do benefício garantido por lei a espaço de troca e escuta
O Boletim do Laboratório de Pesquisas sobre Práticas de Integralidade em Saúde trouxe no dia 22 de fevereiro uma interessante reportagem sobre o dispositivo Visita Aberta e Direito a acompanhante, que funciona muito bem por lá. Confira!
Acompanhantes: De benefício garantido por Lei a espaço de troca e escuta no
Hospital Sofia Feldman
“Desenvolver ações de atenção integral à saúde da comunidade, em especial da mulher e da criança, em nível ambulatorial e hospitalar com qualidade, resolutividade, acolhedores e vinculantes, de forma universal, visando impactar nos indicadores de saúde deste grupo”. Com base na sua missão, o Hospital Sofia Feldman, ao longo dos seus 27 anos de existência, vem desenvolvendo uma série de iniciativas para oferecer um atendimento integral e qualificado, tendo como objetivo o bem estar das usuárias.
Uma dessas iniciativas é a permissão de um acompanhante 24 horas para a mulher antes, durante e após o parto. Antes, o serviço era destinado apenas até o momento do nascimento – após isso, reservado aos horários de visita, sempre foram bem flexíveis – e permitia apenas a presença de uma outra mulher como acompanhante. O benefício é respaldado pela Lei Municipal n° 9016/2005 e a Lei Federal 11.108/2005 da Presidência da República, regulamentada pela Portaria n° 2418/2005, que garantem a presença do acompanhante às mulheres nos hospitais públicos e conveniados com o Sistema Único de Saúde – SUS.
A escolha do acompanhante pela mulher é livre – sendo na maioria das vezes o próprio companheiro, o pai da criança, nesse momento. “A princípio, houve uma resistência da equipe à presença de um homem na enfermaria”, conta Ana Flávia Coelho Lopes, assistente social do Sofia. A solução, segundo Ana, foi instituir uma reunião informal com os acompanhantes do período. O Diretor do Hospital, Dr. Ivo de Oliveira Lopes, os chamava para um encontro na instituição após o café da manhã e os questionava sobre a experiência deles de ter vivenciado o trabalho e o parto, os ganhos com isso, etc. O Serviço Social começou a acompanhar esses encontros e, posteriormente, as reuniões se tornaram parte da rotina diária do hospital.
Registro da reunião de acompanhantes, realizada todos os dias pelo Serviço Social do Hospital Sofia Feldman |
“Chegamos à conclusão que a usuária não se importa de ter outra presença masculina na enfermaria contanto que o seu companheiro pudesse estar também ao seu lado. A aceitação foi positiva. E, à medida de que fomos escutando essas pessoas, criamos normas para os acompanhantes, como dar uma privacidade na enfermaria, através de divisórias”, afirma a assistente social, que acredita que as reuniões são, acima de tudo, um espaço de escuta dos usuários e de troca de experiências. “Podemos perceber nesse acompanhante a importância que ele tem. Isso não tem como medir em quantidade, mas dá uma mostra da receptividade em relação ao serviço e o quanto essa experiência marca a vida do pai e da família da criança. Muda a visão sobre a mulher também. A cena do parto faz com que o homem reflita sobre sua vida. É um momento de valorização da mulher, de fortalecimento da família” .
A reunião é realizada pelo Serviço Social, com a presença de um representante do Conselho de Saúde, e com uma ouvidora – mulher voluntária que faz a escuta das(os) usuárias(os). As reclamações e sugestões são encaminhadas para a ACAU (Associação Comunitária de Amigos e Usuários do Hospital Sofia Feldman), que passa os dados para a Diretoria e Conselho. “Esse retorno é muito importante para nós, do hospital. Acredito que o acompanhante possa ser até considerado da equipe, pois fazem um trabalho que nenhum técnico faz. Eles passam segurança emocional para mulher; é um parceiro no sentido de contribuir para o serviço”.
Ana Flávia considera a reunião de acompanhante “o termômetro da assistência”. “A reunião de acompanhantes hoje é um espaço constituído, formalizado. Mas, obviamente, estamos sempre atentos também às nossas conversas no refeitório, no atendimento, etc. É importante o profissional estar atendo e sensível a essas coisas e inserir o usuário no cuidado, no cotidiano da assistência”. Todos os dias, após a reunião, um veículo do hospital leva os acompanhantes para registrarem os bebês no cartório.
Guilherme, 29 anos, psicólogo, acompanhante de Cristiana, 36 anos, estudante de Museologia, consideram que o fato do pai poder acompanhar o processo pode significar o resgate do parto como um momento familiar, uma celebração da família, e a responsabilização dos envolvidos nesse momento. “Os homens estão assumindo o cuidado com a criança junto com a mãe”, diz Guilherme. Para Cristiana, a participação do pai vem nessa mudança que a família brasileira necessita. “Nada melhor que o seu companheiro para acompanhar um momento como esse: antes, durante e depois do parto”.
Fonte: https://www.lappis.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1241&sid=1