A importância da supervisão em saúde mental no âmbito da estratégia de atenção psicossocial.
O presente texto trata-se de uma análise crítica a partir do artigo “Efeitos Transversais da supervisão clínico-institucional na rede de atenção psicossocial” (OLIVEIRA, PASSOS 2015 ), publicados nos cadernos humanizaSUS/saúde mental.
Partindo do pressuposto de que foi tomada para análise a rede de atenção Psicossocial de uma área programática (AP) do município do Rio de Janeiro (RJ), foram levadas em construção duas séries paralelas e contemporâneas apresentadas como linhas modulantes, doença mental- tutela- manicômio para poder comportar outros riscos: doença mental- controle- serviços abertos.
Oliveira e Passos fizeram uma pesquisa a campo tendo como objetivo principal analisar os efeitos gerados pela dinâmica da rede de saúde, considerando a diferença de linhas em conexão. A pesquisa cartográfica feita pelos próprios profissionais que lá atuavam, contou com a gestão e presença da equipe vinculada aos serviços especializados no centro de atenção psicossocial, durante esses encontros foram propostos e discutidos a forma de gestão e supervisão dos serviços prestados visando à interlocução entre os setores e instituições que objetivavam o apoio.
Através do estudo realizado pelos autores, os mesmos constataram que existe uma limitação decorrente da mecanização de procedimentos adotados pela atenção básica que gera como consequência a sensação de impotência pela equipe diante de casos “fora do padrão”, e por isso tomaram o apoio institucional como dispositivo de ampliação da capacidade de reflexão de entendimento e de análise dos coletivos ajudando a qualificar a intervenção e aumentando a capacidade de produzir saúde. Para tanto, reflexões em torno das práticas dos novos serviços substitutivos precisam ser constantes, sendo a supervisão clínico-institucional um dos principais dispositivos adotados na Reforma Psiquiátrica brasileira com essa finalidade. A supervisão clínico-institucional, destina-se à discussão das questões clínicas e institucionais dos serviços e da rede de saúde mental.
A partir de então o processo de supervisão do CAPS se desdobrou em três linhas de ação, sendo eles: planejamento dos processos de trabalho, análise permanente dos processos de trabalho e a discussão e construção coletiva dos casos clínicos. Através desse dispositivo- supervisão traçado como uma reflexão para um novo planejamento nos instiga a pensar sobre as diretrizes de reflexão do ministério da saúde: Quais noções de clínica e de gestão têm sido adotadas? Há um movimento de criação de espaços inovadores/instituintes nas práticas de supervisão coerentes com a Atenção Psicossocial, ou há apenas uma reprodução do instituído?
A particularidade trabalhada nesse CAPS reivindica a revisão de práticas e conceitos que baseiam o trabalho em saúde mental, a partir da formação acadêmica e de experiências no cotidiano laboral. A saúde mental fundamenta-se em uma ampla ameaça de conhecimentos sem limites estabelecidos, e quem aí trabalha precisa compreender a complexidade dos problemas e nas intervenções. Ao debater sobre esses projetos e clínica, compreendemos que não é separável em partes a gestão do trabalho. A problematização precisa ser constante, não trazida somente a partir de uma pesquisa, mas estabelecida no cotidiano do território, visando à superação, a pulverização e a hegemonia do paradigma que ainda é presente em serviços de saúde, o paradigma asiliar e o psicossocial.
Segundo Coimbra, que critica a supervisão ainda mais voltada a pratica psi, caracterizando-a como modelo autoritário e modelo liberal. Ele estabelece que primeiramente o supervisor é aquele que tudo sabe e o supervisando aquele que nada sabe, o que reforça a relação de submissão e onipotência das práticas psis que se duplicam nas instituições. Já em segundo plano ele traz a inspiração humanista, no qual o supervisor alega ser igual a seus estagiários, o que neutraliza as relações do poder ali existentes. Na inspiração humanista, “sensibiliza-se, critica-se e questiona-se, desde que seja dentro de certos limites, de determinado território”.
Como dispositivo de controle da formação e do processo de trabalho, o termo supervisão vem sofrendo críticas constantes no campo da saúde, com proposições de novas denominações, como inter-visão e co-visão, admitindo que o olhar desse “externo” é um entre outros, que se junta ao olhar da equipe com a proposta de revisitar os caminhos trilhados por ela, de modo a propiciar a percepção de seu modo de sentir, pensar e agir. Diante do dilema paradigmático vivenciado nos serviços e das diferentes tradições teórico-técnicas na supervisão, e da escassez de pesquisas sobre o assunto, faz-se necessário haver uma revisão crítica do que seja supervisão em saúde mental no âmbito da Estratégia de Atenção Psicossocial.
Considerando que o indivíduo que busca ou é necessitado de atenção à saúde mental, ainda deseja a visão de cidadão no meio social ou então busca respostas para suas demandas, portanto se torna evidente a urgência desses aprimoramentos profissionais e institucionais no campo da saúde mental, para que desta forma seja possível uma melhor qualidade e integralidade de assistência, fazendo com que esse acolhimento seja feito de forma abrangente e a todas as questões inerentes à sua saúde física e psicossocial.
Acadêmicas do curso de Psicologia/FISMA: Christian Graciano, Maria Eduarda C. Kirchhof.
REFERÊNCIAS:
COSTA – ROSA A. O modo psicossocial: um paradigma das práticas substitutivas ao modo asilar. In: Amarante P, organizador. Ensaios, subjetividade e saúde mental. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2000. p. 141-68. 9. Santos-Filho SB, Barros MEB, organizadores. Trabalhador da saúde: muito prazer! Ijuí Unijuí; 2007.
COIMBRA CMB. A supervisão institucional como intervenção sócio-analítica. Psicol Cienc Prof [Internet]. 1989 [acesso 2014 Maio 20]; 9(1):26-8. Disponível em: https://www.scielo. br/pdf/pcp/v9n1/08.pdf.
FERIGATO S, DIAS MK. A supervisão clínico-institucional: um dispositivo teórico-prático para o fortalecimento das redes em saúde mental. In: Dias MK, organizador. Dispositivos de atenção em saúde mental e seus desafios: os impasses na consolidação de uma atenção em rede. Natal: EdUnP; 2013. p. 83-102.
Por Andreza Custódio
Interessante ver que através do estudo realizado pelos autores, os mesmos constataram que existe uma limitação decorrente da mecanização de procedimentos adotados pela atenção básica que gera como consequência a sensação de impotência pela equipe diante de casos “fora do padrão”, mas a reflexão de vcs levantada é muito valida para toda questão de clinica dentro da psi, trazendo a tona a questão: Há um movimento de criação de espaços inovadores/instituintes nas práticas de supervisão coerentes com a Atenção Psicossocial, ou há apenas uma reprodução do instituído?