Rizoma e Grupalização

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Grupos como modo de potencializar o trabalho em saúde.

O que é um grupo?

É difícil responder sem cair na torre de Babel dos diferentes referenciais teóricos e campos de aplicação ainda mais numerosos. Talvez funcione melhor pensarmos neles como um "dispositivo".

E o que é um dispositivo?

É algo que produz um efeito, faz um movimento, fomenta uma ação. 

Que efeito/ movimento seria esse dos grupos?

Por em relação. Uma ação concreta de propiciar relações. Fazer redes.

Uma ação concreta de provocar mudanças de posição e mudanças de função.

A atitude de deixar de lado a velha pergunta pela identidade dos grupos e optar pela pergunta sobre o que eles agenciam nos coloca  em outra posição. Como trabalhadores de saúde do campo psi, usamos o dispositivo como estratégia de por em movimento as subjetivações que se nos apresentam sob a forma de modos de existir. Tais modos trazem, por vezes, sofrimentos e impasses de toda ordem.

Alguém poderia objetar dizendo que a relação dual também se propõe movimentar essa paisagem subjetiva. E que nela ( na relação dual ) também comparecem múltiplas subjetivações. Por outro lado, um grupo também pode funcionar "dualizando" posições em vez de multiplicá-las.

Então tomemos como exemplo um modo de subjetivar contemporâneo, com o objetivo de concretizar o que estamos tentando trazer para a discussão.

O "arroz- com- feijão" da clínica com crianças hoje é a demanda trazida pelos adultos de avaliações de comportamentos ditos "desviantes do normal": dificuldades de aprendizagem, agitações, rebeldias em relação `as regras de sociabilidade, agressividades, entre outros. Um modo de subjetivar dominante e unificador é então considerar e VIVER como doença – e doença individual – todas essas manifestações das crianças.

As terapêuticas têm sido predominantemente medicamentosas. Listam-se sintomas das novas doenças – TDAH, dislexias, transtorno opositor- desafiador ( TOD e a sopa de letrinhas completa…) – e medica-se com ritalina, conserta e outras drogas.

Quando a abordagem dos especialistas comporta alguma delicadeza, encaminham-nos os pequenos para terapias psicológicas.

Coloquemo-nos agora no lugar destas crianças: desterritorializadas de seu contexto infantil, chegam ao consultório do neurologista, psiquiatra, psicólogo. Território de adultos. Não há como negar que essa montagem arquitetônica produz a seguinte paisagem subjetiva: a criança se vê como objeto de uma intervenção do adulto. Mesmo que brinquemos com ela, estamos na posição de observadores. Nosso olhar se dirige para ela. dependendo da idade, percebemos claramente que sabem o que esperamos delas. Assim, algumas se entregam amorosamente `as brincadeiras ou desenhos, outras sabotam suas próprias performances em testes…Estratégias da infância frente ao mundo dos adultos.

 

Agora miremos, ainda com olhos de criança, o que se passa quando as agrupamos: "tem mais criança aqui…temos pares…há outros iguais a nós…podemos brincar e circular entre nós…"

RODA

Um círculo seria impensável numa relação dual, assim como a horizontalidade da relação grupal com seus "iguais". 

Um enlace torna-se possível. "Temos algo em comum? O quê temos em comum? O quê querem saber de nós? Ou, na pior das hipóteses, sobre nós? Poderemos ser nós mesmos a dizê-lo? As crianças chegam por vezes a formular explicitamente essas questões.

Aqui se criam novas territorialidades, zonas de visibilidade que poderiam ficar obscurecidas na relação dual.

Os seres humanos são impensáveis fora da vida coletiva, principalmente na infância. Mas é diferente tomar o dispositivo grupo como uma criação estratégica para promover o compartilhamento de uma "comunidade". A diferença está na produção do ENCONTRO como ferramenta terapêutica.

 

Iza Sardenberg

Coletivo de Editores da RHS