ARTE
Reginaldo Terra, o Rei Naná do Hotel da Loucura – Hospital Psiquiátrico Nise da Silveira, construindo suas pontes por meio de um violino.
(QUADRA FUNDA – um poema e três estrofes
complementares)
DO BURACO NEGRO IMINENT
À PERCEPÇÃO SENSÍVEL
DO SER EM SOBRESSALTO A SUPERAR-SE
AO SALTO IMORTAL DIVINO MÍTICO
EIS-ME DIANTE DO ABISMO
E ME FAÇO PONTE
EIS-ME DIANTE DO ABISMO
E ME FAÇO PONTE
DA SEDE QUE FLAGELA E MATA
ÀS MATAS QUE PRESERVAM AS FONTES
DA MORTE QUE ENTERRA E SOME
À VIDA QUE RESSURGE AOS MONTES
EIS-ME DIANTE DO ABISMO
E ME FAÇO PONTE
EIS-ME DIANTE DO ABISMO
E ME FAÇO PONTE
DO QUE PERCEBO E TORNO PERCEBIDO
DO VISTO E LIDO NAS ENTRANHAS
DA FACA LANHO CORTE DA LIBIDO
AOS MUROS QUE A LIBERDADE ESTRANHA
EIS-ME DIANTE DO ABISMO
E ME FAÇO PONTE
EIS-ME DIANTE DO ABISMO
E ME FAÇO PONTE
DO ESTRANHO SER QUE SE REVELA HUMANO
AO HUMANO QUE SÓ SE QUER RAZÃO
DA SUBLIMAÇÃO DA ARTE AO PURO ENGANO
DO PODER AO DESPUDOR DA CRIAÇÃO
EIS-ME DIANTE DO ABISMO
E ME FAÇO PONTE
EIS-ME DIANTE DO ABISMO
E ME FAÇO PONTE
Por raylimalima
Vejam a quadra funda completa, intitulada Um poema e três estrofes complementares. A quadra funda é um estilo, um esquema poético criado por mim nos anos 80 que resumidamente seria: "quatro estrofes de quatro versos livres e profundos". O professor de literatura e crítico Paulo César dos Santos Leal diz a respeito da Quadra Funda em seu Pósfácio do livro Ultrapassagens que, embora produzido no Rio de Janeiro, só veio a ser publicado em 1994 pela Expressão Gráfica, Fortaleza-CE, quando já estávamos em Icapuí-CE:
"Todavia os mais belos poemas deste livro estão insertos nas quadras fundas, como o próprio nome revela são poemas de 4 estrofes perfazendo desesseis versos em que os primeiros instalam um premissa que vai desenrolando-se numa tensão dialética até chegar ao desenlace, podendo inclusive, não ser definitivo.
Na leitura destas quadras recordei-me de IGITUR. E o propósito único de ambos os poetas – Mallarmé e Ray Lima – foi o de ir cada vez mais fundo, na busca do primordial, do primeiro; escavando, encontrando, largando, escavando…
Da semente germinada, veio a planta
e da planta veio espiga,
há quem diga e quem não diga
que por trás daquela espeiga mora a loira que me amor".