CUIDAI-VOS UNS DOS OUTROS

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Existem inúmeras produções técnicas e científicas com enfoque no processo de humanização da atenção, cartilhas, documentos e experiências por todo o país, mas ainda percebe-se uma timidez gritante da implantação de fato dessas ações, envolvendo atenção aos usuários e aos profissionais. Extenso material fala dos benefícios de ações voltadas para a gestão compartilhada, acolhimento a funcionários e usuários, propiciando um ambiente de trabalho menos hierarquizado cujas funções não sejam mera execução de protocolos de atendimento (Ministério da Saúde- Secretaria de Atenção à Saúde – Acolhimento na Gestão e o Trabalho em Saúde).( Acolhimento na Gestão e o Trabalho em Saúde, Brasilia, DF, 2016).

Constata-se hoje que tais princípios têm sua execução prejudicada e dificultada por gestores, coordenadores e gerentes por apresentarem interesses diversos da implementação de um modelo mais humanizado na atenção, com prejuízo no processo de cuidado dos usuários até o adoecimento dos profissionais.

Observou-se que os aspectos organizacionais do sistema de saúde agravavam o sofrimento daqueles que recorriam àquele serviço que tinha como missão curar e aliviar o sofrimento. Um paradoxo de difícil solução. O motivo era exatamente o sistema hierárquico e a má gestão. Não se considerava a importância de seus trabalhadores e deles era apenas esperado que soubessem executar tarefas. Soubessem obedecer, sem questionar. (Durães & Souza pg. 58)

Em contraposição a essa realidade, iniciativas isoladas vêm demonstrando a importância da aplicação de mudanças no modelo de atenção, “sem precisar reinventar a roda”, cujos benefícios já podem ser observados no curto período de tempo nos locais onde essas práticas estão sendo executadas.

Levando-se em consideração toda a prática existente nos Centros de Atenção Psico-Social já desde a sua criação, voltada na inclusão dos usuários e seus familiares como parceiros e co-responsáveis no processo terapêutico, resolvemos iniciar ações junto a um desses serviços cuja coordenação nos propiciou essa intervenção, focada na atenção aos funcionários como forma de melhoria da atuação desses profissionais em sua rotina de trabalho.

Funcionários motivados e satisfeitos vão acolher melhor os pacientes sem que eles vejam isso como uma tarefa a mais. Acontece naturalmente. A mudança na vida de uns melhora a vida dos outros. (Durães &, Souza pg. 60)

No mês de março de 2016 integrantes da Associação de Parapsicologia Sergio Rodrigues Fonseca participou da reunião geral da equipe de profissionais do Centro de Atenção Psico-Social – CAPS III Dê Lírios de Joinville/SC com uma proposta da realização de atividades de relaxamento voltada aos profissionais integrantes dessa equipe.

Essa proposta estava focada na importância da realização de uma atenção aos profissionais que desempenham atividades de atendimento a outras pessoas, quiçá a portadores de transtornos mental. Tais atividades e considerando-se o contexto social, proporcionam um desgaste normal, causando desconfortos emocionais, stress, além de outras alterações no funcionamento humano. Discutiu-se a proposta de criação de um espaço de atenção aos funcionários através de práticas consideradas complementares, em especial relaxamento e reflexões anti-stress, visando a busca de um melhor equilíbrio desses profissionais. Optou-se pela criação de um espaço para atendimento em grupo quando o(s) profissionais desta Associação realizariam esse atendimento, ficando a critério da equipe de comum acordo, a continuidade dessa prática, a primeira atividade grupal seria realizada no dia 20 de abril de 2016, de livre opção aos funcionários que se interessarem na participação. Houve ainda o convite aos interessados na realização de atendimento individualizado gratuito fora de seu expediente, em local específico.

Foram realizados doze encontros quinzenais durante o ano de 2016, com duração de sessenta minutos cada um no início do expediente da quarta-feira. Os participantes eram convidados a participar, desde que não houvesse prejuízo em seus compromissos a bem da dinâmica do serviço. Houve uma média de dez participantes em cada encontro.

Os encontros eram organizados com a apresentação de um pequeno texto para reflexão, a aplicação de uma prática de relaxamento e a discussão de tema que despertou interesse nesse dia, como utilizar essas técnicas para enfrentar algumas dificuldades que estes enfrentam no dia a dia. Nesse período lhes era ensinadas práticas de relaxamento para serem realizadas em outros momentos de seu dia no trabalho, em casa, na hora de dormir, por exemplo.

No início de dezembro de 2016, finalizamos as atividades do ano com a aplicação de um curto questionário com dados preliminares, visto que existe a proposta de continuidade no próximo ano.

Desse questionário, a totalidade, isto é, 100% tem interesse na continuidade da proposta no próximo ano, 90% considerou “ótimo” as atividades, 85% referem ter trazido algum benefício.

Destacamos ainda a fala de alguns profissionais através desse questionário: “ o relaxamento ajuda a sobrecarga de serviço não interfira na vida pessoal”, “ajuda no auto-controle”, “é importante ampliar o espaço de reflexão “ “ajuda a diminuir a ansiedade e o stress”, “consigo estar mais centrado em minha atividades no trabalho e pessoais”.

Bibliografia:

Durães, Jaqueline Sena e Souza, Waldir – A Política Nacional De Humanização do SUS e os Cuidados Com o Cuidador – Encontro De Bioética Do Paraná – Vulnerabilidades: pelo cuidado e defesa da vida em situações de maior vulnerabilidade. 2, 2011, Curitiba. Anais eletrônicos… Curitiba: Champagnat, 2011, p. 52-61. Disponível em: https://www.bioeticapr.org.br/;

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Saúde Mental / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015.

Brasil, Ministério da Saúde- Secretaria de Atenção à Saúde – Ministério da Saúde- Secretaria de Atenção à Saúde – Acolhimento na Gestão e o Trabalho em Saúde, 2016.