Atenção humanizada na gestação de alto risco

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Inicialmente, quero deixar minha opinião à respeito de terminologias como: gestação de alto risco e primigesta idosa. Entendo que os estudiosos assim denominaram estes eventos, mas, ao longo de minha vida profissional, 36 anos de vida obstétrica, acho-me no direito de ter as minhas próprias convicções e, deste modo, entendo que deveríamos trocar as terminologias anteriormente escritas, por gestação com fatores de risco e primigestação tardia, por serem politica e eticamente corretas.

Voltando ao tema do título, usando a minha terminologia, na atenção à gestação com fatores de risco, a humanização é fundamental, uma vez que somente pelo fato de a gestante ser "rotulada" como  alto risco, de imediato  vem à sua mente e de seus familiares a idéia de morte.

Labutei por 25 anos em uma maternidade referenciada para  alto risco e convivi diariamente com estas angústias . Por ser  unidade referenciada, recebia gestantes de todo o Estado que  chegavam à maternidade sem a menor informação sobre o seu estado clínico, apesar de terem sido encaminhadas por médicos ou por enfermeiras das unidades de origem.

Quando se tem à frente uma gestante  assim classificada, o olhar do profissional deve ter um foco diferenciado, porque a gestante e seus familiares vêem no profissional que a atende, um viés de salvação da mão e do feto.

Tive, por várias vezes  o desprazer de receber gestantes referenciadas para a maternidade  que não tinham sequer noção do que era hipertensão arterial, placenta prévia, Rh negativo, crecimento intra uterino retardado, etc. É inadimissível que um médico , durante um pré natal não tenha tido o  dever ético e humano de instruir estas gestantes nas suas visitas mensais.

A atenção humanizada à gestantes com fatores de risco, não é somente  vê-la nas visitas ao pré natal. É algo mais abrangente, pois  nestas situações, não tratamos apenas das questões burocráticas, como preencher o cartão de pré natal, pedir exames, ou preencher a planilha de produção médica da unidade de saúde.

Temos à nossa frente e sob nossa atenção, não somente uma gestante, mas, a gestante,  o fete que  traz no ventre, e sua família, com medos, inseguranças e anseios por um final feliz da gestação.

Temos o dever de informar à gestante e à seus familiares qual é o fator de risco que se apresenta, que  condutas deverão ser tomadas e estabelecer nesta nova relação médico paciente, a confiança.

Não é necessário ser super especialista para isto. Basta ser um profssional atento à mudança de comportamento que a sociedade e a ética exigem. Por serem usuárias do SUS, estas gestantes têm  direitos inquestionáveis à assistência e atenção humanizadas . Acho inadmissível que  instituições  referenciadas para esta assistência não busquem a qualificação de seus profissionais para uma asistência além de técnica, humanizada.

Há protocolos escritos para a atenção ao  alto risco, mas, os profissionais, em sua grande maioria, somente atentam para os itens técnicos dos protocolos, esuqecendo-se de que estão cuidando de pessoas.

José Carlos S. Silver