Olhar de um Prof.º de Medicina da UFES sobre Um Hospital Humanizado

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UM HOSPITAL HUMANIZADO

O HUCAM nosso local de trabalho, é também nossa segunda casa. Aí passamos grande parte da nossa vida e somos uma grande família e, assim, seja qual for nossa função devemos sempre proceder como irmãos unidos em torno de um objetivo comum: Atender com atenção e competência os pacientes que nos procuram, e que tem absoluto direito a essa boa recepção, pois são eles a razão de existir do hospital. Portanto o paciente deverá sempre ser o primeiro da fila de prioridade da organização do funcionamento hospitalar.
Assim devemos desenvolver nossas atividades nesta instituição hospitalar que estamos trabalhando por opção nossa, não apenas para tirarmos nosso sustento, mas também para desfrutarmos o prazer de trabalhar e conseqüentemente aumentarmos nossa qualidade de vida. Vejo este aspecto como crucial para o bom funcionamento da Instituição, pois só trabalhando com prazer e desprendimento, conseguiremos dar aos pacientes o correto acolhimento profissional a que eles têm direito e  transmitir-lhes tranqüilidade, aumentar-lhes o ânimo e a esperança de recuperar sua saúde.
O processo terapêutico  dos pacientes que procuram um hospital, com certeza não se inicia apenas após o diagnóstico médico. Esta é teoricamente a última etapa do compromisso assumido do hospital com os pacientes. Todos os setores da instituição hospitalar devem ter obrigatoriamente a consciência de que estas pessoas (pacientes) que estão lhes procurando para tratamento médico, são seres humanos, freqüentemente humildes e com residência distante do hospital e que neste momento que estão necessitando do auxilio médico, estão com certeza emocionalmente fragilizados ( como todo ser humano quando  adoece). Este estado de insegurança quanto às suas perspectivas de vida, influencia muito na evolução terapêutica deles seja qual for sua doença.
Estes aspectos até agora expostos, são opiniões unânimes da literatura médica que trata da boa relação médico-paciente (Medicina da Pessoa) de que o tratamento humanizado do paciente é fundamental para sua melhora, desde o momento que ele tem o primeiro contato com qualquer setor do hospital. Sendo aí acolhido com a indispensável atenção e competência ele sente-se amparado e bem orientado, diminuindo muito sua ansiedade e insegurança, levando-o à consulta médica propriamente dita, bem melhor emocionalmente, facilitando muito a relação médico-paciente, com todas suas conseqüências positivas para o paciente, ou seja, a boa relação inicial ( pré-consulta) hospital-paciente ajuda muito na recuperação da sua saúde.
Se os diversos setores assim procedem com essa correção profissional na instituição hospitalar, estaremos realmente diante de um hospital HUMANIZADO e que poderá verdadeiramente na prática ser chamado “Hospital de Referência”, pois há motivos de sobra para ele ser exemplo para outros hospitais e para ser referido  elogiosamente por todos aqueles  que se utilizaram  de seus serviços clínicos e cirúrgicos, e foram acolhidos realmente como seres humanos e  orientados plenamente em suas necessidades até chegar ao seu médico,  e como pacientes  individualizados (paciente-pessoa) como exige o correto exercício da medicina. Portanto devemos todos nós, que trabalhamos na complexa e difícil área do ser humano doente, demonstrarmos total repúdio ao atendimento do paciente com desatenção e desinteresse quando ele procura o hospital, e a mais irrestrita aversão à consulta médica “cronometrada”.
Finalizando gostaria de ressaltar a necessidade fundamental e indispensável de maior ênfase ainda na observação destes aspectos de um hospital humanizado, quando se trata de uma Instituição Hospitalar de ensino como é o nosso HUCAM. Nestes hospitais de ensino seus pacientes prestam inestimável colaboração e participação no aprendizado acadêmico dos alunos e também dos professores. Eles estão a todo o momento à nossa disposição, “sem pressa”, humildemente e resignadamente para nossas aulas práticas, freqüentemente repetidas, nos ambulatórios e enfermarias. O nosso tratamento dispensado a estes seres humanos deve ser obrigatoriamente o mais atencioso e respeitoso possível. São eles através de suas mais diversas doenças, nossos verdadeiros mestres do ensino prático. Entre inúmeros aspectos de atenção dignificada aos nossos pacientes eu gostaria de ressaltar a elementar necessidade de nos relacionarmos ou nos referirmos a eles através dos seus nomes próprios. Jamais eles deverão ser o número de um prontuário, o número de um leito ou pior ainda uma “doença internada”.

Dr. Mário Tadeu Penedo Borges
Professor de Gastroenterologia do DCM do Centro de Ciências da Saúde da UFES
30/12/2011