A ilha, a onda, o comportamento e o esperançar…
O cientistas da previsão do tempo já haviam anunciado, com base em evidências, que iria cair um toró, na verdade, uma tempestade. Não seria uma chuva fina ou irregular. A Defesa Civil soltou um alerta a todos que trabalhavam na ilha, que aquele grande arquipélago iria ser invadido devido ao fenômeno de uma tempestade causadora de uma grande onda com características de tsunami. A orientação era que todos paralisassem o trabalho na ilha por um certo período de tempo. Houve grande resistência movida por interesses econômicos diversos. O tempo fechou literalmente, mas no início o vento e a chuva não pareciam confirmar as evidências. Uma parte dos trabalhadores e a maioria dos donos dos negócios menosprezaram os alertas de risco. A Defesa Civil insistia: saiam da ilha! Vão pra suas casas!
Felizmente, muitos se deixaram orientar pela prudência e precaução. Infelizmente, muitos outros, apesar das evidências meteorológicas agiram como o personagem bíblico Tomé: “ver para crer”, baseados no acaso, orientados por fanáticos e por usurpadores dos negócios e gestores centrais da grande ilha. Optaram por negar a ciência e se deixar orientar por vozes insensatas e falsos porta vozes do fenômeno.
O grupo dos prudentes e precavidos assistiu de suas casas a onda gigante se aproximando da ilha. O grupo dos insensatos não conseguiu ver a onda gigante, pois para quem não leva em conta as evidências e as orientações a onda parecia invisível. Mas quando a onda chegou já era tarde pra adotar o comportamento que fora recomendado.
Todos tomaram conhecimento que o fenômeno já houvera ocorrido em diversas ilhas de diversas regiões deixando um rastro de destruição e morte.
Diante da situação e dos alertas sucessivos alguém caiu em si, buscou se proteger e chegar em casa. Mas a aproximação perigosa do risco a que se permitiu o levou a atrair para si e para dentro de sua casa o micro fenômeno do infortúnio da grande onda.
Outros conseguiram apesar do risco livrar-se a tempo. A grade onda não era uma chuvinha como apregoavam os inconsequentes.
A tempestade não atingiu as casas, a grande onda parecia ter um destino que era mexer com as estruturas da grande ilha e mostrar suas fragilidades e desvios provocados deliberadamente no curso histórico.
As pessoas que ficaram em casa se protegeram da onda e tiveram tempo de pensar sobre como agir depois que a onda passasse.
As pessoas que foram arrastadas pela onda, muitas delas foram conduzidas por falsos líderes ou pela fé ingênua. A necessidade de sobrevivência também levou muitos ao limite do risco, mas outros foram movidos pelo apelo dos negócios. A ilha do valor econômico venceu a casa do cuidado e da defesa da vida.
Depois que a onda passou era hora de refletir sobre as perdas e voltar ao trabalho, de olhar o que fazer com aquela ilha e pensar as relações. Que ilha tínhamos antes? que ilha restou?… Que ilha queremos? Que tal pensar que a ilha pode deixar de ser ilha? A ilha da injustiça social e da desigualdade extrema parecia uma onda sem fim e abrangia o oceano inteiro. A ilha da exploração dos recursos naturais não era somente uma ilha… A ilha da intolerância e da violência parecia um mar em chamas. E foram estes fenômenos estruturais que geraram a grande onda de ameaça à vida.
Esta parábola dos tempos urgentes não é apenas um sinal de alerta. Que as casas não sejam uma ilha! Que as pessoas fiquem em casa e quando for a hora de sair pra rua e voltar ao trabalho não façam de conta que a ilha devastada pela onda do desamor humano não vai precisar ser transformada e deixar de ser uma ilha…
São várias pandemias numa só.
O coronavírus é o resultado das outras…
Por Elias José da Silva
#educadorpoetaelias
Por Cristine Nobre Leite
Uma grande parábola!
Parabéns Elias!
Forte abraço!