No Brasil e no mundo, os avanços científicos,
tecnológicos, organizacionais e administrativos têm
colaborado para o aumento expressivo do número
de transplantes, embora ainda insuficiente, face à
enorme demanda acumulada de órgãos. No Brasil, a
taxa obtida é de 5,4 doadores por milhão de
habitantes/ano. Estudos evidenciam que os
profissionais de saúde e a população são predispostos
à doação de órgãos e que existe grande número de
potenciais doadores, porém, a realidade mostra
elevado número de recusas, o que pode estar
relacionado ao processo de doação.
O processo de doação é definido como o
conjunto de ações e procedimentos que consegue
transformar um potencial doador em doador efetivo.
O potencial doador é o paciente com diagnóstico de
morte encefálica, no qual tenham sido descartadas
contra-indicações clínicas que representem riscos aos
receptores dos órgãos. Esse processo pode demorar
horas ou dias, o que pode causar estresse e ser
traumático à família e, com isso, comprometer
desfavoravelmente o número de doações.
Percebe-se que o entendimento da morte
encefálica é um dos fatores que influi no processo de
doação de órgãos, pois, geralmente, as famílias
apenas ouvem falar desse conceito quando um ente
querido evolui para tal diagnóstico, em decorrência
de uma lesão cerebral severa e súbita, o que dificulta
a compreensão da idéia da cessação das funções do
cérebro em um ser aparentemente vivo. O
desconhecimento e/ou não aceitação da morte
encefálica é compreensível, uma vez que,
classicamente, a morte era definida como a cessação
irreversível das funções cardíaca e respiratória, o que
gera resistência não somente na população, mas,
também, entre os profissionais de saúde.
A morte é um evento, após o qual podemos
esperar que ocorra o luto. O luto deve ser
considerado durante o processo de doação. Os
comportamentos, sentimentos, sintomas e cognições
devem ser analisados e considerados antes do início
da entrevista, cabendo ao profissional a percepção
sobre o estado emocional do familiar e a identificação
da interferência que esse estado pode acarretar.
Após a confirmação do diagnóstico de morte
encefálica, normalmente um momento bastante difícil
para a família, é que o processo de doação de órgãos,
propriamente dito, tem início. Nesse momento, os
coordenadores de transplante, na maioria
enfermeiros, que trabalham nas Organizações de
Procura de Órgãos (OPOs), fazem a avaliação do
potencial doador e, se viável, realizam a entrevista
familiar quanto à doação.
Para a manifestação do consentimento, é
importante que os familiares tenham os
esclarecimentos necessários sobre o processo de
doação, incluindo o diagnóstico de morte encefálica.
No entanto, observa-se que muitas famílias parecem
ter dificuldades para compreender as orientações
dadas e que são necessárias para a tomada de
decisão.
No Brasil, um país de dimensões continentais,
com poucos centros transplantadores e grandes
diferenças sociais, culturais e religiosas, as
dificuldades relacionadas ao processo de doação
tornam-se ainda maiores. É essencial haver
integração entre os profissionais envolvidos afim
de melhorar a qualidade da assistência ao potencial
doador e à sua família, contribuindo, dessa maneira,
para incrementar a obtenção de órgãos adequados
para transplante. A doação de órgãos poderia ser
grandemente facilitada se fosse priorizada e garantida
boa qualidade de comunicação entre os profissionais
e a família do doador.
O conhecimento da percepção de familiares
de doadores cadáveres sobre o processo doação de
órgãos para transplante, após ter vivenciado tal
situação, contribui para a implementação e otimização
de ações que promovam a melhoria da qualidade do
processo de doação de órgãos para transplante.
Por Fatima Oliveira-Hospital Getúlio Vargas-Pi
Parabéns pelo Post!!