Não Fujas
Ah, morte!
Tu pareces
Com a mãe de todas as dores…
Ninguém quer do teu cálice
Mas a todos acompanhas…
Reis, atores e mendigos
Ficam diante de ti perfilados
Para que fugir de ti
Se tu nasceste comigo
Tuas mãos me acalentavam
No abrigo do útero
E a luz que encontrei
Sempre me prometeu a ti?
Quando morre um homem
Vou ficando menor…
Porque homem sou
Por isso não pergunto
“Quem morreu?”
Já sei a resposta
Tenho a posse
Do sal de tantas lágrimas
E com elas cultivo
Meu campo de resignação
Assim quando deitares
Neste leito imaculado
Onde é prometida toda a cura
Saiba que estarei contigo
Não me furtarei a tua palavra
Nem fugirei a tua corte
Nunca recusarei tuas flores
Muito menos ao convite
Da partida de xadrez
Pois negar-te
É negar minha humanidade
É não me ver naquele
Que tu já amparas
É não ver meu semblante
No espelho de minh’alma
Sôfrega de tempo
Tu és o fim dos arabescos
Acorde final…
De uma peça de Chopin
A pincelada que assina o quadro
O beijo da amante
Há muito tempo desejado
Doce libertadora
Do despojo da carne
Quero intensamente
Que o ponto final
Abra as portas
De um novo romance….
Erasmo Ruiz
Por Cláudia Matthes
Teu post chegou em mim com o som da tua voz…pude escutá-lo em cada palavra!
Coisa linda falar da morte sentindo a vida!
Que delícia de encontro – re-encanto!
Outro dia te conto de outros reencontros…Cláudia