Por Heloísa Antônia Franco

Prestamos aqui uma singela homenagem ao psicanalista Antônio Lancetti que nos deixou na última quarta-feira, 14, vitimado pelo câncer. Um homem que deixa de legado toda sua generosidade na luta contra a violência cometida àqueles que foram aprisionados nos manicômios; vivendo todo tipo de desrespeito, abusos e sofrimentos.
 
Lancetti dedicou sua vida aos que sofrem de aprisionamentos, discriminações, marginalizações e torturas psíquicas. Destruiu os manicômios de Santos juntamente com Davi Capistrano e participou de políticas nacionais de saúde mental. Acreditava que a política é inerente e fundamental à vida das pessoas na luta pelos direitos humanos.
 
Foi ele o idealizador e consultor do programa De Braços Abertos, criado na atual gestão de Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo, para recuperar usuários de crack, por meio de ações integradas entre direitos humanos, saúde e trabalho, sob a ótica de redução de danos e com oferta de trabalho e moradia. Nos últimos meses, ele vinha participando dos atos em defesa do programa, que corre o risco de ser extinto pelo prefeito eleito João Dória Jr..
 
O ex-presidente Lula também se manifestou em defesa da memória do psicanalista: “O seu trabalho sempre esteve associado ao que houve de mais avançado em iniciativas de saúde mental. Liderou junto com o saudoso Davi Capistrano a iniciativa revolucionária que acabou com os manicômios em Santos, atuou em políticas nacionais e também em São Paulo para tratamento dos viciados em crack. Dedicou sua vida a compreender e ajudar alguns dos segmentos mais discriminados da nossa sociedade. Um exemplo de generosidade e atuação pela missão pública da saúde não só para a classe médica como para todos os brasileiros”.
 
Fica registrado aqui, como psicóloga clínica que sou, o nosso agradecimento e reconhecimento pela dignidade de sua vida na luta pelas liberdades.
 
As imagens dos que conseguiram sobreviver ao horror dos manicômios e se reintegrarem na sociedade, no caso específico os da Colônia de Barbacena, são o melhor exemplo de que a luta de Lancetti não foi vã.
 
As imagens são registros da Mostra Fotográfica “Saúde Mental: Novo Cenário, Novas Imagens””, realizada em 2009, que retrata o cotidiano de ex-internos do grande manicômio que existiu em Barbacena-MG em suas novas casas e residências terapêuticas que foram proporcionadas pelo benefício de desinstitucionalização proveniente do Programa De Volta Para Casa, do Ministério da Saúde, criado no governo Lula. Fora da indiferença do hospício que foi nomeado pela jornalista Daniela Arbex de “Holocausto Brasileiro” em seu livro premiado estas pessoas puderam viver a cidadania que existe nas pequenas coisas que vai de desde ter a chave de sua casa até fazer café.
 

Perdemos mais um grande cidadão, um grande companheiro, que contribuiu muito para um país mais humano e mais justo: o médico Antonio Lancetti. Argentino de nascimento, adotou o Brasil e contribuiu muito na luta anti-manicomial no nosso país, por um tratamento mais humano e como questão de  saúde pública para os viciados em drogas.

O seu trabalho sempre esteve associado ao que houve de mais avançado em iniciativas de saúde mental. Liderou junto com o saudoso Davi Capistrano a iniciativa revolucionária que acabou com os manicômios em Santos,  atuou em políticas nacionais e também em São Paulo para tratamento dos viciados em crack. Dedicou sua vida a compreender e ajudar alguns dos segmentos mais discriminados da nossa sociedade. Um exemplo de generosidade e atuação pela missão pública da saúde não só para a classe médica como para todos os brasileiros.

Nesse momento de tristeza, dor e saudade, minha solidariedade a todos os parentes, familiares, amigos e alunos de Antonio Lancetti.  Luiz Inácio Lula da Slva