Crônica de um dia de luta! Conferência de Saúde das Mulheres no Médio Vale do Itajaí.
Há muitos modos de luta na vida. E considero que participar de uma conferência de saúde das mulheres, convocada a partir do Conselho Nacional de Saúde, é uma delas.
O convite era para fazer a fala inicial da conferência regional, que, em linguagem bem simples, pudesse levar aos participantes os propósitos do evento. Grande tarefa, desafio importante.
Não sou especialista no assunto, mas as amigas me confiaram a tarefa, então vamos lá… Ler o documento orientador, estudar o assunto, falar com outras amigas envolvidas mais diretamente na luta… algo que pudesse me dar esta capacidade de traduzir em miúdos a complexidade do tema. Sem banalizar e ajudar a compor a reflexão nos grupos que irão construir as propostas.
Indaial fez uma preparação municipal, uma pré-conferência para construir mais próximo da população as propostas que o grupo representante levaria para a conferência regional. Exercício maravilhoso da democracia e participação social. Acompanhei à distância, mas muito atenta a esta importante movimento.
Participei da Conferência Municipal de Blumenau, que aconteceu uns dias antes, 5 e 6 de Maio para ser mais precisa.
Um pouco por minha inserção na Gerência de Saúde, um pouco por minhas convicções de valores que esta luta representa para a sociedade. Muito além do que somente para as mulheres e, em especial, pelo SUS e sua qualificação, no sentido da participação popular e democrática, que representa uma conferência de saúde.
A abertura oficial já havia acontecido no dia anterior com uma grande presença de autoridades de muitas áreas saúde, políticos, movimentos sociais, entre outras. Apresentações culturais, prata da casa, trabalhadores de saúde e suas redes sócias. Show!
Eram poucas… mas fortes. Um sábado dedicado à luta em Blumenau. Nova abertura. Apresentação cultural de mulheres que representam luta, vitória e participação social: grupo de dança da rede feminina de combate ao câncer de Blumenau. Novo Show!
E a fala de abertura com a Conselheira Nacional de Saúde, grande militante do SUS em favor das mulheres, Carmen Luiz. Aula de história do SUS, das conferências, da luta das mulheres e dos desafios a enfrentar. Aprendi muito, me encantei ainda mais por esta face democrática do SUS.
Fomos aos grupos cheias de ideias e propostas. Uma riqueza de representatividades e de participação social. Algumas falavam mais que as outras, mas todos sem exceção estavam ali para colocarem suas ideias. Ninguém calou, todas falaram e a única voz masculina do grupo também ecoou no debate. Embora quisessem, com boa intenção, ocupar certa liderança no grupo, as mulheres tomaram a frente e fizeram sua voz ser ouvida sem interlocução. Foi de arrepiar!
Agora me sentia mais pronta para organizar minhas ideias para falar em Pomerode no dia 09 05 2017. Nada como a vivência para nos incorporar no tema, nos ativar os sentidos e nos colocar de prontidão para a luta.
Preparei a fala em slides de modo que todos pudessem ativar suas reflexões com imagens para além das palavras.
No dia segui para Pomerode, determinada a dar minha contribuição, certa de que não seria perfeita, mas que faria meu melhor. Cheia de medos, com minhas lembranças e emoções, cheguei ao lugar onde tempos atrás havia vivido muita dor e emoção. A última vez que tinha estado ali era também para a fala de abertura da Conferência Municipal de Saúde de Pomerode, mas enlutada pela perda de minha amada avó, que havia falecido naquela noite. Foi muito intenso tudo isso. E as palavras luto e luta se confundiam em minhas emoções.
Abertura oficial, mesa de autoridades. As falas das autoridades foram se tecendo uma a uma, e ao mesmo tempo formando um emaranhado de valores que representam a riqueza vivida na sociedade da região. Homens tentando fazer um discurso sobre o assunto, que nem sempre conseguem se despir do machismo. Mas ali estavam muito dispostos para a luta, para refletir sobre a saúde das mulheres. Auditório lotado, representantes de muitos municípios da região (Apiúna, Ascurra, Indaial, Rodeio, Pomerode, Rio dos Cedros e Timbó). Gestores do SUS todos presentes, à frente e comprometidos com a democracia. Na retaguarda, uma militância trabalhadora, que dava gosto de reconhecer a luta de cada uma daquelas mulheres nesta tarefa que é da saúde e ao mesmo tempo política e estratégica para o sistema. Cada uma com sua parte, fazendo um todo que dava orgulho de fazer parte. Apreensão e responsabilidade me dominavam novamente. Terei que dizer o que vim fazer, sem ferir, sem afastar do movimento os que pensam contrariamente de mim, chamar a diversidade para a participação, sem deixar de me posicionar. Grande desafio.
Antes a leitura do regimento, uma plateia atenta e comprometida solicitava destaques e fazia observações. Regimento alterado e aprovado.
E assim foi que iniciei minha fala. Uma fala autoral de muitas vozes que ecoavam no auditório, de muitos silêncios que buscavam reflexão e de outros sorrisos sem graça pela contradição com seus pensamentos. Mas era isso… fazer pensar. Deu certo. Fiquei feliz! (veja apresentação em anexo).
Na sequencia duas falas igualmente importantes para as reflexões propostas pela organização da Conferência de Saúde das Mulheres: Violência Obstétrica por Maria Hernandez, Mestre em enfermagem e doutoranda no assunto pela UFSC; e Direitos das Mulheres, por Elsa Cristine Bevian, advogada e professora da FURB.
E foi o almoço e iniciaram-se os grupos, com a mesma intensidade e riqueza.
Grata por fazer parte desta luta! Grata por seguir escrevendo a história do SUS em minha vida.
Agora serão outras conferências na região: Benedito Novo junto com Doutor Pedrinho, Brusque e Gaspar. E em seguida a Conferência Estadual e a Conferência Nacional. Viva a democracia na Saúde!
Por Sérgio Aragaki
É muito emocionante ler e ir acompanhando sua trajetória apaixonada e apaixonante em defesa das mulheres, em defesa da equidade, em defesa do SUS, em defesa da vida.
Seguimos tecendo essas redes de afetos e de trabalho.
A luta continua. E como disse Caio Fernando Abreu: “que seja doce, que seja doce, que seja doce…”
Grande abraço