Uma em cada cinco mulheres sofre de doença mental em Moçambique
Encontrei esta matéria no facebook que me chamou a atenção pelo alarmante índice de mulheres com doenças mentais na África, e que me levou ao seguinte questionamento: e no Brasil existe alguma estatística sobre a prevalência de mulheres com transtornos mentais? Quantas somos? Não temos o mesmo cenário existente em Moçambique, entretanto a carga de responsabilidades/problemas de toda ordem assumidos pela mulher brasileira é muito alta, o que a predispõe ao adoecimento, e requer, portanto um olhar cuidadoso sobre a sua saúde mental.
Compartilho aqui a matéria com os dados de pesquisa da realidade de Moçambique, e que eles sirvam de sinal de alerta para o nosso SUS.
Celebrou-se, nesta quarta-feira, 10 de Outubro, o Dia Mundial da Saúde Mental, numa altura em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que 350 milhões de pessoas no mundo sofrem de demência e, anualmente, cerca de 850 mil suicidam-se. Por outro lado, calcula-se que em Moçambique uma em cada cinco mulheres seja demente, facto que se deve à sua vulnerabilidade a este tipo de doença.
De acordo com a psicóloga clínica do Ministério da Saúde, Palmira Fortunato, as mulheres carregam, sozinhas, o fardo dos problemas conjugais, sociais, traumas e conflitos familiares devido à sua extrema dependência em relação aos parceiros. Elas estão mais propensas à enfermidade por causa do desconhecimento dos seus sintomas e dos meios de prevenção.
Palmira Fortunato disse ao @Verdade, durante a feira organizada por ocasião da efeméride, que a saúde mental é um problema global porque afecta milhões de pessoas no planeta. As principais causas são o abuso do álcool e das drogas, perturbações emocionais, traumas, conflitos sociais e conjugais e a falta de tratamento de rotina.
Em Moçambique, segundo explica a nossa interlocutora, a maioria dos casos de depressão mental não é diagnosticada e tratada devido ao estigma e à falta de informação. Por conseguinte, é necessário intensificar o tratamento medicamentoso, os exercícios físicos de rotina e evitar perder noites.
Ademais, a psicóloga aponta que outro aspecto que contribui para a proliferação da doença é a falta, por parte dos moçambicanos, de capacidade para lidar com o stress quotidiano. Quando isso ocorre, há sempre espaço para um sofrimento intenso que culmina com o isolamento social, a diminuição da qualidade de vida e, em casos mais graves, com a morte.
Para fazer face ao problema, o Governo está a apostar na expansão dos serviços de saúde psiquiátrica no país com o propósito de facultar mecanismos de controlo, tratamento, acompanhamento médico e consciencialização da população sobre os perigos da doença e, quiçá, reduzir os suicídios.
Trata-se, nas palavras de Palmira Fortunato, de um trabalho que vai garantir os cuidados médicos mais próximo do doente. Mas o maior entrave para o combate com sucesso à demência é o fraco investimento no sector da saúde para se permitir o alargamento e apetrechamento das unidades hospitalares com um material moderno, eficaz e eficiente.
Há, porém, um outro sintoma de demência para o qual a psicóloga chama a atenção: “Muitos pensam que a falta de desejo sexual é algo normal. Estão enganados porque pode ser o começo de uma doença mental que precisa de ser cuidada”.
Famílias continuam a abandonar os pacientes nas psiquiatrias
Na cidade de Maputo existem 13 unidades sanitárias com serviços de psiquiatria e saúde mental. A directora do Hospital Psiquiátrico de Infulene, Serena Chachuaio, afirma que ainda há muitos pacientes abandonados pelas famílias alegadamente porque são incapazes de financiar os cuidados médicos regulares dos seus parentes.
Chachuaio não avança números, mas garante que a falta de informação sobre a aludida doença faz com que as famílias abandonem os seus parentes mesmo depois de reabilitados. Naquela unidade sanitária, estão internados 160 pacientes que sofrem de neuroses, esquizofrenia, epilepsia e outras enfermidades causadas pelo uso excessivo de substâncias tóxicas.
“É preciso aumentar o apoio aos programas de saúde”, director regional da OMS
Por seu turno, o director regional da OMS para África, Luís Gomes Sambo, considera que a perda súbita de rendimento, a violência, as guerras e a deslocação das populações, são as principais causas de depressão mental em todo o mundo.
Segundo aquele responsável, a erradicação deste problema depende do aumento do apoio aos programas para a saúde mental em África, alocando-se recursos humanos e financeiros adequados. Deve-se ainda desenvolver a capacidade e a integração da saúde mental nos cuidados de saúde primários, assim como nos serviços de saúde comunitária.
Os países africanos devem, refere Sambo, disponibilizar medicamentos e o acesso à informação adequada, com psicoterapia bem estruturada, medidas eficazes ao tratamento da depressão. É igualmente essencial reforçar a colaboração entre os governos, parceiros, organizações da sociedade civil e outros intervenientes relevantes para a melhoria da saúde mental na região.
Álcool e drogas contribuem para o aumento de doentes mentais
Na província de Nampula, o consumo excessivo do álcool e de diversas drogas está a contribuir para o aumento do número de pessoas com problemas mentais, situação que afecta a maior parte dos jovens.
De acordo com o chefe do Programa Provincial de Saúde Mental em Nampula, Celiano Manuel, as consequências do consumo abusivo de estupefacientes faz com que os jovens produzam pouco porque perdem a maior parte do seu tempo nas drogas, que, embora lícitas, são prejudiciais.
“A situação da saúde mental na província de Nampula não está boa se tivermos em conta que nas ruas e avenidas da cidade o número de doentes mentais tende a aumentar”, refere Celiano Manuel e acrescenta que há atrasados mentais, esquizofrénicos, epilépticos, entre outros.
Segundo especialistas, a maioria das doenças mentais não tem curas, apenas é controlada com a medicação. A epilepsia, por exemplo, é uma doença neurológica responsável por grande parte das consultas externas, mas raramente o paciente é internado.
O sector de saúde em Nampula redobrou esforços no sentido de controlar o aumento de doenças mentais através da implementação de um sistema de Hospitais-Dia para atender e tratar especificamente pessoas que padecem dessas enfermidades.
Naquela parcela do país está em estudo um projecto de construção de uma unidade sanitária para a desintoxicação dos alcoólatras.
Enquanto isso, dados em poder do @Verdade indicam que pelo menos 40 pacientes se encontram internadas no Hospital Clínico São João de Deus em Nampula necessitando de uma desintoxicação por causa do consumo excessivo de álcool, e 14 pessoas sofrem de doenças derivadas do uso abusivo de drogas.
“Uma pessoa em tratamento rigoroso de uma doença mental pode trabalhar normalmente, desde que não interrompa a administração da medicação”, salienta a fonte que adiante apela para que as pessoas estejam atentas à depressão. Nos últimos dois anos, segundo Celiano Manuel, houve um aumento significativo de consultas externas, o que reflecte o aumento de doenças mentais.
“Em 2010 foram registados 603 casos de problemas mentais, contra 778 em 2011. No primeiro semestre deste ano houve um registo de 335 doentes. Os números mostram que há uma evolução desta doença”, refere Manuel.
Palestras sobre a promoção da saúde mental
O Hospital Clínico São João de Deus em Nampula, em colaboração com a Direcção Provincial de Saúde de Nampula, está a realizar palestras em diversas comunidades da cidade com vista a mobilizar as populações para que estejam vigilantes em relação às doenças mentais.
As pessoas precisam de compreender que o cuidado de um doente mental não é apenas da responsabilidade do médico psiquiátrico, mas também, da sociedade que tem a missão de prestar um apoio social ao nível das comunidades, famílias e no sector de trabalho. Um indivíduo com um tratamento rigoroso pode controlar-se e realizar diversas actividades da vida social, mas deve evitar o stress, conflitos, fumar, e consumir bebidas alcoólicas.
Igualmente, decorrem debates com mensagens de sensibilização em diversos órgãos de comunicação radiofónicos. Nessas sessões de formação e informação pública é feita a educação sobre a necessidade de se apresentar as situações às entidades sanitárias para o respectivo tratamento.
O director do Hospital Clínico São João de Deus, José Paulo, revelou que a sua instituição pretende levar essas palestras para as comunidades dos distritos das províncias de Nampula, Niassa, Cabo Delgado e Zambézia de modo a transmitir mensagens de sensibilização às populações dessas regiões para a mudança de mentalidade no acompanhamento dos membros dos seus agregados familiares que sofrem de problemas mentais.
Mas, devido às limitações financeiras com que a sua instituição depara, as actividades estão a decorrer apenas na cidade de Nampula.
E para não isolar as regiões que não podemos abranger por causa da exiguidade de fundos, “estamos a trabalhar com técnicos de saúde dos distritos para prestar um suporte e consequente sensibilização das comunidades dos locais sob sua jurisdição de forma a fazer o acompanhamento dos doentes mentais”, acrescentou sublinhando que “não como nós queríamos, mas estamos a realizar de acordo com os meios disponíveis para o efeito”.
Mitos sobre a doença mental
Por seu turno, o chefe do programa provincial de saúde mental em Nampula, Celiano Manuel, considerou que muitas pessoas fazem uma interpretação errada das doenças mentais deduzindo que são originados por questões ligados à superstição. Isso leva a que muitos prefiram usar os medicamentos tradicionais sem lograr os resultados pretendidos.
“E quando descobrem que o tratamento que está a ser aplicado no seu familiar não está a surtir os efeitos desejados, recorrem aos cuidados médicos numa altura em que é bastante tarde para a cura, correndo-se o risco de a doença agravar-se, facto que complica o trabalho dos técnicos de saúde”, disse Celiano Manuel.
Matéria publicada no jornal @ Verdade em 12.10.10
Por Emilia Alves de Sousa
Uma matería com dados preocupantes que nos remete à uma reflexão sobre a saúde mental da mulher brasileira.
Dados do Ministério da Saúde apontam que 3% da população geral brasileira sofrem com transtornos mentais graves e persistentes, 6% apresentam transtornos psiquiátricos graves decorrentes do uso de álcool e outras drogas e 12% necessitam de algum atendimento, seja ele contínuo ou eventual. O índice de utilização dos serviços de saúde ainda é baixo, está em torno de 13%. A maioria das pessoas com algum transtorno mental não busca atendimento psiquiátrico, por razões que estão ligadas, muitas vezes, ao estigma, ao desconhecimento da doença, ao preconceito, à falta de treinamento das equipes para lidar com esses transtornos, à falta de serviços adequados para atendimento psiquiátrico, ao medo, entre outras.